terça-feira, outubro 09, 2007

TERRA BRUTA (Two Rode Together)



A primeira cena de TERRA BRUTA (1961) é uma auto-citação de outro famoso filme de John Ford: PAIXÃO DE FORTES (1946). Assim como o xerife interpretado por Henry Fonda ficava recostado numa cadeira com seus pés levantados, em TERRA BRUTA, lá está também James Stewart, na mesma condição de xerife, dessa vez, recebendo de seu empregado mexicano uma caneca de cerveja. Essa familiaridade com os filmes do diretor faz muito bem para quem acompanha a sua obra. Mas antes da aparição de Stewart, o que chama a atenção é a emocionante e solene música que toca nos créditos de abertura, de autoria de George Duning, autor da trilha do excelente GALANTE E SANGUINÁRIO (1957), de Delmer Daves. É daquelas músicas que tocam de imediato o coração, como se trouxesse um sentimento de saudade, como se já tivéssemos vivido naquele tempo, naquele lugar.

James Stewart, que tantas vezes usou o mesmo chapéu de caubói nos westerns de Anthony Mann, usa-o novamente nesse filme de Ford. Dizem que Ford implicava com o chapéu de Stewart, achava-o horrível, mas Stewart bateu o pé, quis ficar com o bendito chapéu e conseguiu. Era a primeira vez que o astro trabalhava com o diretor e felizmente tudo correu muito bem, tanto que os dois repetiram a parceria na obra-prima O HOMEM QUE MATOU O FACÍNORA (1962). E por mais que John Wayne seja um astro extraordinário e cheio de carisma, Stewart é um ator, no mínimo, muito mais versátil.

Na trama de TERRA BRUTA, Stewart é um xerife tranqüilo mas entediado com sua rotina. Por isso, quando o amigo e primeiro tenente interpetado por Richard Widmark aparece e o convida para uma missão, ele não pensa muito e aceita, mesmo sem saber direito do que se trata. Depois de atravessar um rio com os soldados do tenente, ele fica sabendo que o objetivo da missão é resgatar prisioneiros brancos das garras dos comanches. O problema é que muitos desses brancos foram raptados há muitos anos. Há cerca de dez anos, os índios raptaram duas crianças, um menino e uma menina. Mas isso já faz tanto tempo que muito provavelmente essas crianças já cresceram e assimilaram a cultura indígena, perdendo até mesmo o conhecimento da língua inglesa e a lembrança de sua família original.

A comparação com RASTROS DE ÓDIO (1956) não é gratuita. Na verdade, TERRA BRUTA mostra de maneira ainda mais brutal a perda de um familiar pelos índios e suas conseqüências. Entre os raptados, mais sorte teve a mulher branca de um dos índios (Linda Cristal) que se afeiçoa ao personagem de Stewart como se ele fosse o seu salvador. Woody Strode, o "sargento negro" de AUDAZES E MALDITOS (1960) faz o papel de um dos selvagens mais violentos, com cabelo moicano e tudo.

Eu adorei TERRA BRUTA. Pra mim é um dos meus preferidos do diretor. Adoro as cenas mais paradas, os tempos mortos, as conversas sem pressa entre Stewart e Widmark sentados à beira do rio, as travessias nos rios, a chegada dos dois no território comanche para a negociação. Mas o autor do livro da Taschen meio que criticou negativamente o filme. Aliás, o próprio Ford não gostou de TERRA BRUTA, chegando a dizer que "esta foi a pior porcaria que fiz em vinte anos". Tem coisas que eu não entendo. E acho que Ford estava ficando gagá.

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