sexta-feira, maio 30, 2008

PECADOS INOCENTES (Savage Grace)



Impressionante como certos filmes incomodam de tal modo as pessoas que elas simplesmente não agüentam ficar até o final. E olha que estamos falando de um espaço mais alternativo, como o Espaço Unibanco Dragão do Mar, que costuma exibir filmes um pouco mais diferentes do que os do circuitão, um lugar onde os freqüentadores supostamente seriam mais tolerantes a cenas mais fortes ou ousadas. Mesmo assim, não é todo mundo que estava preparado para uma tragédia edipiano tão seca e estranha quanto este PECADOS INOCENTES (2007). Nem eu estava, na verdade. Entrei no cinema sem saber praticamente nada do enredo. Tanto que na saída, encontrei um amigo que também estava na sessão no último domingo e me perguntou: "e aí, gostou do filme?" Eu fiquei sem saber responder. Falei que ainda não sabia se tinha gostado ou não. E ainda não sei. Vamos ver se eu encontro essa resposta à medida que vou escrevendo e me lembrando do filme.

PECADOS INOCENTES gira em torno de Tony Baekeland, desde bebê até a sua juventude nos anos 60 e 70. Ele cresce num ambiente onde a mãe (Julianne Moore) costuma agir de maneira bastante liberal com relação a seu marido, que não vê com bons olhos o comportamento da esposa. Nem do filho, à medida que ele vai percebendo suas preferências sexuais, já manifestadas na infância. Tony sente a falta do pai, tanto por causa do sentimento de rejeição, o que só aumenta quando o pai se separa de sua mãe, ficando com uma de suas namoradas. Com a ausência paterna, a relação mãe-filho vai se tornando cada vez mais próxima. A mãe aceita os relacionamentos do filho com outros rapazes e parece ter uma postura bastante "moderna" para a sociedade da época. Ou das épocas e lugares, já que o filme traz saltos temporais, localizando o ano e o local onde os personagens estão vivendo, seja na França, seja na Inglaterra. Contar mais sobre a história e falar das razões de o filme poder chocar o espectador pode estragar um pouco as surpresas para quem ainda não viu o filme, mas acredito que o fato de eu ter citado "sem querer" Édipo pode dar uma noção para o leitor do que o aguarda.

Não sei se é necessário dizer que um dos grandes destaques do filme é a performance de Julianne Moore. Sua histeria em alguns momentos, seus olhares, sua entrega total à personagem são alguns dos motivos pelos quais vale a pena dar uma conferida em PECADOS INOCENTES, que é baseado numa história real, mas que tem uma conclusão tão difícil de acreditar que parece mais uma estória inventada, inspirada numa tragédia grega. O tom do filme, seco e com emoções contidas, principalmente na seqüência do esfaqueamento, por alguma razão me fez lembrar do cinema de Robert Bresson. A utilização da narração "em off" do protagonista é usada com economia, dando mais espaço para a força das imagens e dos diálogos que mostram ao mesmo tempo a aproximação e o distanciamento dos personagens. Aliás, a imagem só não me pareceu melhor por causa da cópia digital, que ora ficava clara, ora ficava escura. Talvez já seja algum defeito no equipamento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário