segunda-feira, novembro 19, 2007

OS DONOS DA NOITE (We Own the Night)



Interessante como muitas vezes o início de um filme já nos conquista de imediato. Claro que há filmes que começam muito bem e perdem o rumo lá pelo meio, mas a cena inicial de OS DONOS DA NOITE (2007), o novo trabalho de James Gray, com a sensualíssima Eva Mendes masturbando-se para o namorado (Joaquin Phoenix) ao som de "Heart of Glass", do Blondie, é de mexer com o coração até do mais insensível dos homens. (Aliás, vale lembrar que essa canção foi muito bem utilizada num comercial recente de televisão que David Lynch dirigiu para a Gucci e que está no youtube para quem quiser conferir.) A inclusão da canção também serve para nos situar temporalmente, embora a data e o lugar já tenham sido destacados logo no início.

Estamos em Nova York no ano de 1988 e Joaquin Phoenix é Bobby Green, gerente de um clube noturno que, como era comum na época, aceitava com facilidade o consumo de cocaína e outras drogas. A princípio, há uma certa semelhança com O PAGAMENTO FINAL, de Brian De Palma, por causa do clube noturno e da ambientação, mas aos poucos notaremos que o OS DONOS DA NOITE tem cara própria. Principalmente a partir do momento em que ficamos conhecendo a família de Bobby Green, tradicionalmente ligada à polícia de Nova York. Seu pai (Robert Duvall) é um respeitado chefe de polícia e seu irmão (Mark Wahlbergh) acabou de ser condecorado capitão da instituição. Muitos policiais estão sendo assassinados pela máfia russa e o pai e o irmão de Bobby pede a ele uma ajuda no sentido de destruir os planos dos líderes da quadrilha de traficantes. Como ovelha negra da família e preferindo manter distância dos assuntos da polícia, por razões óbvias, já que ele também é consumidor de drogas, Bobby nega o apoio nessa missão. A coisa começa a mudar de figura quando seu irmão sofre um atentado dos mafiosos.

OS DONOS DA NOITE é um sopro de alívio dentro dos dramas policiais que recentemente vêm sofrendo de uma mediocridade sem precendentes na história do cinema, perdendo feio para os seriados televisivos policiais. James Gray comete o tipo de filme que faz com que os estudiosos de cinema passem a querer reavaliar a sua obra de tão impactante que foi o seu trabalho. Seria James Gray um cineasta realmente subestimado pela crítica? Seus filmes carregariam uma autoralidade? Pelo visto, esse é o momento ideal para fazer essa reavaliação. Mas o que há de tão bom assim nesse novo filme que mexeu de tal maneira com as estruturas da crítica e dos cinéfilos?

Além de ser um eletrizante drama policial, o filme trabalha as emoções de seus personagens, em especial de Bobby Green, interpretado magistralmente pelo cada vez melhor Joaquin Phoenix. E além de possuir seqüências de alta combustão, como a da perseguição de carros, de deixar a gente com o coração na mão, o filme é ao mesmo tempo intimista, cheio de sutilezas na construção dos personagens e suas relações. Eva Mendes talvez nunca tenha encontrado um papel tão bom em sua carreira e Mark Walhberg nunca esteve tão bem nas telas. Além do mais, a presença do veterano Robert Duvall, ator que esteve presente numa das mais importantes e "mágicas" cenas da história do cinema - refiro-me à cena da "revelação" de Michael Corleone em O PODEROSO CHEFÃO -, sua presença funciona como um aval, como uma maneira simbólica de mostrar aos mais céticos que OS DONOS DA NOITE é cinema excepcional. E apesar de o filme terminar de uma maneira um pouco estranha e anticlimática, o que fica mais forte em nossa memória é a perseguição de carros na chuva, o som dos limpadores de vidro e o desespero de um filho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário