segunda-feira, maio 14, 2007
OS 12 TRABALHOS
Aproveitando a discussão em torno da qualidade do cinema brasileiro contemporâneo, nada melhor do que falar sobre um dos melhores filmes dessa boa safra: OS 12 TRABALHOS (2006), o segundo trabalho de Ricardo Elias. Ainda não cheguei a ver DE PASSAGEM (2003), o filme anterior de Elias, mas depois de ter visto a saga do motoboy Heracles (Sidney Santiago), da próxima vez que der um pulinho na videolocadora, lembrarei de pegar o filme de estréia do diretor. Isso porque eu fiquei bastante sensibilizado com o carinho e o respeito com que o diretor e o roteirista trataram seus personagens, sejam os mais próximos de Heracles, sejam aqueles que apenas passam pela sua vida. São pessoas que sofreram traumas em algum momento de suas vidas, que quebraram alguma coisa dentro de suas almas. A narração em off contando em poucas palavras o que aconteceu com essas pessoas dá um tom melancólico que dá ao filme uma beleza ímpar.
OS 12 TRABALHOS mostra o primeiro dia de trabalho de um jovem recém-saído da Febem. Heracles consegue, com a ajuda de seu primo Jonas (Flávio Bauraqui), um emprego de motoboy numa empresa de entregas em São Paulo. Ele já começa o trabalho enfrentando o preconceito dos novos colegas que não vêem com bons olhos o seu passado de crime e detenção. Um momento ao mesmo tempo triste e engraçado é quando os rapazes descobrem que Heracles é um bom desenhista. Um deles, ao pegar o seu caderno, pergunta se foi ele quem desenhou mesmo ou se ele roubou.
Um dos meus momentos preferidos do filme é o do travelling ao som de "Agridoce", do Pato Fu. Essa cena, além de ter toda uma carga de tristeza e beleza, me fez lembrar imediatamente do passeio da câmera pela cozinha de um restaurante em OS BONS COMPANHEIROS, do Scorsese. E falando em citações - ou seriam apenas coincidências? - poderíamos dizer que o final do filme é uma homenagem do diretor aos instantes finais de OS INCOMPREENDIDOS, do Truffaut. Mas já li um crítico lembrar de DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL, do Glauber Rocha, e de ABRIL DESPEDAÇADO, do Walter Salles, já que ambos também terminam com o protagonista de frente para o mar.
P.S.: Atendendo a pedidos, postei mais fotos de Porto Alegre. Não são tão boas quanto aquelas primeiras, algumas ficaram bem escuras, mas valem a espiada. Enjoy! Só clicar no link.
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