quarta-feira, abril 08, 2009

PEPI, LUCI, BOM E OUTRAS GAROTAS DE MONTÃO (Pepi, Luci, Bom y Otras Chicas del Montón)























A leitura do livro de entrevistas "Conversas com Almodóvar" tem me incentivado a passear com mais cuidado pela obra de Pedro Almodóvar e finalmente ver seus trabalhos iniciais, que nunca haviam me despertado a atenção. O que é uma injustiça, afinal, PEPI, LUCI, BOM E OUTRAS GAROTAS DE MONTÃO (1980), o longa-metragem de estreia de Almodóvar, já mostrava o enorme talento do cineasta. Trata-se de uma obra anárquica, punk, inclusive no uso da música, que no início da década de 80 era algo entre o punk e a new wave. O clima libertino e libertário é uma festa e o filme tem uma aura de alegria que se apresentaria nas obras posteriores do diretor, mas que estaria menos presente na fase madura, pós A FLOR DO MEU SEGREDO (1995), onde a melancolia se destaca.

O primeiro longa de Almodóvar já trazia a sua mais fiel colaboradora, Carmen Maura, no papel de Pepi, uma jovem sapeca que colecionava plantinhas de maconha em seu apartamento e por isso é ameaçada por um policial, que se aproveita da situação para abusar sexualmente dela. Além do estupro, o homem tira a virgindade da jovem, que ela intencionava usar para fins comerciais. Com o objetivo de se vingar do homem, ela lhe prepara uma emboscada. O que ela não esperava era que o policial tivesse um irmão gêmeo, que é quem acaba recebendo as bordoadas da turma de Pepi. Luci é a esposa do policial, que, mesmo sendo mais velha que Pepi e Bom (a cantora de rock), sente-se fascinada pelo universo da turma. Luci fica ainda mais maravilhada quando Bom mija em seu rosto, coisa que seu marido ingrato e insensível nunca fez. Luci é masoquista e frustrada com o marido, pois ele não dá as merecidas porradas nela. Se fosse no Brasil, a personagem de Luci pareceria saída de uma obra de Nelson Rodrigues.

PEPI, LUCI E BOM... ainda oferece momentos de sacanagem bem divertidos, como na cena da chamada "ereções gerais", uma competição onde ganha quem tem o maior pênis. Os travestis, figuras queridas nos filmes de Almodóvar, já se encontram presentes nessa sua obra de estreia. Há, inclusive, dois personagens bem interessantes que é a de um casal formado por um sujeito casado com um travesti, que de vez em quando deixa a barba por fazer. O visual do filme remete às histórias em quadrinhos e não é por acaso, já que algumas sequências foram originalmente pensadas como quadrinhos. Inclusive, a ideia das "ereções gerais" havia saído antes uma fotonovela e quem encorajou Almodóvar para transformá-la em filme foi Carmen Maura. O final aponta uma mudança do rock para o bolero que se tornaria presente nas obras seguintes de Almodóvar, até pelo crescente caráter melancólico que elas adquiririam com o passar dos anos. Cecilia Roth, uma das grandes atrizes latinas da atualidade, e também colaboradora de Almodóvar, aparece no filme em papel pequeno.

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