terça-feira, agosto 26, 2008

DIÁRIO DOS MORTOS (Diary of the Dead)



Noite de domingo. A intenção era reunir uma turma legal para a sessão única de DIÁRIO DOS MORTOS (2007), que aconteceria no domingo à noite, no Shopping Del Paseo. Seria a primeira exibição em Fortaleza organizada através do MovieMobz, um projeto de mobilização de cinéfilos para que filmes que não conseguiram distribuição, ou mesmo filmes clássicos, possam ser vistos na tela do cinema, em exibição digital da Rain. Eu já havia me cadastrado no site e votado no filme do Romero, que pelo andar da carruagem deve ir direto para dvd. Eu mesmo estava um pouco cansado e acho que se não tivesse uma turma ou alguém que fosse comigo, eu acabaria desistindo. Porém, se eu não fosse, talvez me sentisse um pouco culpado, afinal, eu tinha votado no filme. Assim, confirmei com a Bia, que disse que ia para a sessão com o Primati. Eu aproveitaria a oportunidade para me despedir dele. Depois, liguei para o Alex, o organizador da sessão Malditos da Meia-Noite, e ele falou que ia também e que a Carol já estava lá no apartamento dele com uma turma, vendo filmes estranhos e tomando cerveja. E fui logo até lá para levar o dvd-r que tinha prometido gravar pra ele para, de lá, irmos até o Del Paseo. A Carol acabou desistindo. Estava cansada e sem dinheiro e a Bia e o Primati também não apareceram, segundo eles, pelo mesmo motivo. A turma se resumiu então ao Alex, um amigo dele cujo nome não me recordo e eu. Havia pouca gente na sala. No final da sessão, uma jornalista do jornal O Povo estava à procura de alguém que tinha votado no filme pelo site e por incrível que pareça eu era um único que estava ali que tinha de fato votado. Aí ela fez uma entrevistinha rápida comigo enquanto nos dirigíamos ao estacionamento. Pra quem se interessar, a matéria que ela escreveu saiu hoje no jornal O Povo. Mas chega de "diarinho" e falemos de um outro diário: o DIÁRIO DOS MORTOS (2007).

Sempre em sintonia com o que está acontecendo no mundo, George A. Romero volta a fazer um filme de zumbis em DIÁRIO DOS MORTOS, que corre por fora de seu ciclo anterior, formado por A NOITE DOS MORTOS-VIVOS (1968), DESPERTAR DOS MORTOS (1978), DIA DOS MORTOS (1985) e TERRA DOS MORTOS (2005), constituindo hoje uma tetralogia. Uma das principais características desses filmes de zumbis de Romero é que eles apresentam, sob a superfície, críticas e reflexões sociais muito mais densas do que muito documentário. DIÁRIO DOS MORTOS é a visão de Romero sobre a obsessão atual das pessoas pela gravação e exibição da imagem em movimento, facilitada pelas máquinas fotográficas digitais, pelos celulares que tiram fotos e webcams. Hoje em dia, as pessoas até deixam de curtir um show na ânsia de registrar o momento - eu mesmo cheguei a fazer isso.

Assim como [REC], de Jaume Balagueró e Paco Plaza, e CLOVERFIELD, de Matt Reeves, DIÁRIO DOS MORTOS é também um filme de horror com características de documentário, com o uso da câmera na mão e de um personagem que a manuseia para registrar o que está acontecendo. Ainda que não tenha a mesma força dos filmes citados, e de não se levar a sério em momento algum, o trabalho de Romero tem como outro ponto negativo o fato de ser excessivamente didático nas questões levantadas, não alcançando um grau de complexidade política e social como havia atingido no anterior (e bem superior) TERRA DOS MORTOS, que avalia o mundo pós-11 de setembro, dos Estados Unidos da Era Bush.

A trama gira em torno de um grupo de jovens estudantes de cinema que, durante a elaboração de um filme de horror caseiro de múmia, fica sabendo da notícia de que mortos estão voltando à vida como zumbis e que o mundo está virando um verdadeiro caos. Até mesmo no Japão, uma imagem visualizada do Youtube mostra uma jovem pedindo às pessoas para não enterrarem os seus mortos sem antes dar-lhes um tiro na cabeça, sinal de que a coisa já havia atingido proporções globais. De vez em quando ao longo do filme vemos notícias, através da televisão e da internet, mas a sensação de que o grupo está sozinho e tentando sobreviver naquele mundo apocalíptico permanece, já que tudo o que vemos é o que está nas lentes da câmera de um dos rapazes do grupo, que insiste em gravar tudo o que está acontecendo por acreditar que o que está ocorrendo é um momento histórico e que merece ser registrado. Algo muito parecido com o que acontece em CLOVERFIELD.

Talvez pelo fato de o diretor não levar tão a sério seu novo objeto de estudo, DIÁRIO DOS MORTOS tem uma leveza e uma despretensão que, se por um lado, ajuda o espectador a relaxar e a dar umas boas risadas durante a projeção, por outro, faz com que o mesmo espectador crie uma relação pouco respeitosa com esse trabalho, por mais que ele possua as suas qualidades. Entra também o problema da inevitável comparação com [REC], muito mais eficiente na construção de uma atmosfera de medo e tensão, ainda que aparentemente não tenha a mesma pretensão de Romero de usar o cinema como objeto de reflexão.

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