segunda-feira, outubro 27, 2008
MEU IRMÃO É FILHO ÚNICO (Mio Fratello È Figlio Unico)
Interessante notar o quanto a Itália tem uma forte tradição em tratar de temas políticos, que o digam os grandes exemplares do gênero nos anos 70, e como se pode mais uma vez se comprovar no belo MEU IRMÃO É FILHO ÚNICO (2007), de Daniele Luchetti. Como se tem notado, o cinema italiano há tempos vem passando por uma crise criativa e uma falta de grandes diretores novos. Os melhores filmes italianos surgidos nos últimos anos são de diretores da geração sessentista, como Marco Bellocchio e Bernardo Bertolucci, que curiosamente também trataram de política em seus últimos trabalhos (BOM DIA, NOITE e OS SONHADORES). Só de vez em quando que surgem filmes interessantes como esse.
Mas o que eu estou querendo dizer, ou apenas supor, é que eu acredito que o povo italiano foi - e é - muito mais politizado que o povo brasileiro. É muito comum vermos filmes brasileiros tratando da ditadura militar e da resistência e isso pode passar uma impressão para as novas gerações de que toda a geração que viveu nos tempos da ditadura estava de alguma maneira envolvida com aquilo, quando na verdade o que existia era uma quase que completa ignorância na sociedade com o que estava de fato acontecendo. O fato de o Brasil ser um país bem maior e de que os meios de comunicação eram censurados também contribuiam para isso.
Na Itália, a situação era um pouco diferente, já que o país havia passado por uma guerra cruel, que dividiu o país entre extremistas de direita, os fascistas, e os de esquerda, os comunistas. MEU IRMÃO É FILHO ÚNICO trata desse assunto, abordando-o com certa leveza e pondo o contexto político mais como pano de fundo para o relacionamento entre dois irmãos de uma típica família italiana. Por típica, quero dizer, dessas em que todo mundo fala alto, fica gritando e dando pontapés e porradas uns nos outros. (Falo isso com todo o respeito que eu tenho para com os nossos irmãos carcamanos, que são mais parecidos nesse aspecto com a gente do que os portugueses.)
O protagonista é Accio, o irmão caçula que começa o filme estudando para ser padre num seminário, mas que resolve sair depois que se deixa levar pelas tentações da carne, através de uma foto de uma bela moça que o seu irmão mais velho trouxe para ele. E haja masturbações à noite. E ele se sentia depois culpado e contava para os padres, que achavam aquilo normal. Aí depois de ver a hipocrisia dentro do seminário, ele resolve voltar para casa, mas devido à influência da igreja, ele já havia criado uma simpatia pelo fascismo, já que os comunistas eram anti-cristãos. Assim, ele se filia a um partido fascista e fica de briga com o irmão mais velho, que é comunista e organizador de greves na fábrica onde trabalha. Para aumentar ainda mais a disputa entre os irmãos, surge a linda Francesca, interpretada por Diane Fleri, um nome que deve ser anotado, pois a menina é realmente encantadora, com um sorriso lindo. E como o filme é contado pelo ponto de vista do irmão mais novo, temos a tendência a torcer por ele ou pelo menos partilhar um pouco de sua dor de estar apaixonado pela namorada do irmão e não poder fazer muita coisa, a não ser agüentar a tristeza e o gancho no coração. E é graças a esse aspecto emocional que o filme conquista o espectador, apesar de eu também ter gostado de ver e aprender um pouco mais sobre esse contexto sócio-político da Itália nos anos 60.
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