terça-feira, maio 06, 2008

NASCIDA ONTEM (Born Yesterday)



O dia hoje foi de cão. O trabalho, por mais que não tenha sido tão puxado fisicamente, anda sendo puxado psicologicamente, espiritualmente até. Não estou me sentindo à vontade e, por incrível que pareça, as duas horas que passei de boca aberta me submetendo a um tratamento de canal num dentista durante a tarde foram mais agradáveis que as horas lá na empresa. Pra completar, uma greve de ônibus fez com que o trânsito ficasse caótico e levei quase duas horas pra chegar da Aldeota até a escola no Conjunto Ceará. Apesar disso, e apesar dos alunos que não querem "porra nenhuma" e que eu peço a gentileza de se retirarem quando estão se excedendo no mal-comportamento, estar lá na escola, dando aula de Literatura pra alguns poucos interessados foi até que agradável e de efeito quase que terapêutico . A minha intenção hoje era escrever sobre outro filme, mas como já está um pouco tarde e eu acho mais fácil falar dos filmes de George Cukor, então, vou logo adiantando aqui o que eu pretendia deixar só pra sexta-feira.

NASCIDA ONTEM (1950) é o filme que entrou para a história por ter faturado o prêmio de melhor atriz para Judy Holliday, quase uma novata no cinema mas que já tinha roubado a cena nas poucas vezes em que apareceu no já citado A COSTELA DE ADÃO (1949). Até aí nada de mais, já que o desempenho dela é muito bom, mas o que deixou muita gente indignada foi o fato de suas quatro concorrentes serem Bette Davis e Anne Baxter, ambas por A MALVADA, Gloria Swanson, por CREPÚSCULO DOS DEUSES, e Eleanor Parker, por À MARGEM DA VIDA. Páreo duro, hein. Prêmios à parte, Cukor gostou tanto da atriz que a tornou protagonista dessa agradável comédia sobre uma loira burra que tem os seus olhos abertos graças à educação.

Pronto. Está aí um filme que até poderia servir de exemplo e de incentivo em muitas escolas. Para mostrar o quanto a educação pode tornar uma pessoa melhor, mais interessante, mais inteligente e mais esperta. E até mais atraente. Holliday, nesse sentido, seria uma espécie de Marilyn Monroe não tão bonita e sensual, mas que também morreria muito cedo, vítima de câncer, em 1965, duas semanas antes de completar 44 anos. (É impressão minha ou as pessoas costumam morrer quando estão em seu inferno astral?) Desse modo, Holliday não teve uma carreira longa. Depois de NASCIDA ONTEM, fez apenas mais sete filmes, sendo dois deles dirigidos por seu bom mentor, Cukor: DA MESMA CARNE (1952) e DEMÔNIO DE MULHER (1954), ambos inéditos no Brasil em dvd, mas que eu já consegui por fontes alternativas.

NASCIDA ONTEM foi baseado numa peça de sucesso da Broadway, encenada pela própria Judy Holliday durante quatro anos. Mas o cabeça da Columbia, o sr. Harry Cohn, não queria que Judy reprisasse o seu papel na versão para o cinema, preferindo Rita Hayworth. Porém, como Rita não queria mesmo o papel e tinha acabado de se casar com o príncipe Aly Khan, não deu certo mesmo. E assim como aconteceu com Grace Kelly, o casamento de Rita acabou por afastar a estrela das telas por um longo tempo. No fim das contas, o chefe da Columbia, depois de ver o desempenho de Judy Holliday em A COSTELA DE ADÃO, aceitou a proposta de George Cukor de escalar a loira. No filme, ela contracena com William Holden, contratado pelo namorado mafioso da moça (Broderick Crawford, fazendo uma espécie de versão exagerada de Tony Soprano) para torná-la menos burra, ensinar a ela bons modos e um pouco de cultura, para que ele não faça ele passar tanta vergonha. O tiro sai pela culatra e a mulher vai ficando cada vez mais interessada em livros, em museus, em política e em cultura em geral e acaba por querer se separar dele, por achá-lo um sujeito grosso e corrupto. NASCIDA ONTEM é um belo conto moral e mais um ponto positivo na carreira de Cukor.

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