terça-feira, abril 07, 2009

DÚVIDA (Doubt)























Interessante eu ter visto dois filmes que tratam, ainda que de maneiras distintas, da temática da educação num mesmo fim de semana. Enquanto que em ENTRE OS MUROS DA ESCOLA vemos o resultado de uma educação liberal dentro da sociedade preguiçosa e arisca da atualidade, DÚVIDA (2008) se passa nos Estados Unidos do início dos anos 60, pouco depois do assassinato do Presidente Kennnedy. No filme, vemos a educação rigorosa de uma escola de padres e freiras que tem como principais líderes o padre Flynn (Philip Seymour Hoffman) e a implacável irmã Aloysius Beauvier, interpretada com brilhantismo por Meryl Streep. No centro, temos a jovem e inocente irmã James (Amy Adams, adorável). O filme trata de um possível caso de abuso sexual envolvendo o padre e um garoto negro. Irmã Aloysius, mais do que numa cruzada em favor da moral, entra numa cruzada pessoal contra o padre Flynn. Não temos absoluta certeza da inocência do padre no caso, mas de uma coisa temos certeza: da crueldade da irmã Aloysius.

DÚVIDA é a segunda incursão como diretor de John Patrick Shanley. A primeira foi há dezoito anos, com JOE CONTRA O VULCÃO (1990). Shanley é autor da peça que deu origem ao filme e assume com competência a direção de um longa ambicioso e bem conduzido no aspecto da dramaturgia, com dois oscarizados e grandes astros nos papeis principais. É um filme adulto, acadêmico, com cara de Oscar. Mais até do que qualquer um dos indicados à categoria principal. E dada a temática ligada à Igreja Católica, a maior parte do público que quase lotou a sessão no Espaço Unibanco em plena duas e meia da tarde de domingo era formada por adultos e idosos. De final tocante, o filme evita escândalos ou chocar a audiência, preferindo seguir o caminho dos dramas das décadas de 40 e 50.

O fato de o padre Flynn ser um sujeito com uma mente voltada para a modernidade que estava chegando e pregava a necessidade de ser mais amável e menos carrasco é representativo de uma época de mudanças. As cenas que mostram o vento soprando com força e jogando centenas de folhas de árvores caídas no chão são de uma beleza que fazem com que o filme deixe de ser apenas uma mera adaptação de uma peça de teatro, passando longe de um "teatro filmado". Ainda assim, a direção do filme é discreta, deixando espaço para o trio de astros brilharem, cada um à sua maneira.

Uma coisa que eu não sabia (e ainda não sei se é uma regra ainda vigente) é o que diz respeito ao fato de que as freiras não podem ser tocadas. Há uma cena na qual uma das crianças da escola toca a jovem freira para lhe fazer uma pergunta - a irmã James (a mais bela freira que eu vi em cinema mainstream desde Ingrid Bergman em OS SINOS DE SANTA MARIA) - e o garoto é logo repreendido pela líder das freiras. Achei um dado curioso. Também é curioso como o filme mostra o quanto o regime repressivo das freiras é muito mais forte do que o dos padres, explicitado numa sequência de jantar. Enquanto os padres bebem vinho, falam alto, gargalham e fumam, as freiras, tensas e caladas, comem o seu prato de comida aparentemente sem sabor e bebem um copo de leite. Seria isso apenas fruto de uma sociedade machista ou uma natural flexibilidade da mulher em se ajustar a situações mais difíceis da vida?

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