quinta-feira, março 04, 2010

O AMOR SEGUNDO B. SCHIANBERG























"O segredo não é descobrir o que as pessoas escondem, e sim entender o que elas mostram."
Benjamin Schianberg


Alguém que entra na sala de cinema para assistir O AMOR SEGUNDO B. SCHIANBERG (2010) sem saber do que se trata vai encontrar um objeto bem estranho pela frente. A começar pelo título: afinal, quem é B. Schianberg? O que ele diz do amor? Por que a imagem é tão granulada, o som ruim e os enquadramentos estranhos? Além do mais, o filme começa sem muitas explicações. O espectador desinformado não sabe da experiência de Beto Brant de fazer uma espécie de reality show alternativo. E mesmo para quem sabe um pouco do projeto, vêm as dúvidas. Até onde vai a liberdade que o diretor dá para que seus "atores" façam o que quiserem? Teria ele dado instruções? Ou ao menos incentivado algo? Ou deixou para o jovem casal pintar e bordar e esperar pelo elemento acaso gerar grandes momentos? Ainda não tenho respostas para todas essas perguntas, mas fiquei sabendo que o tal sujeito do título é Benjamin Schianberg, que só existe como personagem do romance "Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios", de Marçal Aquino. O personagem é uma espécie de filósofo do amor e achei que o trecho descrito acima resume um pouco o sentido do filme. Aquino já tem um forte vínculo com Brant, tendo roteirizado o próprio romance em O INVASOR (2002), uma das melhores obras do cineasta e um filme que fechou um ciclo de flerte com o cinema policial, iniciado com OS MATADORES (1997).

A partir de CRIME DELICADO (2005) e CÃO SEM DONO (2009), Brant passou a seguir outro rumo. Um rumo bem mais ousado, experimental, distante do cinema comercial. CRIME DELICADO, por exemplo, namorava explicitamente o teatro. O AMOR SEGUNDO B. SCHIANBERG flerta com as artes plásticas também. Traz discussões interessantes sobre a importância da arte em detrimento da vida. Gero Camilo, que aparece como um dos amigos do casal no filme, fala que a arte nunca será mais importante que a vida, já que sem a vida a arte não existiria. Mas até que o filme não tem muito papo-cabeça, não.

Os protagonistas são um ator de teatro e uma videomaker. A beleza dos corpos, que já havia sido explorada nos dois trabalhos anteriores de Brant continua no novo filme. Seus corpos nus são expostos e há um interessante diálogo acerca do valor da juventude. A bela videomaker beija o próprio corpo, mesmo sabendo de sua efemeridade. Inclusive, confesso que um dos pontos altos do filme para mim é a sequência em que ela tira a roupa para filmar uma de suas experimentações como artista. O resultado da experiência do espelho quebrado pode ser visto no final, quando vemos o trabalho dela como videoartista.

Pensei que ia achar o filme mais monótono, mas até que é bastante interessante, embora no final não tenha me dito muita coisa. Permaneceu um objeto estranho. Por outro lado, eu gosto de objetos estranhos. E uma experiência desse tipo, mesmo que não tenha resultado numa grande obra, é bastante válida. E diferente de um Big Brother, que dá tempo para que o espectador se familiarize com os participantes, a ponto de ficar ollhando-os dormindo ou não fazendo nada de interessante num pay-per-view, tanto o filme quanto a minissérie são trechos de um vasto material, filmado de várias câmeras espalhadas pelo apartamento. O meu lado fã de filmes exploitation sentiu mais falta de momentos mais eróticos. Mas valeu pelo enigmático do que é mostrado e do que é escondido e pela experiência original.

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