quarta-feira, dezembro 26, 2007

O AMOR NOS TEMPOS DO CÓLERA (Love in the Time of Cholera)



Li no ano passado o romance homônimo de Gabriel Garcia Marquez, mas o livro não me agradou tanto quanto a obra-prima "Cem Anos de Solidão". Achei a estória de amor de Florentino Ariza e Fermina Daza muito arrastada, mas com um potencial muito bom para uma adaptação cinematográfica. Pena que escolheram um diretor tão frio e impessoal quanto o inglês Mike Newell para essa empreitada tão ambiciosa, com um elenco internacional, um dos melhores exemplos da globalização no cinema. Pode-se dizer que o único filme realmente bom - digo, que eu gostei - de Newell foi QUATRO CASAMENTOS E UM FUNERAL (1994) e eu nem sei se ele resistiu ao tempo.

O AMOR NOS TEMPOS DO CÓLERA (2007) tem um elenco de beldades difícil de encontrar em outro filme. A começar pela deusa italiana Giovanna Mezzogiorno como Fermina, o amor da vida de Florentino, interpretado na fase adulta pelo espanhol Javier Bardem. Eu sou apaixonado pela Giovanna, essa escorpiana de olhos enigmáticos, desde O ÚLTIMO BEIJO, de Gabriele Muccino, mas pelo visto só agora ela está ganhando projeção internacional. Espero que faça muito sucesso. As outras beldades do filme são também adoráveis: a colombiana Catalina Sandino Moreno, como a prima assanhada de Fermina; a americana Laura Harring, que dispensa apresentações e que infelizmente aparece num papel minúsculo; e a voluptuosa colombiana Angie Cepeda, no papel da viúva fogosa e que garante o momento mais engraçado do filme. Isso só pra ficar nas mais conhecidas. Para os brasileiros, a presença de Fernanda Montenegro como a mãe de Florentino, Trânsito Arisa, não deixa de ser um atrativo curioso.

Com todo esse luxo e um elenco que ainda inclui Benjamin Bratt, Liev Schreiber e John Leguizamo, é uma pena o filme parecer não ter alma. Mal dá pra sentir e levar a sério o amor transbordante de Florentino Ariza por Fermina. Ele, que espera 51 anos pela amada. Espera o marido de Fermina morrer, para novamente tentar conquistá-la. Mas como ele não é besta, vai se divertindo com toda sorte de mulher que aparece pelo caminho. Faz até um caderninho com o número, o nome e uma breve descrição das centenas de mulheres com quem vai transando. Enquanto isso, o casamento de Fermina com o Dr. Juvenal Urbino (Benjamin Bratt), se não tem o amor como eixo de sustentação, ao menos é um casamento estável. Quando se tem dinheiro, isso é mais fácil de se obter. Um dos melhores momentos do filme é a cena da lua-de-mel dos dois. E como esquecer também a cena em que o médico se aproveita de um exame para ver se a moça estava com o cólera, abrindo por completo a blusa de Fermina e exibindo seus belos seios? Os espectadores, obviamente, agradecem.

Sim, o filme tem os seus momentos, os seus méritos. Mostrar a Colômbia da virada do século XIX para o XX de maneira aparentemente realista é um deles. Claro que na Colômbia não se fala inglês, mas esse detalhe, para muita gente inconveniente - e acredito que não seria difícil fazer uma obra falada em espanhol, tendo tanta gente hispânica no elenco -, mas é preciso lembrar que O AMOR NOS TEMPOS DO CÓLERA foi feito para agradar principalmente aos americanos, que são os produtores do filme. Inclusive, o produtor Scott Steindorff, o mesmo de TURISTAS (2006), passou três anos implorando a Garcia Marquez pelos direitos de filmagem da obra, dizendo-se ser ele mesmo o próprio Florentino, isto é, um homem que nunca desiste. Outra coisa que muita gente anda "chiando" diz respeito às canções interpretadas por Shakira para o filme. Pra mim, ficaram boas. Pelo menos, não me incomodaram. No mais, trata-se de uma obra que é fiel ao romance de Garcia Marquez na estrutura e no desenvolvimento narrativo, mas desprovida de real sentimento.

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