quarta-feira, maio 09, 2007
O HOMEM DUPLO (A Scanner Darkly)
Nesses tempos nebulosos e de poucas alegrias, assistir O HOMEM DUPLO (2006) não me ajudou muito a ver o mundo com outros olhos. A impressão que eu tive ao término do filme foi de que à humanidade está destinado um futuro cada vez pior. É como se só encontrássemos segurança e paz nas lembranças do passado e ao futuro fosse reservado só a dor e a tristeza. Peço perdão aos leitores por esse meu pessimismo, mas como a minha intenção também é usar o blog como uma espécie de terapia, prefiro vomitar um pouco - mas só um pouco - do que tem me incomodado. E não falo do futuro de maneira gratuita. O HOMEM DUPLO tem tudo a ver com um futuro negro.
A trama, baseada num conto de Philip K. Dick, se passa cinco anos no futuro, quando um policial (Keanu Reeves) se infiltra num grupo de amigos drogados (entre eles, Robert Downey Jr., Woody Harrelson e Winona Ryder) para descobrir a origem da "substância D", droga da moda que acaba com os neurônios e com a vida de muitas pessoas, que se tornam rapidamente dependentes da droga. O filme já começa com um dos drogados tomando banho, tentando desesperadamente se livrar das pulgas imaginárias que o perturbam.
O diretor Richard Linklater retorna à rotoscopia, técnica de animação que consiste em fazer desenho animado por cima de uma filmagem com pessoas de carne e osso. Houve progresso na técnica se compararmos com o realizado em WAKING LIFE (2001), mas eu ainda prefiro o primeiro, que me deixou bem mais entusiasmado com os inúmeros convites à filosofia. Em O HOMEM DUPLO, não há muito espaço para digressões filosóficas, já que Linklater, nesse filme, prefere, aparentemente, ser fiel à obra original.
Um dos problemas de O HOMEM DUPLO é o fato de ser um pouco confuso. Se a trama fosse um pouco mais clara, eu provavelmente teria gostado mais. Uma pena também que Richard Linklater não seja um cineasta mais regular; uma pena que ele não faça tantas maravilhas quanto ANTES DO AMANHECER (1995) e ANTES DO PÔR-DO-SOL (2004). Se ele exercitasse mais a sua porção Rohmer, com certeza estaria entre os melhores cineastas contemporâneos. Mesmo assim, trata-se de um diretor de respeito e que merece ter seus trabalhos sempre conferidos com atenção.
Como perdi a sessão do filme na telona, tive de apelar mais uma vez para o divx - já tem dvdrip nos sites de torrent.
P.S.: Está no ar a nova edição da Zingu que, nesse mês, conta como principal destaque um dossiê com entrevistas e textos de Edu Janks, crítico da revista Big Man Internacional na época do auge do sexo explícito na Boca do Lixo.
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