terça-feira, julho 01, 2008
O LOBISOMEM (The Wolf Man)
O barato de assistir esses filmes de horror da Universal, presentes no "caixãozinho", é que eles fornecem uma riqueza de informações que me deixa admirado como existem pessoas dedicadas a estudar detalhadamente o gênero terror de maneira tão apaixonada. Por isso, ver O LOBISOMEM (1941), de George Waggner, com comentários em áudio de um historiador de cinema (Tom Weaver) é quase tão bom quanto ver o filme em si. Vale lembrar que O LOBISOMEM não foi o primeiro filme de lobisomem produzido pela Universal. O primeiro foi O HOMEM-LOBO (1935, lançado em dvd mais recentemente com o título O LOBISOMEM DE LONDRES), que eu não vi, mas que dizem não ser tão bom quanto esse dirigido pelo Waggner. Tanto no aspecto técnico (maquiagem e efeitos especiais), quanto no aspecto narrativo. Pode-se dizer que até hoje não se fez um filme de lobisomem tão bom quanto UM LOBISOMEM AMERICANO EM LONDRES (1981), de John Landis, e talvez por isso mesmo Landis seja o host do mini-documentário presente nos extras do dvd.
O LOBISOMEM, apesar de não ter um mestre como James Whale na direção, é considerado um dos filmes que a Universal mais se orgulha de ter realizado. Um dos fatores é o elenco. Nunca a Universal teve tanto orgulho do elenco em um filme de horror, tanto que o filme já começa mostrando clipes dos astros do filme: Claude Rains (quatro indicações para o Oscar), Ralph Bellamy (ganhador de um Tony e um Oscar honorário), Bela Lugosi (sem necessidade de apresentações), Maria Ouspenskaya (duas indicações para o Oscar), a bela Evely Ankers e o já famoso Lon Chaney Jr., ou apenas Lon Chaney, como ele é apresentado no filme. Por isso há quem o confunda com o pai, o astro dos filmes mudos Lon Chaney. O pai, inclusive, era totalmente contra o ingresso do filho no show business e Chaney Jr. só pôde realizar o sonho de se tornar um ator depois que seu pai morreu, em 1930. Já Evely Ankers, soube que ela não gostava muito de ser atriz, e por isso acabou tendo uma carreira curta no cinema. Uma pena, pois ela é uma das mais belas e atraentes atrizes daquela época.
Visto hoje, O LOBISOMEM pode ser visto até como engraçado, tanto é que Val Lewton, produtor de filmes de terror mais "psicológicos" da década de 40, não perdia a oportunidade de alfinetar a Universal nas entrevistas. Ele achava que a companhia fazia filmes de mau gosto. E com o tempo, seus filmes acabaram se tornando mais interessantes que os da Universal, mas não tão populares. O fato é que a Universal ganhava muito dinheiro com esses filmes que eram feitos em poucos dias. Em O LOBISOMEM, Lon Chaney é o filho de um homem rico que volta à sua cidade natal depois de uma temporada fora. O relacionamento dele com o pai (Claude Rains) é explorado com sutileza no filme e até achei de pouca importância para a história, embora nos comentários em áudio o historiador quase tenha me convencido do contrário. A primeira coisa que lhe chama a atenção quando ele chega na cidade é uma bela moça, que ele vê inicialmente através de um telescópio. Gwen, a moça, interpretada por Evely Ankers, trabalha numa loja e no dia seguinte ele trata logo de ir até lá para comprar alguma coisa, só como justificativa para vê-la. Na falta de coisa mais importante, ele resolve comprar uma bengala. Engraçado como naquela época chapéus e bengalas eram ítens comuns para os homens, acessórios de beleza e até de status. Ele escolhe uma bengala com a cabeça de um lobo adornada em prata. Como já sabemos, na mitologia dos lobisomens os bichos têm pouca resistência à prata. Depois de convencer a garota a sair com ele, os dois, acompanhados de uma amiga de Gwen, vão até uma barraca de ciganos recém-chegados à cidade. Bela Lugosi é o homem que é capaz de ler o futuro na palma da mão e ao ver o símbolo da estrela de cinco pontas na mão da amiga de Gwen avisa-lhe logo para correr, antes que seja tarde. Instantes depois, ficamos sabendo que Lugosi é um lobisomem e que ele é a própria ameaça. O personagem de Lon Chaney, ao vê-lo atacar a vítima na floresta (mostrada sempre com névoa), mata o lobo com a sua bengala, é arranhado pelo lobo e, conseqüentemente, se torna um lobisomem também.
O que parece estranho logo em seguida é que a amiga da vítima não manifesta imediatamente terror, desespero ou tristeza com a morte da amiga. Também estranho o fato de que o lobisomem de Lugosi ser um lobo de quatro patas, enquanto que o lobisomem de Chaney anda em duas patas. Os efeitos especiais da transformação do lobisomem são bem rudimentares e foram melhorando com as continuações, embora eu duvide que as continuações sejam melhores. Mesmo assim, senti falta de uma maior inventividade nos efeitos, vistos em filmes como O HOMEM INVISÍVEL e A NOIVA DE FRANKENSTEIN. James Whale tinha uma capacidade de criar ou de gerenciar esses detalhes com tanta maestria que nenhum outro diretor da companhia era capaz de se igualar. Mal comparando, Whale foi para a Universal o que Terence Fisher foi para a Hammer.
A continuação de O LOBISOMEM se chamou FRANKENSTEIN ENCONTRA O LOBISOMEM (1943). Depois, o peludão apareceu em A CASA DE FRANKENSTEIN (1944). Nesse filme, Larry Talbot, o personagem de Chaney, reapareceria com a missão de morrer, por não aguentar mais a maldição do lobisomem. Mas como não deixaram o coitado morrer em paz, deram um jeito de trazê-lo de volta no filme HOUSE OF DRACULA (1945). Quanto a Lon Chaney, ele era um astro que não se incomodava tanto em fazer papéis de monstros o tempo todo, tendo, inclusive, "tapado o buraco" quando Boris Karloff caiu fora da franquia do Frankenstein e da Múmia e quando Bela Lugosi cansou de ser o Conde Drácula. Mas perguntado uma vez numa entrevista sobre que filme ele mais gostava, ele falou que era O LOBISOMEM. E não é difícil entender por quê.
Nenhum comentário:
Postar um comentário