quinta-feira, outubro 30, 2008
O PODEROSO CHEFÃO – PARTE II (The Godfather: Part II)
Faz mais de dois anos que eu fiz a revisão de O PODEROSO CHEFÃO (1972) e não imaginava que passaria esse tempo todo para ver a sua seqüência, O PODEROSO CHEFÃO – PARTE II (1974), que havia visto pela única vez há cerca de vinte anos num Corujão na Rede Globo. Lembro que comecei a ver o filme na madrugada e, apesar da longa duração e de o filme contar com um andamento lento, eu não conseguia desligar a TV – na época ainda não contava com o conforto do videocassete em casa e não tinha esse negócio de deixar para ver o restante no dia seguinte. Da mesma forma, não achava que teria paciência de ver o filme todo de uma só sentada em DVD. Mas a obra-prima de Francis Ford Coppola é tão poderosa que termina o filme e a gente ainda fica sentado absorto, olhando os créditos do filme no final, admirado com o que acabou de ver e curtindo a bela música de Nino Rota.
Acredito que demorei tanto para rever o filme porque sabia que iria querer rever com os comentários em áudio do Coppola, gastando, portanto, mais três horas e vinte minutos do meu tempo. Mas a revisão com os comentários, eu pude fazer em três etapas e foi muito bom, aprendi muito sobre a produção. Com tanto tempo entre a primeira vez que vi o filme e essa segunda, obviamente era quase como se eu estivesse vendo o filme pela primeira vez. Algumas cenas permaneceram em minha memória, como a morte de Fredo Corleone no barco e o jovem Don Vito andando sobre os telhados de Nova York, mas a maior parte do filme ficou nublada em minha memória.
Interessante que inicialmente Coppola não queria fazer o filme, pois a experiência de dirigir o primeiro não havia sido muito agradável, com os executivos da Paramount na cola dele, enchendo o saco, contrariando até mesmo as suas escolhas para papéis fundamentais como Marlon Brando e Al Pacino. Então, para a segunda parte, o diretor disse que não dirigiria, mas que poderia produzir e convidar um talentoso jovem cineasta para a tarefa. Esse diretor seria ninguém menos que Martin Scorsese. Mas depois os produtores não quiseram mais outro, teria que ser ele mesmo e, dessa vez, ele poderia fazer qualquer exigência.
A primeira imagem do filme, do jovem Al Pacino, convertido agora a chefão, ao som da música familiar de Nino Rota pega o espectador de imediato. Mas o filme começa de verdade na Sicília, nos tempos da infância de Vito Corleone, quando ele teve que fugir depois de ver sua mãe assassinada por um chefão local, seguindo para os Estados Unidos no início do século, num tempo em que o país tinha uma abertura maior para os emigrantes, que foram quem afinal ajudaram a construir o país. E assim, o filme vai alternando as aventuras de Don Vito Corleone com a continuação do reinado do agora frio e perverso Michael Corleone. As cenas com Michael levam a maior parte da metragem do filme.
Interessante que as duas partes do filme flagram momentos históricos da História mundial, como por exemplo a cena em que Michael Corleone vê o presidente de Cuba anunciando sua renúncia numa noite de ano novo, para dar lugar aos revolucionários liderados por Fidel Castro e evitar mais derramamento de sangue. Algumas seqüências funcionam como homenagens ao primeiro filme, com a longa seqüência da festa de primeira comunhão do filho de Michael, Anthony. Assim como no primeiro filme, enquanto a festa rolava, ocorriam as tais reuniões privadas com o novo "padrinho".
Do primeiro filme, quase toda a turma retorna: Além de Al Pacino, temos de volta Robert Duvall, Diane Keaton, John Cazale, Talia Shire e até mesmo James Caan, o filho de Don Vito assassinado no primeiro filme, aparece. Só Marlon Brando que não quis participar do belo flashback final, mas Coppola acabou solucionando a ausência de Brando de maneira bem criativa.
E por falar em Brando, fantástico como Robert De Niro trouxe elementos sutis de sua personificação Don Vito para constituir o personagem jovem, em momento de construção de uma vida de crimes e de uma vida também a serviço da família. E, ao mesmo tempo em que Don Vito soube criar e manter unida a sua família, paralelamente, Michael vai destruindo a sua, ainda que tivesse a intenção de protegê-la. Tanto De Niro quanto Pacino foram indicados ao Oscar, mas só De Niro ganhou a estatueta, de ator coadjuvante.
O PODEROSO CHEFÃO – PARTE II é um filme muito mais ambicioso que o primeiro, até porque a Paramount deu toda a liberdade para Coppola fazer o que quiser. Assim, Coppola aproveitou e o filmou em locações em diversas cidades americanas e até fora do país como na Sicília e na República Dominicana, já que, por razões óbvias, não foi possível filmar em Cuba. Há muito a se falar sobre o filme, sobre como cada personagem tem papel fundamental para a trama, como Robert Duvall está excelente como o advogado da família, dando uma dignidade que se contrapõe à sujeira que é o negócio da máfia, como as tramas são cuidadosamente elaboradas ou como a cena da separação de Michael e Kay é dolorosa. Mas se eu for falar tudo que me lembro ou gosto do filme o texto vai ficar enorme, então paro por aqui e deixo meus respeitos a essa obra magistral e continuo na esperança do retorno de Coppola à boa forma.
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