segunda-feira, outubro 23, 2006

UM CARA QUASE PERFEITO (Man about Town)



Se UM CARA QUASE PERFEITO (2006) desagrada boa parte da audiência, isso é culpa da maneira como o filme foi vendido. A começar por essa mania que os "tradutores" - ou seja lá quem seja - têm de colocar esse "quase perfeito" nos títulos dos filmes. Até para aqueles que já esperam um drama ou uma comédia dramática, o filme de Mike Binder surpreende. É uma obra estranha em muitos sentidos. Não uma estranheza à Wes Anderson, embora a cena do velho dentro do aquário até possa remeter a Anderson, mas uma estranheza ligada à própria trama.

No filme, Ben Affleck é um empresário de talentos de Hollywood que passa por um momento de crise existencial. Ele busca sentido para sua vida e resolve entrar num curso de auto-ajuda. O método que o orientador (John Cleese, muito bom) utiliza é o de se escrever um diário. Olha aí uma dica pra quem está sentindo aquele vazio e está querendo economizar grana. Em vez de procurar um desses cursos picaretas que servem mais pra comer o dinheiro do povo, uma boa alternativa é escrever um blog, coisa que, aliás, muita gente já está fazendo.

Pois bem. Aparentemente, o personagem de Ben Affleck não tem do que reclamar, já que ele tem a vida que muita gente pediu a Deus. Tem muito dinheiro no banco, uma mansão, um carrão de luxo e uma belíssima esposa (Rebecca Romijn, mais linda do que nunca). Quando ele achava que sua vida estava sem graça, começam a aparecer desgraças. A mulher confessa tê-lo traído, sua casa é invadida, ele é espancado e seu diário (contendo informações confidenciais) é roubado.

Interessante que a chave utilizada por Binder nessa primeira metade do filme é a de um drama com poucos toques cômicos. As lembranças de infância do personagem de Aflleck são bastante fortes, incômodas e até violentas. Mas foi esse tom quase melodramático que me conquistou. Especialmente no auge da crise do personagem, quando toca a bela "Cucurucucu Paloma", que já havia sido cantada por Caetano Veloso na obra-prima FALE COM ELA, do Almodóvar. Claro que nem tudo é perfeito, mas o filme me deixou uma ótima impressão. Mike Binder mostrou criatividade utilizando uma edição muito interessante, tirando proveito de efeitos especiais e do efeito de tela divida. O papel de coadjuvante de Binder nesse filme é bem parecido com o que ele fez em A OUTRA FACE DA RAIVA (2005), seu filme anterior. Ele faz novamente um amigo fiel, sempre pronto pra ajudar o companheiro nas horas difíceis.

Quanto a Ben Affleck, quando ele ganhou o prêmio de melhor ator em Veneza por HOLLYWOODLAND (2006) todo mundo ficou admirado. Depois de UM CARA QUASE PERFEITO, eu até que não fico mais.

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