domingo, maio 09, 2010
MAMÃEZINHA QUERIDA (Mommie Dearest)
Esta produção é um exemplo concreto do que os maus tratos de uma mãe e o rancor de uma filha são capazes. MAMÃEZINHA QUERIDA (1981), de Frank Perry, causou polêmica na época de sua realização e exibição. Realmente é um filme bastante incômodo, pois lida, aparentemente sem atenuantes, com um lado pouco conhecido de Joan Crawford, muito bem interpretada por Faye Dunaway, num dos melhores papéis de sua carreira. Ela, inclusive, está muito parecida fisicamente com Joan, graças a um belo trabalho de maquiagem.
Não me considero um fã e grande conhecedor do trabalho de Crawford. Os trabalhos que vi dela sempre foram movidos mais pelo interesse pelo diretor em questão (Aldrich, Cukor, Ray, Browning) do que pela atriz em si. Mesmo assim, durante o filme, em alguns momentos ficava incomodado pelo fato de não dizerem exatamente em que ano ela estava. Só quando vi a cena da cerimônia do Oscar, que ela assistiu em casa, ouvindo rádio com os filhos, foi que eu tive uma ideia de que ano estava – no caso, 1946, quando ela ganhou o Oscar de melhor atriz por ALMA EM SUPLÍCIO, de Michael Curtiz -, que comecei a me situar um pouco. Senti falta, inclusive, de referências mais explícitas de sua fase "decadente", quando teve de apelar para o gênero horror, que é um de seus mais interessantes períodos, ainda que desconsiderado pelos preconceituosos.
Mas isso tem uma razão de ser: o filme não é sobre Crawford. Aliás, até é, mas é principalmente sobre sua relação com a filha Christina. A menina foi adotada e logo teve que se submeter aos caprichos e à disciplina exagerada da mãe, que tinha umas crises de quase loucura. Alguns detalhes dos maus tratos com a menina nem são assim tão escandalosos, mas como o filme é quase um inventário do que de ruim ela sofreu nas mãos da mãe, tudo é aproveitado. Talvez a pior coisa tenha sido internar a filha numa escola de freiras por achar que ela estava se depravando depois de ter sido flagrada deitada com um dos rapazes do colégio interno. Mas o que mais dói de ver é quando ela pune Christina, ainda criança, por causa de uns cabides de arame que encontra no guarda-roupa.
Talvez o problema maior da imagem de Crawford no filme nem seja sua relação com a bebida, que pode muito bem ser justificada com o fato de ela estar se sentindo solitária e amarga, nem a sua extrema mania de limpeza, que pode ser diagnosticada como um problema psiquiátrico, mas principalmente sua postura arrogante e exageradamente ligada à imagem de riqueza. Talvez o fato de ter sido considerada a rainha de Hollywood por um período tenha lhe subido a cabeça.
MAMÃEZINHA QUERIDA ganhou uma aura de maldito, sendo desprezado pela maior parte da crítica da época, além de ter sido meio que responsável pela decadência da carreira de Faye Dunaway. Acabou ficando num limbo de quase desconhecimento e é um filme que merece uma revisão mais respeitosa.
P.S.: A apreciação do filme se deu depois de eu ter visto um interessante post de Chico Fireman: um top 20 destacando as mães do cinema.
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