sexta-feira, junho 06, 2008
A CHAVE (La Chiave / The Key)
Depois de obras ambiciosas e envolvendo muito dinheiro, como SALÃO KITTY (1976) e CALÍGULA (1979), e de ter recebido uma recepção negativa com ACTION (1980), Tinto Brass finalmente encontrou o tom certo com o ótimo A CHAVE (1983), o filme que definiu de vez o seu estilo. E dessa vez com uma atriz de primeiro escalão, a exuberante Stefania Sandrelli, que trabalhou com cineastas do porte de Ettore Scola e Bernardo Bertolucci. Mas nenhum desses "bam-bam-bans" do cinema italiano chegou a aproveitar tão bem a gostosura de Sandrelli quanto Brass nesse filme, que pode ser considerado um marco não apenas na carreira da atriz, como do cinema italiano em geral. Se bem que eu tenho curiosidade de ver O CONFORMISTA (1970), que também mostra sua nudez.
Como Brass parece ter interesse pelos anos 40, o filme se passa mais uma vez naquela época, quando o nazismo e o fascismo caminhavam de mãos dadas na Itália, mais exatamente em Veneza, que é onde a estória se passa. Mas isso, apesar de dar um ar classudo à obra, com uma direção de arte bem cuidada, não é de importância vital. É mero pano de fundo para as curvas do corpo da maravilhosa Stefania Sandrelli - na época com 37 anos - que no início do filme é uma esposa recatada de um homem velho. A filha de seu marido, que tem idade para ser sua irmã, namora um jovem fotógrafo, que sente mais atração por Teresa do que por sua namorada. Algo bem justificável, levando em consideração de quem estamos falando. E ela acaba por se render às investidas do rapaz, enquanto o marido, enfermo, por amor à sua esposa, permite em silêncio, desejando sempre a felicidade de sua amorosa e carinhosa mulher. E até auxiliando-a a romper com suas repressões.
Uma das cenas mais memoráveis do filme acontece quando Teresa (Sandrelli) passa mal durante um jantar e, como o marido não tem muita segurança em aplicar seringas, o namorado da filha faz questão de executar o trabalho. Nem é preciso dizer onde é que é aplicada a injeção. E é com esse filme que Brass passa a demonstrar mais explicitamente sua preferência por mulheres de glúteos avantajados. Porém, em A CHAVE, a heroína de Brass não é apenas um corpo. Brass a humaniza, conseguindo passar o carinho e a vontade da mulher de agradar a ambos os homens. Teresa seria um típico exemplo de mulher que tem muito amor para dar, assim como a protagonista de TODAS AS MULHERES FAZEM (1992), outro dos meus favoritos trabalhos do cineasta. E assim como o citado filme, A CHAVE também mostra o quanto o ciúme pode aquecer o amor de um homem. Brass mostra o quanto esse sentimento, que na maioria das vezes leva à raiva, ao rancor e até mesmo a situações extremas e trágicas, pode ser canalizado de maneira benéfica.
Diferente dos filmes mais recentes de Brass, que precisam ir direto ao ponto, isto é, mostrar logo cenas de sexo para não aborrecer o espectador mais ansioso dos dias de hoje, a sensualidade de A CHAVE é crescente e é preciso ter um pouco de paciência para se chegar aos momentos de maior voltagem erótica do filme, que assim como os melhores trabalhos do diretor, tem um uso de espelhos dos mais bem trabalhados, chegando às vezes a elaborar cenas que mais parecem quadros, pinturas. Com direito a moldura e tudo.
Pra fechar, meu top 10 Tinto Brass, so far:
1.TODAS AS MULHERES FAZEM (1992)
2.A CHAVE (1983)
3.O VOYEUR (1994)
4.A PERVERTIDA (2000)
5.PAPRIKA (1991)
6.CAPRICCIO (1987)
7.MONAMOUR (2005)
8.MIRANDA (1985)
9. MONELLA, A TRAVESSA (1998)
10.FAÇA ISTO! (2003)
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