terça-feira, julho 24, 2007

DE VOLTA AO VALE DAS BONECAS (Beyond the Valley of the Dolls)



Difícil resistir ao ver nas prateleiras de uma locadora a caixinha de DE VOLTA AO VALE DAS BONECAS (1970), de Russ Meyer. Tanto pela oportunidade inédita de se alugar alguma coisa do diretor, quanto pela beleza do elenco encabeçado por coelhinhas da Playboy com uns peitões de dar gosto, marca do cineasta. Foi a primeira vez que Meyer trabalhou com um orçamento grande, para uma major, no caso a Fox. Vendo os extras presentes no dvd duplo, nota-se que as filmagens foram uma festa para todos os envolvidos. A surpresa é saber que quem fez o roteiro do filme foi Roger Ebert, hoje um dos mais famosos críticos de cinema dos Estados Unidos. DE VOLTA AO VALE DAS BONECAS foi apenas inspirado em VALLEY OF THE DOLLS (1967), de Mark Robson. Não se trata de uma continuação, como é explicitado nos créditos iniciais. Ainda bem, já que eu não vi mesmo o filme de Robson. Aliás, eu até pensava que VALLEY OF THE DOLLS também era do Meyer.

O filme de Meyer é uma salada que mistura musical, sexo, comédia e horror. Eu nunca vi nada parecido antes. O começo do filme é bem alegre. Um grupo de rock feminino é convidado para ser gerenciado por um empresário meio maluco, levemente inspirado em Phil Spector. Ao adentrar as portas de Hollywoody, elas entram em contato com um universo de sexo, drogas, rock'n'roll e excentricidades. Difícil descrever o enredo do filme em poucas linhas, já que há vários personagens e várias subtramas e a estória parece não importar muito. O que mais importa são os belos peitões das meninas e o clima de liberdade/libertinagem do final dos anos 60. E o engraçado é que Meyer mostra isso sem parecer vulgar. O diretor tem uma classe, um estilo, que deixa tudo muito bonito. A fotografia, em belo technicolor, é também um grande destaque.

Há um forte contraste entre o começo e o final do filme. O leve e o pesado. Coincidência ou não, durante as filmagens, ocorridas no final de 1969, o mundo todo ficou horrorizado com o massacre cometido pelo grupo do psicopata Charles Mason, no qual foi vitimada Sharon Tate, que por coincidência estava no elenco do primeiro VALLEY OF THE DOLLS. Assim, a década de 60, que começou ingênua, foi passando por experimentações psicodélicas e sexuais e acabou num massacre sangrento. Assim é DE VOLTA AO VALE DAS BONECAS. No final, o filme se transforma num festival de horror, com cenas de decapitação, tiro na boca e homem com peitos. Não chega a chocar no sentido que se espera de um filme de horor, causa mais é um certo estranhamento pela mudança drástica de rumo. Também não dá pra levar muito a sério o filme, que se fosse feito no Brasil seria chamado de pornochanchada, tanto pelo sexo quanto pelos atores canastrões, que só não aparentam ser tão ruins por causa da montagem bem picotada de Meyer, que disfarça os erros - não que Meyer não conseguisse fazer um suspense sem abrir mão de seu estilo e de suas mulheres peitudas, como pode ser comprovado em FASTER, PUSSYCAT! KILL! KILL! (1965). A impressão que fica é que, em DE VOLTA AO VALE DAS BONECAS, ele queria apenas gastar o dinheiro da Fox sem se preocupar com muita coisa e nos presentear com um desfile de beldades nuas em cenas pra lá de sensuais. E pensar que ele teria apimentado ainda mais o filme se soubesse que ganharia classificação X pela censura americana...

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