domingo, outubro 26, 2008

MEU FILHO É MEU RIVAL (Come and Get it)



Depois do entusiasmo de DUAS ALMAS SE ENCONTRAM (1935), vem a decepção de MEU FILHO É MEU RIVAL (1936), filme quase que inteiramente dirigido por Howard Hawks, mas depois concluído por William Wyler. O que mais me deixou incomodado no filme foi o tom excessivamente melodramático da versão antiga de "Love me Tender", cuja versão original é mais antiga do que eu imaginava. Trata-se de "Aura Lee", uma canção triste dos tempos da Guerra Civil americana. E o filme não se contenta em mostrar Frances Farmer cantando-a duas vezes no saloon: depois ela canta de novo e o filme ainda utiliza a música como fundo musical dezenas de vezes. Acho que não vou querer ouvir o Elvis cantando essa música tão cedo.

Claro que há muito de Hawks em MEU FILHO É MEU RIVAL, afinal, ele mesmo admitiu que o filme foi quase todo dirigido por ele, mas houve uma série de contratempos que fez com que ele largasse a produção. Principalmente as interferências do produtor Samuel Goldwin. Aliás, foi a primeira vez que eu vi um filme em que o último nome apresentado nos créditos iniciais é o do produtor. Samuel Goldwin, nesse sentido, devia ser tão controlador quanto David O. Selznick, que também tem essa fama e com quem Hawks já havia trabalhado e não gostado nada durante as filmagens de VIVA VILLA! (1934). Em VIVA VILLA!, aliás, o nome de Hawks é sequer creditado. Então, não dá pra saber qual dos dois produtores era mais carrasco e control freak. O que se nota é que havia, naqueles anos 30, um embate muito forte entre produtor e diretor. Não que ainda não haja, mas depois da "política dos autores", os produtores talvez tenham começado a acreditar que o verdadeiro "dono" do filme é afinal o diretor.

E raramente esses filmes onde os produtores demitem diretores a torto e a direito dão certo. Talvez E O VENTO LEVOU (do Selznick) seja um dos raros casos em que as coisas funcionaram bem no produto final. No caso de MEU FILHO É MEU RIVAL, porém, que apesar de tudo tem os seus momentos, e que eu ainda pretendo destacar, é um exemplo de como esse tipo de embate pode prejudicar o resultado final. E para aqueles que gostam do filme, quero dizer que uma das suas principais qualidades é a semelhança com UM CORPO QUE CAI, de Alfred Hitchcock, uma das obras mais influentes da história do cinema. Fico imaginado se o mestre do suspense não foi influenciado pela estória desse filme.

Na trama, que começa em fins do século XIX, Barney Glasgow (Edward Arnold) é um cortador de árvores de uma indústria de papéis que detém uma sincera amizade com Swan, seu colega de trabalho interpretado por Walter Brennan (Oscar de melhor ator coadjuvante pelo papel). Os dois conhecem Lotta (Frances Farmer), uma jovem e bela mulher em um saloon da fria cidade onde eles estão trabalhando, e Barney, como tinha um espírito de tomador, leva a mulher para si. Ela fica apaixonada por ele, mas depois de um tempo ele a abandona para se casar com a filha do dono da empresa onde trabalha. Ela, triste e desamparada, aceita se casar com Swan, que também a amava. Passados vinte anos e já no início do século XX, Barney, agora um empresário milionário da indústria de papel, recebe uma carta do amigo do passado e resolve visitá-lo. O que o deixa surpreso e obcecado é que a filha de Swan se parece muitíssimo com a mãe, Lotta, então morta. Pra completar, o pai ainda a batizou com o mesmo nome. Assim, Frances Farmer tem papel duplo no filme. Barney resolve, então, levar a família de Swan para Chicago, com a intenção de ficar com a jovem pra ele. No fim das contas, quem acaba atrapalhando seus planos é o próprio filho (Joel McCrea, um galã da época), que fica logo encantado com a beleza da moça. E como ela também cai de amores pelo rapaz, tudo leva a crer que ele leva mais vantagem na disputa com o pai. A estória apresenta similaridades com as tramas de O TUBARÃO e DUAS ALMAS SE ENCONTRAM. Nos três filmes, os homens mais velhos e perversos acabam perdendo a mulher para rapazes jovens de coração puro.

No que se refere aos bastidores do filme, conforme li no capítulo destinado ao filme do livro "Howard Hawks: The Grey Fox of Hollywood", de Todd McCarthy, soube que o papel duplo de Lotta quase pertenceu a Miriam Hopkins, a belíssima moça de DUAS ALMAS SE ENCONTRAM. Porém, vendo um musical da Paramount, Hawks se encantou por Frances Farmer. Assinado o contrato, Hawks chegou a visitar com ela as ruas cheias de prostitutas de Los Angeles para que Farmer obtivesse inspiração para o papel da dançarina de saloon. Quem acabou a inspirando foi uma garçonete de bar que serviu como modelo para a personagem. Quanto às desavenças entre Hawks e Meyer, a história é grande demais para ser contada aqui, mas devido ao atrito, William Wyler assumiu o filme até onde a produção havia parado. A meia hora final do filme é mais parecida com os filmes de Wyler, mais enfeitados, com uma maior ênfase na decoração dos espaços e no sentimentalismo. Mas acredito que Wyler também influenciou na montagem final, já que nem mesmo as seqüências iniciais têm a cara de Hawks, que raramente faz filmes tão açucarados.

P.S.: Saiu o trailer do novo Clint Eastwood, GRAN TORINO!! Uau!! The old Clint is the man! O filme estréia nos Estados Unidos em dezembro e deve aportar nos nossos cinemas no começo do ano que vem.

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