domingo, novembro 02, 2008

MARCELO CAMELO: SHOW DA TURNÊ 'SOU/NÓS'



Já estava até conformado que não iria para o show. Perguntara aos amigos se alguém estaria interessado em ir comigo, mas a resposta foi negativa - é, diferente de cinema, eu não estou acostumado a ir a show sozinho. Um dos amigos, inclusive, quando eu falei o nome de Marcelo Camelo, respondeu com uma pergunta: "quem?". Mas como minha irmã, também fã de Los Hermanos, resolveu de última hora ir, aí eu aproveitei a oportunidade. Chegamos lá no Dragão do Mar em cima da hora mas conseguimos comprar ingresso com cambista pelo mesmo preço da bilheteria e só perdemos o comecinho do show, uma canção. A minha constatação ao chegar lá e ver tantos carros e tanta movimentação no local é saber que um disco de tão difícil degustação como esse primeiro álbum solo de Camelo não foi motivo suficiente para espantar os fãs do Los Hermanos, que continuam sedentos de material produzido pelos membros mais ativos da banda (Camelo e Rodrigo Amarante).

Quanto ao show, eu fiquei positivamente surpreso. As canções do álbum crescem muito ao vivo, valorizam-se mais. Mesmo momentos em que Camelo e sua banda fazem uma experimentação sonora longa, corajosa e barulhenta que deixa a todos em estado quase hipnótico, mesmo nesses momentos, o público, constituído, acredito eu, de órfãos do Los Hermanos, pareceu interessado e reagiu com respeito à vontade do cantor/compositor. Não deixa de ser corajoso também o fato de Camelo encerrar a primeira parte do seu show com "Despedida", que nem havia sido gravada por ele, mas composta para Maria Rita. É uma canção que nem me agrada tanto, fala de mar, me lembra os cultos afro-brasileiros da Bahia, o que não deixa de ser uma aproximação maior com Dorival Caymmi, que é o nome a que mais se imagina ao ouvir o álbum de Camelo, que tem uma preguiça, uma falta de pressa, característica desse baiano tão respeitado por muitos e tão pouco conhecido por mim.

No meio de tantas canções lentas e letárgicas ("Téo e a gaivota", "Passeando"), mas cuja delicadeza e calor humano do público se tornaram animadas e mais interessantes, um dos momentos mais animados da noite foi na hora em que ele tocou "Copacabana", a marchinha de carnaval que diz que o "bairro do Peixoto é um barato e os velhinhos são bons de papo", que demonstra um respeito e uma vontade de estar junto com os mais velhos. "Janta", que foi composta com participação especial de Mallu Magalhães, sofreu com a falta da moça, mas como se trata de uma das canções mais acessíveis do disco, acredito que foi um dos momentos mais alegres. Claro que em termos de animação, o que mais deixava o público feliz era as poucas vezes em que Camelo enxertava composições suas para o Los Hermanos dentro do show, quando o povo parecia cantar em uníssono. A primeira delas foi "Pois é", do álbum 4, o disco que mostra mais explicitamente a forte cisão e diferença bem aparente entre os estilos e os caminhos que Camelo e Amarante trilhariam. Lembrou-me os últimos álbuns dos Beatles, que já deixavam claro que Paul e John estavam cada vez mais individualizados e menos unidos como banda.

As outras canções dos Los Hermanos que ele cantou foram: "Morena", "A outra", "Além do que se vê" e, encerrando o show, a canção que abria a turnê do álbum 4, "Dois barcos". Uma canção bem sombria para encerrar um show. Na verdade, o show foi encerrado no segundo bis. Camelo, sem conseguir fazer com que o povo arredasse o pé da Praça Verde, voltou para tocar apenas mais uma no violão e acabou tocando duas. Um dos momentos mais bonitos da noite foi quando ele cantou "Santa Chuva", canção que talvez se não tivesse passado pelo primeiro disco da Maria Rita, seria recebida talvez tão friamente quanto as demais do álbum solo. Mas como ele prometeu que voltaria aqui em breve, acredito que no seu retorno o disco já vai estar azeitado e muita gente já vai saber de cor as canções. Eu, pelo menos, voltei do show valorizando mais o disco novo, que pretendo ouvir com mais carinho e atenção a partir de agora.

P.S.: A foto acima foi tirada pela minha querida irmã Adaila, que fez a gentileza de ir lá pertinho do palco para poder resultar numa foto mais decente. Eu achei que ficou ótima.

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