sábado, maio 31, 2008
LOST - A QUARTA TEMPORADA COMPLETA (Lost - The Complete Fourth Season)
A temporada passada de LOST foi bastante criticada e chegou a perder boa parte da audiência devido à irregularidade na qualidade dos episódios, mas pra mim, fã da série, os episódios fracos não chegaram a me incomodar e fui fiel até o fim. Pra mim, sempre foi muito prazerosa, tanto no quesito "relacionamentos", quanto no aspecto misterioso e de ficção científica. E valeu a pena a minha fidelidade à série, pois aquela fantástica season finale da terceira temporada, que apontava um novo rumo, que é o de mostrar não mais o passado, mas o futuro dos personagens, deu um gás impressionante nessa quarta temporada (2007-2008). Tanto que, mesmo com os problemas relativos à greve dos roteiristas - que abalou as estruturas das séries de televisão em geral e gerou um hiato que não estava nos planos dos produtores - a nova temporada, dessa vez mais compacta, foi um verdadeiro presente para os fãs.
Achei lindo o fato de o presente, o passado e o futuro se unirem de uma maneira tão harmoniosa do primeiro ao último episódio, que foram deixando pistas, mas ao mesmo tempo, buracos a serem preenchidos pelo espectador. Já no primeiro episódio, encabeçado pelo Hurley, ficamos sabendo que seis tripulantes do avião caído na ilha retornaram para suas casas, conseguiram sair de lá. Aos poucos vamos sabendo quem são esses seis e o que eles se tornam quando voltam da ilha. Quer dizer, ao mesmo tempo que nos perguntávamos como eles conseguiram sair, ficava no ar a pergunta em relação aos que ficaram. Enquanto muitas perguntas foram respondidas, novas foram surgindo. E essas novas dizem respeito mais ao que acontecerá com a série nas próximas duas temporadas. Será que essa estrutura de flashbacks e flashforwards desaparecerá? Será que a quinta temporada será uma espécie de "Lost - O Resgate"? Pode até ser, mas acho difícil a série se desapegar desses saltos temporais que fazem parte do charme de LOST.
Nessa temporada, novos rostos aparecem. Cinco novos rostos: as pessoas que supostamente estariam ali para resgatar os "perdidos". E alguns desses personagens com certeza aparecerão novamente na quinta temporada, principalmente Charlotte, que merece um flashback só para ela para esclarecer a sua ligação com a ilha. Ben, que era o grande vilão da série, acabou se tornando um sujeito até que mais simpático, embora não seja exatamente o "good guy" que disse ser no momento em que ele, liderando os "outros", capturou Jack, Kate e Sawyer no finalzinho da segunda temporada. E como já sabemos de seu passado negro, fica difícil confiar nele, embora às vezes seja necessário, como percebe o sábio Locke, que age sempre movido por uma espécie de intuição. O novo vilão da trama é um homem chamado Charles Widmore, pai de Penelope, a "alma gêmea" de Desmond, o grande herói romântico da série. Fico me perguntando se Desmond terá o mesmo destaque na próxima temporada ou se deixará de fazer parte do elenco principal. Considero-o um personagem muito bom para ser simplesmente descartado. Nessa temporada, outro episódio marcante, "The Constant", é centrado nele. Pra variar, é mais um episódio de Desmond que lida com viagens no tempo.
Quanto às mortes, toda temporada tem das suas e essa não foi exceção. E bem ou mal, elas são necessárias para que a série continue com sua dinâmica e possa abrir espaço para novos personagens, ainda que os protagonistas da série (Jack, Kate, Sawyer, Locke, Hurley, Sayid, Sun) continuem recebendo mais atenção dos roteiristas que os demais. Claire, por exemplo, foi relegada a segundo plano nessa temporada, e Michael, por mais que seu retorno tenha sido bastante esperado, é um personagem que parece já ter cumprido o seu papel. O pai de Jack e Claire é que continua sendo um grande enigma. Suas aparições, desde o início da série, foram deixando de ser meras alucinações de Jack para se tornarem algo que deva-se dar a devida atenção.
O último episódio, de três horas, mas dividido em duas partes, de nome "There's no place like home", é o que une e preenche os vários buracos deixados desde o final da terceira temporada, o que mostrava Jack drogado e totalmente perturbado, querendo voltar para a ilha. E é exatamente desse ponto que começa a season finale, os episódios conjugados 13 e 14. Sempre ver Jack e Kate juntos me dá muito prazer, pois embora Sawyer tenha se mostrado cada vez mais heróico e "gente boa" nessa temporada, a química de Jack e Kate ficou eternizada desde o piloto, quando ele pediu para que ela fizesse alguns pontos na ferida em suas costas. E ver os dois felizes e juntos, ainda que num curto espaço de tempo, no episódio "Something nice back home" me deu muito prazer de ver. O episódio "Eggtown", que mostrou o julgamento de Kate, também está entre os meus favoritos. No quesito ação, a coisa esquentou nesses últimos episódios e os dois personagens que mais agiram como heróis de ação nesse quesito foram mesmo Sayid e Sawyer em momentos eletrizantes. Quanto ao caixão, o perturbador caixão contendo um dos passageiros do Oceanic, que apareceu no final da terceira temporada, finalmente é revelado no finalzinho da quarta. E a imagem de quem está lá não deixa de ser chocante.
sexta-feira, maio 30, 2008
PECADOS INOCENTES (Savage Grace)
Impressionante como certos filmes incomodam de tal modo as pessoas que elas simplesmente não agüentam ficar até o final. E olha que estamos falando de um espaço mais alternativo, como o Espaço Unibanco Dragão do Mar, que costuma exibir filmes um pouco mais diferentes do que os do circuitão, um lugar onde os freqüentadores supostamente seriam mais tolerantes a cenas mais fortes ou ousadas. Mesmo assim, não é todo mundo que estava preparado para uma tragédia edipiano tão seca e estranha quanto este PECADOS INOCENTES (2007). Nem eu estava, na verdade. Entrei no cinema sem saber praticamente nada do enredo. Tanto que na saída, encontrei um amigo que também estava na sessão no último domingo e me perguntou: "e aí, gostou do filme?" Eu fiquei sem saber responder. Falei que ainda não sabia se tinha gostado ou não. E ainda não sei. Vamos ver se eu encontro essa resposta à medida que vou escrevendo e me lembrando do filme.
PECADOS INOCENTES gira em torno de Tony Baekeland, desde bebê até a sua juventude nos anos 60 e 70. Ele cresce num ambiente onde a mãe (Julianne Moore) costuma agir de maneira bastante liberal com relação a seu marido, que não vê com bons olhos o comportamento da esposa. Nem do filho, à medida que ele vai percebendo suas preferências sexuais, já manifestadas na infância. Tony sente a falta do pai, tanto por causa do sentimento de rejeição, o que só aumenta quando o pai se separa de sua mãe, ficando com uma de suas namoradas. Com a ausência paterna, a relação mãe-filho vai se tornando cada vez mais próxima. A mãe aceita os relacionamentos do filho com outros rapazes e parece ter uma postura bastante "moderna" para a sociedade da época. Ou das épocas e lugares, já que o filme traz saltos temporais, localizando o ano e o local onde os personagens estão vivendo, seja na França, seja na Inglaterra. Contar mais sobre a história e falar das razões de o filme poder chocar o espectador pode estragar um pouco as surpresas para quem ainda não viu o filme, mas acredito que o fato de eu ter citado "sem querer" Édipo pode dar uma noção para o leitor do que o aguarda.
Não sei se é necessário dizer que um dos grandes destaques do filme é a performance de Julianne Moore. Sua histeria em alguns momentos, seus olhares, sua entrega total à personagem são alguns dos motivos pelos quais vale a pena dar uma conferida em PECADOS INOCENTES, que é baseado numa história real, mas que tem uma conclusão tão difícil de acreditar que parece mais uma estória inventada, inspirada numa tragédia grega. O tom do filme, seco e com emoções contidas, principalmente na seqüência do esfaqueamento, por alguma razão me fez lembrar do cinema de Robert Bresson. A utilização da narração "em off" do protagonista é usada com economia, dando mais espaço para a força das imagens e dos diálogos que mostram ao mesmo tempo a aproximação e o distanciamento dos personagens. Aliás, a imagem só não me pareceu melhor por causa da cópia digital, que ora ficava clara, ora ficava escura. Talvez já seja algum defeito no equipamento.
quinta-feira, maio 29, 2008
A VIA LÁCTEA
Quando escrevi a respeito de MUTUM, comentei sobre o aumento na quantidade de diretoras no cinema nacional recente. CHEGA DE SAUDADE, de Laís Bodansky, é outro exemplo e é uma pena que o filme já tenha saído de cartaz de Fortaleza sem que eu pudesse ter tido a chance de vê-lo no cinema. Sem querer soar sexista, para um país que só tinha praticamente a Ana Carolina como exemplo, até que estamos evoluindo. A VIA LÁCTEA (2007) é o segundo longa-metragem de Lina Chamie, que estreou com o premiado TÔNICA DOMINANTE (2000). E por mais que muitos digam que A VIA LÁCTEA não é um bom filme, eu sentia uma atração pelo tema do homem apaixonado em busca da mulher amada pelas ruas engarrafadas de São Paulo, pelo fato de essa mulher ser interpretada pela Alice Braga, e porque o cartaz do filme é bem atraente: Alice abraçando de maneira carinhosa e protetora um homem desolado (Marco Ricca). Ao fundo, o céu azul acinzentado de São Paulo. Digamos que foi amor ao primeiro cartaz. O trailer também é atraente. E por isso, dou meus parabéns ao pessoal responsável pelo marketing do filme. Quanto ao filme em si, é mesmo decepcionante, embora tenha os seus aspectos positivos.
Em seu primeiro curta-metragem, EU SEI QUE VOCÊ SABE (1995), Lina Chamie já havia homenageado o poeta Manuel Bandeira. E faz o mesmo, ainda que de maneira mais discreta em A VIA LÁCTEA, embora no longa isso pareça pretencioso, ainda mais quando nossas expectativas em relação ao filme vão aos poucos definhando ao longo da projeção. Ainda assim, as boas performances de Ricca e Alice contribuem para um afeiçoamento aos personagens, fazendo-nos torcer para que o personagem dele chegue ao seu destino final, num trânsito infernal que parece não ter fim. Na verdade, da maneira que o filme foi editado, já vamos percebendo aos poucos o destino final do personagem de Ricca, de nome Heitor. Na trama, ele, um escritor de meia-idade, tem um relacionamento com uma jovem de vinte e poucos anos de nome Júlia. Ele gosta de ficar em casa; ela adora sair para dançar. É um tipo de relação muito comum até porque certas mulheres têm mesmo atração por homens mais velhos, os mais novos não sendo para elas suficientemente maduros ou interessantes. Mas surge esse problema do desejo de sair e de se aventurar, típico de quem ainda não atravessou a faixa dos trinta anos. E esse conflito acabou gerando uma discussão boba e de ciúme da parte de Heitor, que se acha em situação de desvantagem em relação aos rapazes da idade de Júlia. E é depois dessa discussão que ele resolve sair de casa e ir até a casa dela, antes que seja tarde demais e ela saia com um de seus rivais.
No meio dessa trajetória, entramos em contato com pedaços do passado dos dois. De quando eles se conhecem no teatro numa peça de Zé Celso, de quando eles se entreolham numa biblioteca e ele lhe dedica um poema - o que me pareceu algo ao mesmo tempo bonito e ultrapassado -, ou de quando ele deseja pedir-lhe em casamento e ela se mostra indecisa. Ou talvez simplesmente não queira, não esteja preparada ainda. Mas isso são questionamentos pouco válidos, já que a certa altura os flashbacks vão se misturando com situações possíveis do futuro ou situações imaginadas, fruto da mente perturbada de Heitor e o que é real se mistura com o que é delírio. Como na cena em que um dos possíveis pretendentes de Júlia aparece no trânsito comprando um buquê de flores, provavelmente para ela. Em outro momento, como num sonho ruim, Heitor atropela um cachorro e tenta ajudá-lo, levá-lo para um veterinário. Nesse momento, o que representaria o menino correndo? E apesar de o filme ter momentos interessantes e de captar a angústia, a ansiedade e o desespero do protagonista no meio de tantos carros e semáforos e de estabelecer elos de ligação com certos filmes que lidam com a morte, A VIA LÁCTEA me pareceu, de certa forma, morno. Pelo menos a personagem de Alice Braga, com todo seu encanto, parece justificar o sentimento de perda e de sacrifício do protagonista.
quarta-feira, maio 28, 2008
DA MESMA CARNE (The Marrying Kind)
Até que a peregrinação pela obra de George Cukor está indo rápida. Isso se deve ao fato de os filmes serem, por "menores" que alguns sejam, extremamente agradáveis. DA MESMA CARNE (1952) é uma grata surpresa. Não apenas por suas qualidades fílmicas mas por quebrar a expectativa tanto minha quanto da audiência na época, que achava que se tratava de mais uma comédia romântica sobre um casal discutindo relação, a exemplo do que aconteceu com A COSTELA DE ADÃO (1949). O filme, ao contrário, assume um tom mais dramático e quase documental, sem muitas preocupações com a beleza plástica da fotografia ou com os atores se comportando como estrelas. Cukor queria que o seu filme parecesse o mais real possível. Outra expectativa estava na maneira como Judy Holliday iria desempenhar o papel, vindo de uma comédia que lhe valeu um Oscar - NASCIDA ONTEM (1950) -, onde interpretava uma loura burra com uma voz um pouco mais aguda do que costumamos ouvir. Sua voz em DA MESMA CARNE não é muito diferente, mas aos poucos, sua personagem vai ficando cada vez mais adorável. O filme também apostava em Aldo Ray como uma estrela em ascenção, o que não aconteceu exatamente, pelo menos não do jeito que Cukor queria. O fato é que Ray tinha aquele jeitão macho de jogador de futebol americano e Cukor o transformou num sujeito mais sensível, chegando ao ponto de mandá-lo fazer aulas de balé. Será que Aldo gostou do conselho? Devido às preferências sexuais de Cukor, alguém pode até pensar no que pode ter acontecido entre os dois, mas como não li nada a respeito, prefiro acreditar que Cukor era um sujeito gentil e que adorava criar novos astros, como realmente o fez.
DA MESMA CARNE se inicia numa cena num tribunal, onde o casal representado por Judy e Aldo estão presentes para oficializar o seu divórcio. A juíza, antes de começar a fazer perguntas de maneira mais oficial e jurídica, resolve fazer um recesso e conversar "em off" com o jovem casal. Com essa conversa, vamos tendo contato, através de flashbacks, com o início do relacionamento dos dois, o desenvolvimento, o casamento, os pequenos desentendimentos, uma tragédia familiar e o desgaste de uma relação devido a problemas financeiros e de outra ordem. No fim das contas, essa conversa com a juíza acaba se tornando numa espécie de terapia de casal, como hoje é comum nos consultórios de psicanalistas. Os personagens, de início, não são imediatamente amáveis, mas aos poucos vamos entendendo seus problemas e não duvido que qualquer casal não vá se identificar nem que seja com um momento do filme. Na cena da tragédia envolvendo um dos filhos do casal, eu já previa o que iria acontecer, talvez por ter um espírito fatalista, talvez por ter visto melodramas demais ou talvez porque a cena é quase uma reprise da morte da filha do casal de Scarlett O'Hara e Rhett Butler em E O VENTO LEVOU (1939). Mas não colocaria isso como um dos pontos negativos do filme, até porque a abordagem, o tom, é completamente diferente do melodrama de Scarlett. Não há arroubous dramáticos. No que se refere ao tom, no caso de DA MESMA CARNE, o "menos" vale mais do que o "mais".
O filme, embora não esteja entre os mais famosos e premiados do cineasta, é um de seus melhores trabalhos. Em certa hora até parecendo um filme europeu dos anos 60 ou um filme de John Cassavetes. Até nos momentos cômicos, como na cena em que Aldo conhece Judy ou na ótima seqüência do sonho, a comédia é comedida. É um filme mais para sorrir do que para rir. Quanto a Aldo Ray, no final, o filme termina com os dizeres de apresentação do futuro astro e pede para que o expectador fique de olho nesse novo talento. Foi a primeira vez que eu vi uma propaganda tão explícita de um astro dentro do próprio filme e não apenas num trailer. Porém, a trajetória de Aldo não foi exatamente como Cukor queria e Aldo acabou se tornando um ator de filmes mais másculos, sendo os mais conhecidos o western O PEQUENO RINCÃO DE DEUS, de Anthony Mann, e o drama de guerra A MORTE TEM SEU PREÇO, de Raoul Walsh, filmes que a julgar pelos diretores envolvidos devem ser excelentes. Quanto à aparição de Charles Bronson em DA MESMA CARNE, deve ser uma decepção para os fãs, pois ele entra mudo e sai calado, no papel de um dos colegas de trabalho do personagem de Aldo Ray.
Infelizmente, DA MESMA CARNE continua inédito em dvd no Brasil, o que não impede que ele seja conseguido por "vias alternativas".
terça-feira, maio 27, 2008
SHOW DE FERNANDA TAKAI - TURNÊ DE 'ONDE BRILHEM OS OLHOS SEUS'
Sei que já são quatro dias sem atualizar o blog, mas uma série de coisas têm contribuído para isso, como o trabalho, o cansaço, a prova de concurso no domingo e mais trabalho. Ontem, mais uma vez, tive de lidar com esse sentimentozinho incômodo que é a culpa, ao faltar aula para ir ao show da Fernanda Takai na Concha Acústica. Puxa, uma das poucas cantoras brasileiras que eu realmente gosto vem a Fortaleza para um show gratuito de um disco que eu venho escutando continuamente, eu não podia perder. A culpa é da organização do festival, que foi agendar o show da Takai logo para uma segunda-feira. (Isso a gente chama de transferência de culpa, e eu aprendi nos filmes do Hitchcock.) E somada à minha racionalização de que "eu mereço", resolvi cometer esse pequeno "pecado" sem me sentir assim tão culpado, embora eu saiba que a culpa esteja lá, escondidinha, pronta para me atacar. (Acho que preciso ver uns filmes do Abel Ferrara para exorcizar essas culpas bobas.) Falemos do show, então.
O show da Fernanda seria mais apropriado para um teatro, que é como vem sendo exibido Brasil afora. A certa hora do espetáculo, a cantora falou isso, mas gostou do entusiasmo do público e ficou feliz por saber que um show tão intimista podia ficar "quente", e dizendo que acredita que nunca Caetano ou Gil viram "Lindonéia" ser cantada em uníssono por tantas pessoas. Realmente estava lotado o lugar. Nessa hora, desejei que o show fosse pago, para pelo menos diminuir um pouco a quantidade de pessoas. Muita gente, muito barulho e muito calor juntos costumam me incomodar. Mas quando chegamos, eu e a Erika, cedinho, por volta das sete horas, estava tudo muito tranqüilo. Sentamo-nos na segunda fileira e não esperávamos que a organização do evento fosse permitir que entrasse tanta gente. Antes de a Fernanda entrar, vimos uma apresentação de maracatu e uma tentativa frustrada de um coral se apresentar naquele ambiente pouco recomendável. Como eu já participei de um coral, sei o quanto é necessário silêncio, uma acústica adequada e pessoas interessadas e respeitosas para ouvir. E nada de microfones. Coral com microfones não funciona.
Quando a Fernanda adentrou o palco, boa parte da turma já tinha chegado. Encontramo-nos por acaso com o Manoel e depois chegaram a Valéria, a Juliana, a Elis e a Marcélia. Não me lembro exatamente com qual canção Fernanda abriu o show. Acho que foi com a sombria "Luz Negra", mas não tenho certeza. Além dos patofuenses John Ulhôa (genial na guitarra) e Lulu Camargo no teclado, a banda contou ainda com um contrabaixista e um baterista contratados que mandaram muito bem. Quando a banda começou a tocar "Diz que fui por aí" naquele arranjo lindo, não resisti e tentei me aproximar o máximo possível do palco para tirar uma foto, adentrando a massa de pessoas, muitas delas, cantando num misto de alegria e melancolia essa canção. "Diz que fui por aí" virou o grande hit do disco ONDE BRILHEM OS OLHOS SEUS, que pra quem não sabe partiu de uma idéia de Nelson Motta - que via a Fernanda como a Nara Leão dos dias atuais - e produzido pelo maridão John Ulhôa.
Infelizmente, devido aos poucos recursos destinados ao show, não foi possível trazer o belo cenário que vem sendo utilizado na turnê nacional. Mesmo assim, o básico da festa estava lá: a cantora e a banda. E como não se arrepiar ao ouvir "Insensatez", de Vinicius e Tom, e "Descansa Coração", talvez a minha preferida do disco? Entre as surpresas da noite, isto é, as canções que não fazem parte do disco, destacam-se "Ordinary World", do Duran Duran (que é uma banda explicitamente querida de Fernanda), "Ben", do Jackson Five, e "Esconda o Pranto num Sorriso", de Evaldo Braga, faixa presente no álbum EU NÃO SOU CACHORRO MESMO, projeto dedicado a recriações de canções do universo brega. Uma pena ela não ter cantado "O Divã", do Roberto Carlos, que esteve presente no set list de alguns shows por aí, mas talvez o ambiente festivo local não fosse mesmo adequado para essa canção, que eu considero uma das mais tristes de toda a música brasileira.
O bis fechou com "Sirimbó Carimbó", que eu particularmente não aprovei, acho uma canção de "mau gosto", e uma versão em japonês de "O barquinho", faixa bônus da edição nipônica do disco, mas que eu já conhecia, graças à internet. No final, saí com uma dor de cabeça chata - coisa de cearense, esse negócio de cabeça chata -, mas bastante satisfeito com o show.
P.S.: Dedico esse post ao canceriano Sydney Pollack, cineasta que partiu para o "outro lado" ontem, aos 72 anos de idade. Pollack, embora não tenha sido um diretor regular, deixou pelo menos dois grandes filmes: ESTA MULHER É PROIBIDA e MAIS FORTE QUE A VINGANÇA. Como ator, como esquecer de sua paticipação memorável em DE OLHOS BEM FECHADOS, de Stanley Kubrick? Recentemente, também brilhou nos poucos momentos que apareceu no recente CONDUTA DE RISCO.
quinta-feira, maio 22, 2008
INDIANA JONES E O REINO DA CAVEIRA DE CRISTAL (Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull)
Que decepção. Tantos anos de espera. Tantos roteiros descartados. Tanta gente boa envolvida. No caso de INDIANA JONES E O REINO DA CAVEIRA DE CRISTAL (2008), até o título soou ruim, quanto mais o roteiro de David Koepp, que é um roteirista que já tem os seus detratores e que depois desse filme o número só tende a aumentar. Mas não culpemos apenas Koepp pelo fracasso do filme, afinal, ele partiu de uma idéia de George Lucas. Culpemos também Steven Spielberg, que desde AMISTAD (1997) não entregava um filme tão preguiçoso e sem graça. E culpemos a pressa para realizar logo o filme a todo o custo, devido à idade avançada de Harrison Ford. Afinal, o tempo é impiedoso. Vendo "Indy 4", nem dá pra imaginar que quem está atrás das câmeras é o mesmo diretor das obras-primas recentes GUERRA DOS MUNDOS (2005) e MUNIQUE (2005). Parece até um filme de George Lucas. Inclusive, o início do filme parece uma citação a LOUCURAS DE VERÃO (1973), um dos primeiros e mais simpáticos trabalhos de Lucas e uma das primeiras aparições de Harrison Ford no cinema. Talvez esse seja o problema. O filme é de Lucas. Inclusive, o personagem Indiana Jones, por mais que tenha ganhado fama com a assinatura de Spielberg, sempre foi um projeto de Lucas. E a primeira coisa que aparece no novo filme é mesmo o símbolo da hoje milionária LucasFilm, o que nem dá pra reclamar, afinal foi quem produziu mesmo o trabalho. O novo Indy pega carona nos retornos de três outros heróis da década de 80: Rocky Balboa e Rambo, ambos de Sylvester Stallone, e o John McLane de DURO DE MATAR. Por incrível que pareça, dos quatro filmes, o de Spielberg é o mais fraco, até podendo denegrir um pouco a magia que os três filmes originais ainda mantêm.
Bom, agora que eu já adiantei que não gostei de INDIANA JONES E O REINO DA CAVEIRA DE CRISTAL, vamos aos aspectos positivos do filme, afinal, por mais preguiçosa que seja a direção de Spielberg e por mais que os cenários sejam tão artificiais quanto os da segunda trilogia de STAR WARS de Lucas, ainda estamos falando de Spielberg na direção. E ele ainda impõe um pouco a sua marca de autor no filme. O que mais salta à vista é o tema da família disfuncional, do pai ausente, no caso o próprio Indiana Jones, que descobre com surpresa ter um filho crescido, nascido de Marion Ravenwood, a personagem da bela, simpática e sumida Karen Allen, o par romântico de Indy em OS CAÇADORES DA ARCA PERDIDA (1981). Aliás, uma das melhores coisas do filme é a parceria de Indy com o jovem Mutt, interpretado por Shia LaBeouf. O filme conta com uma química razoável entre os dois personagens bem como a mais engraçada cena, a da areia movediça, que resgata parte da mitologia do herói. Também podemos destacar nesse novo filme a beleza de Cate Blanchett, como uma soviética sexy de cabelos negros que usa Indy no começo do filme como meio para ter acesso a uma caixa que o Governo Americano guarda a sete chaves.
Como o filme se passa 18 anos depois dos eventos da última aventura (INDIANA JONES E A ÚLTIMA CRUZADA, 1989), o mundo vive em plena Guerra Fria (com direito a uma cena envolvendo uma bomba atômica), o que me fez lembrar de uma das falas mais constrangedoras saídas da boca do próprio Indy: "russians!", dita com ar de rivalidade e forçando um esclarecimento que talvez fosse desnecessário para o espectador. Há outra envolvendo um excesso de respeito ao então presidente americano da época (Eisenhower). No entanto, apesar de Blanchett estar bela, com um roteiro desses seria pedir demais que ela levasse o filme nas costas, até porque ela não é a protagonista. Resultado: a pior interpretação de Cate que eu já vi no cinema. Claro que o filme nunca se leva a sério, mas acredito que é necessário ao menos uma coisa para tornar a aventura empolgante: envolvimento. E não há como se envolver com tanto cenário digital, com tantos bichos digitais (macacos, formigas, E.T.s etc). E é com essa aventura fria graças ao mau uso da tecnologia e com essa estória sem graça que parece não levar a lugar algum, que o filme fecha, ao final, de modo coerente, encerrando com um epílogo à altura.
quarta-feira, maio 21, 2008
A MULHER ABSOLUTA (Pat and Mike)
Oitava parceria de Katharine Hepburn com o diretor George Cukor, A MULHER ABSOLUTA (1952) é também a sétima parceria de Kate com seu amado Spencer Tracy. Ambos já se mostram mais envelhecidos nesse filme sobre os bastidores dos esportes. No filme, Kate é uma treinadora de uma faculdade, uma espécie de professora de educação física, que tem um noivo com quem participa com freqüência de jogos de golfe com um grupo de ricaços da Califórnia. Ela joga bem, exceto quando o noivo está olhando. É como se ele desse azar pra ela. Ela se sente tensa e nervosa e acaba fazendo jogadas péssimas. Mas um olheiro (Spencer Tracy) percebeu o potencial da moça e fez a ela um convite: ele seria o seu treinador e empresário. No começo ela não leva muito a sério aquele homem, mas depois de um desentendimento com o noivo e da vontade de se libertar dele, que a tratava de maneira super-protetora, resolve visitar o tal empresário. Chegando lá, tanto o treinador quanto o espectador descobrem que a personagem de Kate tem talento não só para golfe, como para vários tipos de esporte, sendo o tênis o esporte que ela mais sabe.
Ao contrário do que se pode pensar, já que muitos filmes que abordam esportes são chatos, A MULHER ABSOLUTA é divertidíssimo, tanto quando vemos o frisson dos repórteres e fãs dos esportes, quanto quando vemos a reação da personagem de Kate e de seu técnico com os resultados favoráveis. Os momentos mais divertidos e mais explorados acontecem quando Kate está jogando tênis e golfe. Inclusive, passei a achar bem interessante o golfe depois do filme. Deve ser um esporte leve e cujas longas caminhadas devem ser bastante saudáveis para os praticantes. Acho que se eu fosse um desses milionários esnobes ingleses ou americanos, seria um praticante de golfe. Pois bem. Aos poucos, Kate vai se tornando uma das melhores, tanto no golfe quanto no tênis, participando de campeonatos nacionais e sempre ganhando . No meio de tudo isso, duas coisas acontecem, os personagens de Kate e Tracy passam a se afeiçoar um pelo outro e de vez em quando o noivo de Kate aparece para estragar a festa durante os jogos com o seu "pé frio". O resto é até previsível e pode-se imaginar o que acontece, mas isso não tira o brilho e a graça dessa simpática comédia, que eu acho até mais agradável e interessante que A COSTELA DE ADÃO (1949).
Depois desse filme, Katharine Hepburn só voltaria a trabalhar novamente com Cukor nos anos 70, nos filmes AMOR ENTRE RUÍNAS (1975) e O MILHO ESTÁ VERDE (1979). Uma curiosidade em A MULHER ABSOLUTA é a participação de Charles Bronson no papel de um gângster que apanha da esportista numa das cena mais engraçadas do filme. Ele também está no elenco de DA MESMA CARNE (1952), o próximo Cukor que verei. A participação dele é até bem boa e eu diria que ele até poderia ter se dado bem em comédias se não tivesse se especializado em filmes policiais e westerns. De qualquer maneira, fico feliz com o caminho que Bronson acabou por trilhar. :) Quem também se destaca no filme no papel de um boxeador burro é Aldo Ray. Spencer Tracy trabalharia novamente com Cukor no ano seguinte na comédia PAPAI NÃO QUER (1953).
terça-feira, maio 20, 2008
XXY
Algumas pessoas costumam estabelecer com freqüência comparações entre o cinema brasileiro e o cinema argentino e muitos dizem que o produzido na Argentina é superior ao nosso. É a velha rivalidade entre Brasil e Argentina mas que, diferente do que acontece no futebol, no cinema o povo costuma dizer que os argentinos são melhores. O fato é que são poucas as produções argentinas que chegam ao circuito nacional, não dando, portanto, para estabelecer uma comparação justa entre as referidas cinematografias, levando em consideração o que passa apenas nos cinemas e os lançamentos em dvd nacional. Os filmes argentinos que chegam aqui são os de cineastas mais conhecidos e/ou premiados ou que possuem temáticas que sejam intrigantes o suficiente para causarem o interesse do espectador. Esse é o caso de XXY (2007), estréia na direção da roteirista Lucía Puenzo, que recebeu prêmios em Cannes e em outros festivais com esse filme. Isso garantiu uma distribuição do filme pelo menos dentro do circuito alternativo. A trama chama a atenção com o tema da jovem (ou do jovem) que possui os dois sexos, o chamado hermafrodita.
No elenco, como o pai da jovem "diferente" interpretada por Inés Efron está o "onipresente" Ricardo Darín. Valeria Bertucelli, outro rosto conhecido, é a mãe protetora. Eles criaram a jovem sem optar pela cirurgia na infância, mas como tinham que escolher por um sexo, preferiram criar Alex (um nome "unissex") como uma menina. Os problemas começam a ocorrer com mais força na adolescência. Alex precisa tomar hormônios femininos para que os traços masculinos não comecem a aparecer. A trama se passa numa ilha no Uruguai, onde a família formada pelos três passa uns dias junto com outro casal (onde um deles é especialista em cirurgia corretiva) e seu filho adolescente. Com a presença do rapaz, Alex se mostra, de cara, bastante ousada, já logo convidando o rapaz para o seu quarto. E tratando de dizer que o viu se masturbando e que também fazia isso todos os dias. Ele, de início, evita, tem medo dela, embora não saiba ainda que ela não é uma menina normal. A relação dos dois é o foco do filme, mas vale destacar também os momentos de Alex com o pai e com a mãe. E como XXY não escolhe para si um único ponto de vista, um dos destaques de Ricardo Darin no filme é o momento em que ele se encontra com um frentista que nasceu hermafrodita também.
O filme, embora não seja inovador na estética e tenha uma narrativa até bastante convencional, traz algumas tomadas interessantes, como o momento em que o pai flagra a filha (ou o filho) fazendo sexo com o jovem. Os momentos em que Alex sai correndo na floresta também são destaques visuais. No meio dessa pequena tragédia, que não é nada pequena se pensarmos nos sentimentos e nas preocupações dos pais e do próprio adolescente em relação a ter que escolher o seu próprio sexo, sem nem ao menos saber se gosta de homem ou de mulher. Alguns momentos do filme, não sei porque, me fizeram lembrar do cinema italiano, principalmente a seqüência do estupro na praia. Como se tivesse algo de Antonioni ou de Zurlini ali. Quanto a Inés Efron, ela fez tanto sucesso com esse filme que já tem no currículo trabalhos com dois cineastas argentinos mais conhecidos e respeitados mundo afora: Daniel Burman (EL NIDO BACÍO) e Lucrecia Martel (LA MUJER SIN CABEZA).
segunda-feira, maio 19, 2008
EFEITO DOMINÓ (The Bank Job)
De vez em quando o cinema do circuito comercial reserva boas surpresas, dessas que deixam a gente sair do cinema satisfeito com o que viu. EFEITO DOMINÓ (2008) é um desses casos. É o retorno à boa forma de Roger Donaldson, cineasta que ficou marcado por um ótimo thriller nos anos 80 - SEM SAÍDA (1987) -, mas que depois não conseguiu engrenar bons projetos, não sei se por falta de sorte ou se por falta de competência mesmo. O fato é que EFEITO DOMINÓ, independentemente de quem está por trás das câmeras, é um filme de assalto de tirar o fôlego e com uma trama de dar gosto. O fato de ter sido inspirada em fatos reais ajuda a deixar o espectador admirado com as reais razões por trás do incidente que resultou no maior assalto a banco já feito no Reino Unido. O filme é também mais um ótimo veículo para o inglês Jason Stathan se firmar como um dos melhores astros dos filmes de ação da atualidade. Talento e carisma ele tem de sobra.
Em EFEITO DOMINÓ (não confundir com o também ótimo O EFEITO DOMINÓ, de David Koepp), tudo começa quando fotos comprometedoras de uma princesa da família real inglesa vão parar no cofre de um banco e essa é uma das razões para que uma rede de intrigas, chantagens, escândalos e corrupção envolvendo a polícia, o MI-5, movimentos raciais radicais e até a indústria pornográfica desemboquem no tal assalto. A notícia de que certo banco está passando por uma mudança de sistema de segurança, estando, portanto, sem sistema de alarme, é o começo de tudo para Terry Leather, o trambiqueiro vivido por Jason Stathan, um sujeito casado e pai de família que vive sendo ameaçado pela máfia, a quem deve muito dinheiro. Uma mulher do passado de Terry, de nome e aparência bastante atraentes - Martine Love, vivida pela bela Saffron Burrows, mais conhecida de quem acompanha a série BOSTON LEGAL - é quem traz as boas novas. A proposta de um assalto aparentemente fácil a um banco seria uma boa maneira de sair do buraco e de mudar de vida para Terry, que acaba aceitando a perigosa proposta.
Além do perigo da tarefa, que deixa um ar de suspense o tempo todo, o clima libertino dos anos 70 é muito bem registrado no filme, que já começa com uma cena de sexo a três. EFEITO DOMINÓ é uma prova de que não é preciso uma super-produção, como a de O GÂNGSTER, de Ridley Scott, para recriar a década de 70, com seus carros, seu visual e seus penteados todo especial. Outra coisa que tornou o filme mais atraente pra mim foi o fato de ele ter conseguido equilibrar a leveza de filmes como UMA SAÍDA DE MESTRE - cuja continuação, aliás, também contará com a presença de Jason Stathan e cuja trama se passará no Brasil - com a tensão de filmes de assalto mais "sérios", onde o perigo é mais próximo do real. Agora, vamos ver quando os nossos cineastas vão tomar a coragem para fazer um bom filme sobre o assalto ao Banco Central em Fortaleza.
sábado, maio 17, 2008
THE OFFICE - QUARTA TEMPORADA (The Office - Season Four)
Eis uma série que se beneficia mais de maratonas do que ter de esperar por cada episódio semanal. Ainda por cima com a longa pausa, causada pela greve dos roteiristas e que teve que, assim como várias outras séries, acabar antes do esperado. A quarta temporada de THE OFFICE (2007/2008) começou de maneira ambiciosa. Os primeiros episódios tiveram uma hora, cada, isto é, contando com os intervalos da tv americana. Esses episódios de "uma hora" provaram que a série funciona melhor mesmo no seu tamanho normal. Mesmo assim, um dos melhores episódios dessa temporada - "Money", exibido antes da greve - foi um desses especiais de uma hora. Nesse episódio, Michael percebe que está à beira da falência, chegando até a pedir dinheiro emprestado aos seus colegas de trabalho e fechando com o final mais belo da temporada, com Michael e Jan sentados num vagão de um trem.
Apesar desses momentos mais românticos, a quarta temporada apostou mais no humor, já que o que havia de mais interessante no quesito "relacionamentos", que era o caso de amor envolvendo Pam e Jim, já havia sido resolvido no final da temporada anterior. Assim, a aposta no humor rendeu alguns bons momentos típicos de THE OFFICE, desses de causar constrangimento. Agora, fica até difícil de falar de episódios vistos no ano passado, depois dessa longa pausa, já que minha memória não é de ferro, mas um dos momentos mais memoráveis dessa temporada foi, sem dúvida, o momento em que Jim se solidariza com a tristeza de Dwight, o puxa-saco do chefe, que ficou de coração partido quando sua namorada secreta, a contadora antipática Angela, o trocou por outro colega de sala, o novato Andy. Aliás, dos empregados da filial que o Jim trabalhou na temporada passada, Andy foi o único que ficou no elenco. Apesar disso, a quarta temporada reservou um episódio interessante onde Jim tem um encontro embaraçoso com a sua ex, Karen, agora gerente regional da Dunder Mifflin. Esse episódio, "Branch Wars", foi, inclusive, dirigido por Joss Whedon. Outro nome conhecido na direção que apareceu nessa temporada foi o de Jason Reitman (JUNO), que dirigiu um epísódio no qual a sede da empresa, administrada por Ryan, pede para que a filial de Michael produza um comercial.
O retorno da série depois do hiato, agora em abril, foi um pouco decepcionante, só melhorando mesmo no episódio final, "Goodbye, Toby", que, como o próprio nome diz, trata-se da despedida de Toby da filial. Toby é o cara do R.H., o grande desafeto de Michael, que fica tão feliz com o seu pedido de demissão que resolve fazer uma festa de despedida bem cara, pois o momento é de celebrar. Como substituto para Toby, ele deixa uma mulher que atrai a atenção de Michael e que pode render algumas situações divertidas na temporada vindoura. O gancho no final foi brusco, mas deve servir para manter a série viva e desenvolver algumas situações engraçadas. A presença forte, ainda que curta de Jan, que aparece bonita e com uma surpresinha para o Michael, também pode ser registrado como um dos pontos altos dessa season finale. Há também uma surpresa envolvendo o Ryan e deixando dúvidas se ele estará ou não presente no elenco da próxima temporada. Agora, não sei como farei quando começarem os novos episódios: se continuarei acompanhando semanalmente ou se deixarei para ver tudo de uma vez só.
quinta-feira, maio 15, 2008
NA NATUREZA SELVAGEM (Into The Wild)
Quarto longa-metragem dirigido por Sean Penn, NA NATUREZA SELVAGEM (2007) é sem dúvida o seu mais bem sucedido trabalho. Trata-se de um filme sobre a trajetória real de um jovem que abdica do conforto e do dinheiro que herda dos pais e, assim que termina o seu curso de graduação, parte numa viagem até o Alasca, atravessando várias cidades dos Estados Unidos. Até mesmo o velho carro que ele então usava é deixado pelo caminho, depois de uma forte onda quase tê-lo destruído. Ele não aceita quando o pai (William Hurt, em pequeno mais tocante papel) resolve o presentear com um carro novo. Como um gesto extremo de rejeição ao capitalismo, ele deixa o carro pelo caminho e ainda faz questão de queimar o dinheiro que tinha disponível no bolso e todos os seus documentos, passando a se auto-entitular Alexander Supertramp. Nesse momento, eu me lembrei que Penn, sempre visto como um rebelde, foi o cara que ousou fazer um segmento sobre o World Trade Center no trabalho coletivo 11 DE SETEMBRO (2002), onde ele mostra a sombra das torres como algo até maléfico e que impedia as flores de determinado apartamento florescerem. Isso, dentro de um filme que supostamente teria que homenagear os heróis, prantear as vítimas do atentado e valorizar a imponente construção destruída.
Mas Penn não leva a sua rebeldia ao sistema e à sociedade às últimas conseqüências neste NA NATUREZA SELVAGEM, como se pode ver com a lição que é deixada no final, quando o jovem Chris McCandless (interpretado pelo mesmo Emile Hirsch, de SPEED RACER) perde a briga contra a natureza. A natureza, que ele tanto amava em detrimento das pessoas. Não que ele não gostasse das pessoas. As idas e vindas no tempo que mostram a sua trajetória comprovam que ele era um rapaz que tinha uma relação social com as pessoas bastante saudável - embora note-se que ele tinha uma atração pela solidão. Sem falar que McCandless tinha um grande carisma e atraía instintos maternais, paternais, de companheirismo e até de atração física por onde que quer que ele passasse. Nesse caminho, ele conhece os hippies vividos por Catherine Keener e Brian Dierker, a honkytonk girl vivida por Kristen Stewart, o velho veterano de guerra interpretado por Hal Holbrook e um companheiro meio malandro, na pele de Vince Vaughn, que brilha, mesmo nos poucos momentos que aparece. O relacionamento de Chris com essas pessoas que passam pela sua vida chega a ser tocante e, nesse sentido, lembra um pouco HISTÓRIA REAL, de David Lynch.
A bela trilha sonora de Eddie Vedder ajuda a compor um clima que valoriza tanto as fartas paisagens naturais tipicamente americanas, quanto o sentimentalismo que o filme deixa no espectador, apesar de todo o entusiasmo juvenil de McCandless. O filme foi inspirado no livro homônimo de Jon Krakauer e conta com a fotografia de Eric Gautier, de DIÁRIOS DE MOTOCICLETA. No filme de Walter Salles ele já havia mostrado o seu talento para fotografar paisagens. A atuação de Emile Hirsch é surpreendente. E pensar que se trata do mesmo ator que protagonizou SHOW DE VIZINHA! Uma das curiosidades mais interessantes do filme dizem respeito às locações: Sean Penn filmou-as nos pontos reais da jornada de McCandless. Inclusive, o "ônibus mágico", onde ele ficou abrigado durante meses no Alasca escrevendo apontamentos sobre os seus sentimentos em relação à sobrevivência num ambiente selvagem, é o mesmo.
terça-feira, maio 13, 2008
TERROR EM MERCY FALLS (Frágiles / Fragile)
Antes de PARA ENTRAR A VIVIR (2006) e do sucesso internacional de [REC] (2007), o catalão Jaume Balagueró realizou essa produção falada em inglês e estrelada por Calista Flockhart. A exemplo do que acontecia com o cinema de gênero italiano das década de 60 e 70, Balagueró suspeita que a presença de um rosto hollywoodiano conhecido e a utilização da língua de Shakespeare podem ser bons meios para atrair espectadores para os seus filmes. Foi assim com o seu trabalho mais conhecido, a injustiçada obra-prima A SÉTIMA VÍTIMA (2002), um dos filmes recentes que mais emulam os bons tempos do cinema de horror gótico italiano de mestres como Dario Argento e Mario Bava. Pouca gente gostou ou entendeu e aqui no Brasil, depois de receber uma saraivada de críticas negativas quando da exibição nos cinemas, o filme recebeu uma porca edição em dvd em tela cheia. Porém, devido ao sucesso de [REC], alguns cinéfilos estão reavaliando a carreira de Balagueró. E como já fazia algum tempo que eu tinha baixado TERROR EM MERCY FALLS (2005), antes mesmo de ele ganhar um título nacional e de ser lançado em dvd, resolvi pegar o filme pra ver enquanto me preparo pra ver [REC].
TERROR EM MERCY FALLS é uma estória de fantasmas. Não é muito diferente de tantas outras que foram contadas por tantos outros filmes, mas que tem o seu diferencial, o seu charme europeu. Na trama, Calista Flockhart - mais conhecida pela série ALLY McBEAL e por ser hoje a sra. Harrison Ford -, é uma americana que chega numa pequena cidade litorânea da Inglaterra para trabalhar como enfermeira noturna em um hospital para crianças. O prólogo do filme já antecipa quais seriam os problemas das crianças. Nesse prólogo, um menino tem seus ossos misteriosamente quebrados "espontaneamente". Ao chegar no hospital e durante sua primeira noite, ela nota estranhos barulhos vindos do andar de cima, o segundo andar, que se encontra misteriosamente desativado. E uma das crianças do hospital, Maggie, fala que mantém contato com uma criança chamada Charlotte, a "garota mecânica", que naturalmente todos no hospital não acreditam ou não querem enxergar a verdade e permanecem dizendo que a tal Charlotte seria fruto da imaginação de Maggie.
TERROR EM MERCY FALLS pode ser melhor apreciado se o espectador não esperar muito do filme. Até porque, a avalanche de estórias de fantasmas vindas principalmente do Japão e copiadas por outros países tornaram o sub-gênero "filme de fantasma com crianças" algo banal. Mas como eu já disse: trata-se de um horror europeu, há um diferencial, um toque diferente. Se bem que eu prefiro os filmes de horror europeus que não trazem um final muito bem explicado - caso de A SÉTIMA VÍTIMA. E TERROR EM MERCY FALLS explica demais no final, sendo bem mais quadrado e hollywoodiano do que eu imaginava. Sem falar que falta ao filme algo que é primordial no gênero: causar medo ou pelo menos uma atmosfera arrepiante ou sufocante, coisa que Balagueró não consegue nesse trabalho. Mesmo assim, trata-se de uma estória bem conduzida e longe de aborrecer, especialmente para os fãs do gênero. Espero bem mais de [REC], que devo ver em breve.
segunda-feira, maio 12, 2008
MUTUM
Interessante observar a variada quantidade de novos cineastas que têm surgido nos últimos anos. Não sei se daqui a alguns anos estaremos olhando para esse atual momento e dando um nome a ele, como se estivesse acontecendo alguma espécie de evento especial, como o cinema novo, nos anos 50/60 e o cinema marginal nos anos 60/70. Uma pena que muitos cineastas que fizeram a alegria do povo nas décadas de 70 e 80 não estejam sendo muito respeitados pelos financiadores e alguns deles acabam tendo dificuldades de produzir e colocar em cartaz os filmes que tanto deseja. Enquanto isso, os jovens realizadores, alguns deles, do sexo feminino (eu tenho uma teoria de que a quantidade de cineastas-mulheres vai aumentar consideravelmente nos próximos anos), têm mostrado belos e inspirados filmes. É o caso de Sandra Kogut e seu primeiro longa-metragem de ficção, MUTUM (2007), baseado em obra de Guimarães Rosa. Sandra é autora do premiado documentário PASSAPORTE HÚNGARO (2001), realizado quando de sua estada na Europa, onde ensaiava a carreira dirigindo curtas-metragens.
Mutum é o nome de uma localidade do sertão mineiro, o lugar onde se passa a estória, vista sob a ótica de um garoto chamado Tiago. O menino tem 10 anos de idade e seu melhor amigo é o seu irmão. No início do filme, notamos a inocência do garoto, quando ele volta da cidade e traz para os seus irmãos um "santinho" que encontrou no chão. Na verdade, tratava-se de um calendário com uma fotografia de uma mulher nua, que os pais do menino logo tratam logo de dizer que aquilo é imoral, rasgando a foto. O filme vai mostrando aos poucos a dura realidade da família de Tiago. Seu pai, interpretado por João Miguel, de CINEMA ASPIRINAS E URUBUS, é um homem rude e que fica ainda mais agressivo quando descobre que está sendo chifrado. Sua mulher tem uma queda pelo cunhado, que é enxotado pela família para que sua presença não cause uma tragédia.
E assim, aos poucos, vamos nos acostumando com aquele ambiente rústico e que até parece se passar no século XIX, de tão distante que parece estar da civilização. Há uma interessante opção por uma ausência de trilha sonora, substituída pelo som das árvores, dos pássaros e dos passos dos personagens pisando as folhas caídas no chão. Os diálogos são curtos, havendo um espaço maior para a valorização das imagens. No campo das emoções, Sandra Kogut optou pelas sutilezas, quando poderia fazer um filme bem mais carregado nas tintas e bem mais popular, mas aposto que o filme faria a alegria de François Truffaut, se ele estivesse vivo, ele que tinha um olhar generoso para o universo infantil no ambiente hostil dos adultos. Uma das seqüências finais, aquela em que o menino pede o par de óculos do médico emprestado para dar uma última olhada na sua família e em sua localidade natal, é um dos mais belos momentos do cinema brasileiro recente, bem como a cena da mãe, que apesar de sentir pesar pela ausência do filho, tenta procurar sempre o que é melhor para ele. MUTUM foi o grande vencedor do Festival do Rio de 2007 e cada vez que eu penso no filme, mais eu gosto dele.
domingo, maio 11, 2008
SPEED RACER
Minha intenção ontem à noite ao sair de casa era ver o argentino XXY no Espaço Unibanco e ficar longe da multidão e do barulho dos shopping centers. Mas não foi isso o que o destino quis. Fiquei simplesmente meia hora parado num engarrafamento próximo ao North Shopping. Não havia nenhuma batida. Era tudo culpa mesmo do consumismo do Dia das Mães, que faz a alegria das lojistas. Como já tinha perdido o horário da sessão mesmo, resolvi fazer uma saída pela direita - como diria o Leão da Montanha - e ir até o Iguatemi pegar uma sessão de SPEED RACER, que planejava ver de qualquer maneira no domingo - não gosto muito de ir ao cinema sábado à noite, especialmente sozinho. Depois de mais de uma hora dentro do carro e de encontrar, com dificuldade, uma vaga no estacionamento, lá vou eu para a bilheteria. Felizmente, todos aqueles carros eram de gente que estava ali pra comprar presentes para as mães - que merecem, claro - e não para ir ao cinema. Cheguei na hora exata de uma das sessões legendadas do filme, só dando tempo pra comprar um lanche rápido para aplacar a fome, que era maior que a vontade de ver o filme. Mal sabia eu que iria sair do cinema com náuseas, devido às intermináveis e frenéticas cenas de corrida que juntando com o barulho e as mais de duas horas de filme tornariam a sessão não muito divertida pra mim. Mas analisemos o filme, tentando esquecer um pouco esse meu problema de labirintite, que deve ter interferido na apreciação da obra.
SPEED RACER (2008) é o aguardado retorno às telas dos irmãos Wachowski, depois do sucesso misturado com desapontamento da trilogia MATRIX (1999-2003). Dessa vez, para homenagear uma das primeiras animações japonesas a fazer grande sucesso em todo o mundo, inclusive no Brasil. Eu, como nunca fui fã do desenho e não lembro de ter assistido sequer um episódio completo, apenas partes, fui ao cinema sem ter nenhum conhecimento sobre a trama e sobre os personagens. Por isso acredito que mesmo para aqueles que nunca viram o desenho, fica a impressão de que os irmãos Wachowski fizeram um excelente trabalho de transposição de uma animação para um filme em live-action. Quer dizer, eles fizeram praticamente o filme inteiro utilizando CGI, logo, trata-se de um filme híbrido, o que não é exatamente uma novidade, mas que aqui é levado às últimas conseqüências.
O que mais impressiona em SPEED RACER é o colorido, que remete aos bons tempos do techinicolor, nos anos 50 e 60, onde as cores eram mais vivas. O visual retro-futurista também joga o filme para os anos 60, ao mesmo tempo que se passa aparentemente numa espécie de futuro. Vale lembrar que 1967, ano da produção do anime original, foi o ano mais psicodélico do século no campo das artes e para manter o filme fiel ao espírito da época, há também uma explosão de cores, como numa viagem de ácido. Um dos filmes coloridos dos anos 60 que eu mais lembrei enquanto via SPEED RACER foi PERIGO: DIABOLIK, de Mario Bava, especialmente pela presença do personagem Corredor X (Matthew Fox, que quase sempre aparece de máscara e tem aquele jeitão cool). A trilha sonora de Michael Giacchino também tenta emular as trilhas dos filmes da década de 60.
A trama gira em torno do corredor Speed Racer (Emile Hirsh, do ótimo NA NATUREZA SELVAGEM). Speed vive à sombra do irmão, morto num acidente de carros numa das corridas que participou. O uso dos flashbacks para mostrar a infância de Speed, que não conseguia prestar atenção às aulas e só pensava em carros, e o seu relacionamento com o irmão mais velho Rex Racer e a repercussão de sua morte é utilizado de maneira original, com as ações e os personagens passando pela tela como numa animação antiga. Speed tem uma família bem interessante: um pai que ama o automobilismo (John Goodman), uma mãe compreensiva (Susan Sarandon) e um irmão caçula e um chimpanzé, que sempre estão aprontando das suas. Meio que já fazendo parte da família, há também a namorada, vivida por Christina Ricci, que com seus belos olhos grandes, é uma atriz perfeita para uma adaptação live-action de um anime. Ao vencer uma importante corrida, Speed é convidado por um empresário de uma grande empresa de carros de corrida a assinar um contrato. Ao ver os bastidores da empresa do tal sujeito, que se comporta como uma espécie de demônio tentador, Speed fica na dúvida se deve ou não se juntar ao time dos grandes ou continuar na empresa humilde e independente do pai.
Um dos problemas do filme está nos longos diálogos envolvendo negociações e espionagem, mas ao mesmo tempo isso é uma maneira de descansar os olhos das cenas frenéticas de corrida hiper-colorida. Aliás, a certa altura do filme, as cenas de corrida, que no começo eram diferentes e originais, vão se tornando repetitivas e cansativas, especialmente a última corrida. Até porque o campeonato mais perigoso, o Rally Casa Cristo, é o clímax do filme. Desse modo, a última corrida se torna chata e tediosa. Ainda por cima levando em consideração que, a essa altura, o filme já havia passado das duas horas de duração, seguindo a tradição dos filmes da série MATRIX. E por mais que o filme seja bem interessante em seus aspectos técnicos, tenha seus momentos simpáticos e dê suas alfinetadas nas grandes corporações, SPEED RACER mais cansa do que empolga e, pra mim, isso traz pontos negativos para uma obra cuja intenção principal deveria ser divertir.
P.S.: Está no ar a edição de número 20 da Revista Zingu!, que esse mês destaca um realizador esquecido do livro "Cinema da Boca: Dicionário de Diretores", de Alfredo Sternheim. Seu nome: Julius Belvedere. Mas o que mais me deixou comovido nessa edição foi a Carta ao Leitor escrita pelo editor Matheus Trunk. Leiam e veja o porquê. Na seção Ruído, Laís Clemente escreve sobre o revolucionário álbum BLONDE ON BLONDE, do mestre Bob Dylan. Na sessão Musas Eternas, a homenageada da vez é a Maria Cláudia, uma das beldades que estiveram presentes na obra-prima EROS, O DEUS DO AMOR, de Walter Hugo Khouri. Marcelo Carrard contribui com dois ensaios, um sobre enfermeiras no cinema, outro sobre cinema e culinária, além de continuar seu passeio pela obra de Russ Meyer.
quinta-feira, maio 08, 2008
O NEVOEIRO (The Mist)
Parece que Frank Darabont só funciona quando faz adaptações de obras de Stephen King. Nisso, ele é ótimo. Encantou o mundo com UM SONHO DE LIBERDADE (1994) e emocionou a muitos com À ESPERA DE UM MILAGRE (1999). Porém, quando tentou fazer algo diferente - CINE MAJESTIC (2001) -, quebrou a cara. Resultado: passou todos esses anos sumido, voltando agora de maneira triunfal, novamente com mais uma adaptação do mestre da literatura de horror. E dessa vez com um filme de terror de verdade. O NEVOEIRO (2007), comprado pela Paris Filmes e ainda sem data certa de lançamento nos cinemas (parece que estréia em junho, mas pode ser que entre em cartaz antes), é um desses filmes que honram o gênero horror, gênero que anda muito maltratado nas telas de cinema ultimamente, com coisas como IMAGENS DO ALÉM, AWAKE - A VIDA POR UM FIO e UMA CHAMADA PERDIDA passando atualmente nas salas do país enquanto obras mais interessantes ou vão direto para as locadoras ou são simplesmente ignoradas. Acreditando que O NEVOEIRO iria parar direto nas locadoras, não resisti e acabei baixando a cópia em dvdrip disponível na internet.
Trata-se de uma obra que nada tem a ver com A BRUMA ASSASSINA, de John Carpenter, nem tampouco deve ser confundido com sua refilmagem, que dizem ser bem ruim. O NEVOEIRO é um filme com tons apocalípticos que mostra um grupo de pessoas presas dentro de um mercadinho por causa de uma estranha névoa que mata aqueles que dela se aproximam. O filme começa com uma ótima seqüência de tempestade, que acaba por fazer alguns estragos e a destruir a casa da árvore da família de David Drayton, o personagem de Thomas Jane, tendo destruído também o carro de seu vizinho pouco amistoso, que, mesmo assim, pede carona a David até a cidade a fim de fazer umas compras. Desse modo, os dois, junto com o filho pequeno do protagonista, chegam a esse mercadinho, onde já se percebe que alguma coisa está muito estranha, a começar pelo comportamento dos militares presentes no lugar, que parecem estar escondendo alguma coisa. O fato de todos estarem incomunicáveis devido à falta de energia elétrica também contribui para um clima de isolamento e de incomunicabiliade com o mundo exterior. Como trata-se de uma cidade pequena, onde muita gente se conhece há muito tempo, o filme lembra um pouco OS PÁSSAROS, de Hitchcock. Juntando-se isso ao clima apocalíptico, temos um dos filmes recentes que mais flerta com o clássico hitchcockiano, embora tenha optado por um final bem distinto.
Por outro lado, as criaturas que saem da névoa para devorar os homens fazem lembrar o visceral cinema de John Carpenter, inclusive pelo uso do gore, e o fato de mostrarem pessoas presas num ambiente fechado remete a O DESPERTAR DOS MORTOS, de George Romero. Mas o que mais torna o filme uma obra superior à média dos filmes de gênero produzidos atualmente é a tensão existente dentro do lugar e a relação tumultuada que existe entre os refugiados. Marcia Gay Harden é destaque do filme, no papel de uma fanática religiosa que acredita que aquilo tudo é o início do fim e que tudo está registrado no Apocalipse de São João. Aos poucos, essa mulher passa a ser menos um incômodo e mais uma ameaça, já que ela começa a fazer com que as pessoas passem a acreditar que ela tem razão e que é uma espécie de profetisa. Mas entre os momentos mais empolgantes, destaco o ataque dos insetos gigantes! E tem algo no filme que me fez lembrar da leitura de ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA, cuja adaptação de Fernando Meirelles é um dos filmes mais aguardados do ano pra mim.
quarta-feira, maio 07, 2008
A ILHA DOS PRAZERES PROIBIDOS
Depois de ver O DRAGÃO DA MALDADE CONTRA O SANTO GUERREIRO, de Glauber Rocha, deu vontade de assistir com mais freqüência clássicos do cinema brasileiro. Opções é que não faltam em casa. Comecemos, então, por A ILHA DOS PRAZERES PROIBIDOS (1979), o maior sucesso de bilheteria da carreira de Carlos Reichenbach. O filme é bastante ousado, não apenas no que se refere ao erotismo, que eu considero de menor intensidade que o mostrado no filme seguinte, IMPÉRIO DO DESEJO (1980), mas por tratar de temas bastante complicados naquele momento de ditadura militar pesada e de perseguição aos artistas. Os censores temiam que os artistas colocassem algum conteúdo "impróprio" em suas obras. Mas o sexo estava liberado. De forma a driblar os censores, Carlão não apenas satisfez a vontade do produtor da Boca do Lixo, Antônio Polo Galante, que queria um filme com muita sacanagem, como também conseguiu fazer um filme político utilizando metáforas, trocando inteligentemente a política pelo sexo.
Na trama, Ana (Neide Ribeiro) é uma suposta jornalista que trabalha no Estado de São Paulo - jornal que até hoje leva o estigma de jornal de direita e de ter apoiado a ditadura. Na verdade, ela é uma assassina profissional, que é contratada por uma corporação cuja missão é eliminar os subversivos. Parte deles estariam nessa tal ilha, que se localiza aparentemente em outro país. Para se chegar lá é preciso primeiro atravessar um rio e depois os guardas do local fiscalizam a bagagem dos estranhos que entram no lugar em busca de armas ou qualquer outro objeto suspeito.
Roberto Miranda é o personagem que, sem saber de nada e vivendo tranqüilamente com sua namorada/esposa numa casa próxima às margens do rio, é o guia da espiã, que pede que ele a leve para conhecer a ilha e algumas pessoas que ela deseja conhecer para fazer umas entrevistas, no caso com os dois refugiados que estão em sua lista negra. Depois de matar a namorada do rapaz sem que ele saiba, os dois partem para a tal ilha. O primeiro personagem que conhecemos da ilha é um rapaz meio louco, vivido por Fernando Benini, que passa os dias numa barraca ao lado de duas moças gostosas e liberadas sexualmente. A primeira vez que Benini aparece ele está fotografando a nudez de uma dessas belas jovens. Às vezes os diálogos não fazem sentido, especialmente quando está em cena o personagem de Benini.
Como é comum ver em alguns filmes do diretor, a sacanagem e a baixaria convivem lado a lado com a erudição e com as referências a cineastas apreciados por Carlão, como Jean-Luc Godard e Samuel Fuller, no caso. As citações eruditas, que causaram estranheza no público atual durante as exibições do recente FALSA LOURA (2008), já se faziam presentes em A ILHA... Uma das coisas que eu mais gostei foi a utilização de duas canções de John Lennon no filme: "Real Love" e "God", duas das mais inspiradas faixas do ex-Beatle. Há também Pink Floyd na trilha sonora, mas como não sou muito ligado no som da banda, nem reparei. E olha que o Carlão falou que a música é do disco DARK SIDE OF THE MOON, que foi o único disco da banda que eu comprei, embora tenha-o vendido num sebo.
A ILHA DOS PRAZERES PROIBIDOS teve alguns cortes feitos pela censura, mas nada que chegue a atrapalhar o andamento da narrativa. Para criar a personagem da espiã assassina, Carlão se inspirou em literatura barata, em livros vendidos em bancas de jornal, pulp fiction. Literatura barata, pouca grana, pouco tempo para realizar o filme (apenas três semanas) e o resultado foi essa maravilha. Viva o cinema bom e barato!
Agradecimentos ao amigo Sandro Ramos, que fez a gentileza de gravar esse filme pra mim do Canal Brasil.
terça-feira, maio 06, 2008
NASCIDA ONTEM (Born Yesterday)
O dia hoje foi de cão. O trabalho, por mais que não tenha sido tão puxado fisicamente, anda sendo puxado psicologicamente, espiritualmente até. Não estou me sentindo à vontade e, por incrível que pareça, as duas horas que passei de boca aberta me submetendo a um tratamento de canal num dentista durante a tarde foram mais agradáveis que as horas lá na empresa. Pra completar, uma greve de ônibus fez com que o trânsito ficasse caótico e levei quase duas horas pra chegar da Aldeota até a escola no Conjunto Ceará. Apesar disso, e apesar dos alunos que não querem "porra nenhuma" e que eu peço a gentileza de se retirarem quando estão se excedendo no mal-comportamento, estar lá na escola, dando aula de Literatura pra alguns poucos interessados foi até que agradável e de efeito quase que terapêutico . A minha intenção hoje era escrever sobre outro filme, mas como já está um pouco tarde e eu acho mais fácil falar dos filmes de George Cukor, então, vou logo adiantando aqui o que eu pretendia deixar só pra sexta-feira.
NASCIDA ONTEM (1950) é o filme que entrou para a história por ter faturado o prêmio de melhor atriz para Judy Holliday, quase uma novata no cinema mas que já tinha roubado a cena nas poucas vezes em que apareceu no já citado A COSTELA DE ADÃO (1949). Até aí nada de mais, já que o desempenho dela é muito bom, mas o que deixou muita gente indignada foi o fato de suas quatro concorrentes serem Bette Davis e Anne Baxter, ambas por A MALVADA, Gloria Swanson, por CREPÚSCULO DOS DEUSES, e Eleanor Parker, por À MARGEM DA VIDA. Páreo duro, hein. Prêmios à parte, Cukor gostou tanto da atriz que a tornou protagonista dessa agradável comédia sobre uma loira burra que tem os seus olhos abertos graças à educação.
Pronto. Está aí um filme que até poderia servir de exemplo e de incentivo em muitas escolas. Para mostrar o quanto a educação pode tornar uma pessoa melhor, mais interessante, mais inteligente e mais esperta. E até mais atraente. Holliday, nesse sentido, seria uma espécie de Marilyn Monroe não tão bonita e sensual, mas que também morreria muito cedo, vítima de câncer, em 1965, duas semanas antes de completar 44 anos. (É impressão minha ou as pessoas costumam morrer quando estão em seu inferno astral?) Desse modo, Holliday não teve uma carreira longa. Depois de NASCIDA ONTEM, fez apenas mais sete filmes, sendo dois deles dirigidos por seu bom mentor, Cukor: DA MESMA CARNE (1952) e DEMÔNIO DE MULHER (1954), ambos inéditos no Brasil em dvd, mas que eu já consegui por fontes alternativas.
NASCIDA ONTEM foi baseado numa peça de sucesso da Broadway, encenada pela própria Judy Holliday durante quatro anos. Mas o cabeça da Columbia, o sr. Harry Cohn, não queria que Judy reprisasse o seu papel na versão para o cinema, preferindo Rita Hayworth. Porém, como Rita não queria mesmo o papel e tinha acabado de se casar com o príncipe Aly Khan, não deu certo mesmo. E assim como aconteceu com Grace Kelly, o casamento de Rita acabou por afastar a estrela das telas por um longo tempo. No fim das contas, o chefe da Columbia, depois de ver o desempenho de Judy Holliday em A COSTELA DE ADÃO, aceitou a proposta de George Cukor de escalar a loira. No filme, ela contracena com William Holden, contratado pelo namorado mafioso da moça (Broderick Crawford, fazendo uma espécie de versão exagerada de Tony Soprano) para torná-la menos burra, ensinar a ela bons modos e um pouco de cultura, para que ele não faça ele passar tanta vergonha. O tiro sai pela culatra e a mulher vai ficando cada vez mais interessada em livros, em museus, em política e em cultura em geral e acaba por querer se separar dele, por achá-lo um sujeito grosso e corrupto. NASCIDA ONTEM é um belo conto moral e mais um ponto positivo na carreira de Cukor.
segunda-feira, maio 05, 2008
ACROSS THE UNIVERSE
Já estava tão acostumado a ouvir a trilha sonora de ACROSS THE UNIVERSE (2007) que boa parte da graça do filme se esgotou pra mim quando finalmente ele aportou nas telas da cidade. Ainda assim, trata-se de um filme que chega para suprir a carência de bons videoclipes, formato que está em fase de decadência, devido a uma série de fatores, sendo a internet o principal deles. E é assim que eu vejo o filme de Julie Taymor (de FRIDA, 2002): um grande e belo videoclipe que não corre o risco de se aventurar em canções originais, preferindo as já consagradas pérolas dos Beatles, aqui com novos arranjos e, em sua maioria, interpretadas pelo próprio elenco, encabeçado por Jim Sturges e a encantadora Evan Rachel Wood. Inclusive, por mais que o filme possa não agradar a alguém, difícil não sentir um certo prazer estético só de olhar para a beleza dessa jovem, que, de bônus, ainda aparece nua em algumas poucas cenas. (E pensar que quem está se dando bem com ela é o Marilyn Mason...)
A trilha sonora, que foi o primeiro contato que eu tive com o filme, achei tão boa que considero até melhor que a de UMA LIÇÃO DE AMOR, que teve uma série de medalhões fazendo versões das canções de Lennon e McCartney. Em ACROSS THE UNIVERSE, apenas duas celebridades aparecem no filme e na trilha: Joe Cocker, interpretando "Come together" e Bono, com uma versão meia boca de "I am the Walrus". Se bem que foi através da versão dele, nesse filme, que eu comecei a entender um pouco o significado dessa canção. E como acho um pouco confusas essas músicas da fase psicodélica dos Beatles, qualquer luz que venha para clarear o sentido do que eles procuraram dizer é bem vindo.
O filme segue a cronologia e o clima dos anos 60, que começa de forma ingênua, ainda com a influência dos anos 50, para depois atingir um estágio de psicodelia e rebeldia com o estado das coisas a partir da segunda metade da década. Desse modo, o filme se inicia com aquelas canções mais ingênuas, como "Hold me tight", "All my loving" e "I want to hold your hand" até descanbar na loucura colorida de faixas como "Strawberry fields forever", "Happiness is a warm gun" e "Being for the benefit of Mr. Kite". O uso do LSD nesses momentos de fuga da realidade não é explicitado, mas pode ser sugerido. "Helter Skelter" é usada no momento da briga entre estudantes e policiais, quando das revoltas juvenis contra a Guerra do Vietnã, o que não deixa de ser uma escolha óbvia.
Quanto à trama do filme, não há muito o que contar: é uma estória de amor envolvendo Jude (Jim Sturges) e Lucy (Evan Rachel Wood). Ele, um inglês estivador que chega aos Estados Unidos e faz amizade com um rapaz, que é irmão de Lucy, por quem ele se apaixona. Aliás, os dois se apaixonam um pelo outro, formando um belo casal. Mas a estória é apenas um pretexto para as várias e belas seqüências musicais, algumas, de uma beleza plástica impressionante. Mas são tantas as canções que chega a cansar a certa altura, principalmente para quem não é muito afeito a musicais. E falando em Jude e Lucy, esses não são os únicos nomes a citar canções dos Beatles. Há personagens como a Sadie, a Prudence (que chega no albergue pela janela do banheiro - "she came in through the bathroom window"), a Martha, a Rita. A bela fotografia do filme é creditada a Bruno Delbonnel, de O FABULOSO DESTINO DE AMELIE POULIN.
sábado, maio 03, 2008
A COSTELA DE ADÃO (Adam's Rib)
Foi o primeiro grande momento de Judy Holliday no cinema, embora a primeira vez que George Cukor a utilizou tenha sido em ENCONTRO NOS CÉUS (1944), num papel bem pequeno. Ela atingiria o estrelato (e ganharia um Oscar!) no ano seguinte, com NASCIDA ONTEM (1950), mas isso é assunto para um próximo post. Porém, Hollyday não poderia deixar de ser mencionada quando o assunto é A COSTELA DE ADÃO (1949), mais um veículo para a parceria do casal Katharine Hepburn e Spencer Tracy.
Judy Holliday abre o filme com um ar de mulher angustiada. De arma na mão, flagra o marido com a amante num quarto de hotel, atira nele e assusta a mulher. Depois, abraça o marido, caído no chão, ferido, e chora. O marido não a perdoa e ela vai ao tribunal. Sua advogada de defesa é a personagem de Hepburn, que por acaso é também casada com um advogado, que por acaso é o advogado do marido. Vê-se que não se trata de um drama de tribunal, mas de uma comédia sobre a guerra dos sexos. De dia, os dois se enfrentam no tribunal. Ela faz questão que todos os jurados sejam pessoas que acreditam que deva existir uma igualdade de direito entre os sexos. Se fosse um homem no lugar da mulher, um homem que se sentisse traído e que, tendo sua honra ferida, fizesse o mesmo, provavelmente seria absolvido. Esse é o ponto principal da defesa da advogada.
Entre as curiosidades do filme, vale destacar a cena em que Katharine contracena com Judy na prisão e Judy está tremendo de verdade. Aquilo ali não é uma atuação, mas nervosismo mesmo, afinal, ela era uma atriz que estava praticamente estreando seu primeiro papel importante ao lado de uma gigante do cinema. Felizmente, Cukor teve a sabedoria de manter a cena, que dessa forma ficou ainda mais convincente. Holliday estava realmente aterrorizada e isso se manifesta também em seu olhar. Mas depois desse momento, ela aparece pouco no filme, algumas vezes no tribunal. Boa parte da graça do filme acontece à noite, quando o casal de advogados tenta manter o seu casamento na linha depois de um dia inteiro se degladiando. Não há muito o que acrescentar à já conhecida química existente entre os experientes intérpretes, que tinham a vantagem de também serem amantes na vida real, o que só aumentava o grau de intimidade - por isso as cenas em que eles demonstram afeto são puras, autênticas. Pode-se dizer que Katharine Hepburn e Spencer Tracy formaram o maior casal da história do cinema. Maiores que Humphrey Bogart e Lauren Bacall e que Elizabeth Taylor e Richard Burton.
Pena que, apesar de ter esse belo elenco e uma trama até interessante e de apelo universal, A COSTELA DE ADÃO não é das melhores comédias de Cukor. Ainda assim, Spencer Tracy me emocionou numa das seqüências finais, que depois vemos que é pura encenação, dentro e fora das telas. E ele me enganou direitinho. Apesar de já terem contracenado juntos em cinco filmes, foi a primeira vez que o casal atuou num filme de Cukor, que, naturalmente, era mais amigo de Kate, desde o início dos anos 30. Sob a batuta de Cukor, os dois ainda apareceriam em A MULHER ABSOLUTA (1952), que deverá ser comentado por aqui também futuramente. Um personagem que poder-se-ia dizer que é a cara de Cukor é o do pianista interpretado por David Wayne, que faz o papel de um rapaz efeminado que é apaixonado pela personagem de Hepburn.
P.S.: Não tive a chance de falar aqui, mas esse mês de abril foi, como diria o Rei, cheio de emoções pra mim. Não é por acaso que estou me sentindo exausto nesse início de maio, reflexo da ressaca que foi esse inesquecível mês de abril. Que maio seja melhor ainda! E falando em emoções, aproveito o gancho pra falar de LOST: alguém mais se emocionou com o último episódio exibido - "Something Nice Back Home"? Um dos episódios que melhor equilibra o drama e o mistério da série. Agora falta muito pouco pra terminar a temporada.
sexta-feira, maio 02, 2008
HOMEM DE FERRO (Iron Man)
Acho ótima a iniciativa da Marvel de fazer um estúdio próprio e de torná-lo tão gigante no cinema quanto o é nos quadrinhos. Um dos principais problemas é sempre a comparação com o original e a tentativa quase que obrigatória de ter que contar a origem de um herói no primeiro filme. O que mais me incomodou neste HOMEM DE FERRO (2008) - que foi entregue a um cineasta aparentemente estranho ao meio como Jon Favreau - foi o modo burocrático como o diretor conta a estória de Tony Stark, tornando o filme uma experiência muitas vezes entediante. Por mais que Robert Downey Jr. seja o Tony Stark perfeito, ficou faltando um pouquinho mais de sal nessa primeira incursão dos estúdios Marvel. Quer dizer: quando um filme de super-herói oferece como melhores momentos as cenas do relacionamento entre Stark e sua assistente, vivida por Gwyneth Paltrow, é porque tem alguma coisa de errada nisso aí. O último filme do Homem-Aranha, por mais que tenha os seus defeitos, tinha momentos fantásticos. Os dois filmes do Quarteto Fantástico, também entregues a um diretor até então medíocre, resultaram em diversão para toda a família. Infelizmente o mesmo não pode ser dito de HOMEM DE FERRO, que a certa altura fica parecendo uma continuação de TRANSFORMERS, quando da luta final do protagonista com o maior vilão do filme. Se bem que Favreau poderia ter feito algo bem pior se o seu projeto de levar às telas uma versão puxando mais para o cômico do Capitão América tivesse saído do papel.
HOMEM DE FERRO também decepciona por ter mostrado um trailer muito bom, com direito à canção "Iron Man", do Black Sabbath, numa cena crucial, coisa que não acontece no filme. Até tocam a música, mas é só lá nos créditos finais. Tudo bem, isso pode ser relevado em nome da ação. Mas na verdade são poucas as cenas de ação, embora o filme seja até movimentado como um thriller de espionagem e não possua seqüências explicitamente descartáveis. A cena escondida, que é preciso esperar para ver depois de todos os créditos finais, bem que poderia ser colocada no final mesmo, antes dos créditos, dando uma idéia para o público de quão longe a Marvel está disposta a ir para alavancar o seu estúdio. Refiro-me ao tão aguardado filme dos Vingadores, que seria o mais ambicioso projeto da Marvel Studios e que serviria para fechar um ciclo, com direito a atores dos outros filmes contracenando ou tendo participações especiais em cada projeto do estúdio.
A trama de HOMEM DE FERRO já é praticamente contada no próprio trailer: Stark é um milionário que ganha a vida fabricando armas para o exército americano. Um dia, numa operação de guerra no Oriente Médio em que ele mesmo faz questão de estar presente, os soldados são mortos e ele é capturado como refém dos terroristas, que o forçam a confeccionar imediatamente uma bomba com a mesma capacidade da que ele criou para o exército americano. Em vez disso, ele prepara uma armadura equipada com armas para fugir do lugar. Um outro detalhe é que a bomba que o põe a nocaute enche seu coração de estilhaços. O que o mantém vivo é um dispositivo que fica acoplado em seu peito. Depois de sair da caverna onde estava preso, ele resolve pôr fim ao negócio das armas das Indústrias Stark e pretende usar a alta tecnologia de sua empresa para outros fins. Mas antes de pensar no que fazer com sua empresa, e tendo um sócio ambicioso não gostando nada de sua decisão (Jeff Bridges), sua maior obsessão é construir uma sofisticada armadura de metal e se tornar uma espécie de super-herói.
As semelhanças com BATMAN BEGINS, de Christopher Nolan, são várias. Tanto Tony Stark quanto Bruce Wayne são seres humanos comuns que com o uso de suas inteligências se transformam em super-heróis, cheios de bugigangas e recursos de tecnologia de ponta para auxiliá-los. Ambos são milionários solteiros e boêmios e ambos são órfãos, embora Tony Stark tenha se tornado menos "psicopata" que Wayne. A fraqueza de Stark e que não é mostrada de maneira tão forte no filme é o seu vício na bebida. Pronto. Está aí mais um ponto fraco do filme e que se deve menos à covardia dos executivos da produtora de mostrar um herói com falhas que podem ser prejudiciais como exemplo para as crianças e mais à ambição em não elevar a censura do filme para que a garotada possa ter acesso ao filme e, assim, proporcionar mais lucros para a companhia. É o mesmo erro covarde que aconteceu com a adptação de MOTOQUEIRO FANTASMA: eles estavam mexendo com algo muito sombrio e transformaram uma estória que envolvia satanismo num grande besteirol infantil. Claro que HOMEM DE FERRO não chega a ser tão ruim quanto o filme do "caveira flamejante", mas não foi exatamente uma boa estréia dos estúdios Marvel nos cinemas. Melhor sorte para O INCRÍVEL HULK, cujo trailer vem junto com o filme do Homem de Ferro e causa até boa impressão. Mas uma coisa que eu aprendi nesses vinte anos de cinefilia foi a não confiar muito nos trailers.