sexta-feira, outubro 20, 2006

O DESESPERO DE VERONICA VOSS (Die Sehnsucht der Veronika Voss)



Engraçado que o meu primeiro contato com a obra de Rainer Werner Fassbinder - com O CASAMENTO DE MARIA BRAUM (1978), LILI MARLENE (1980) e LOLA (1981) - havia me deixado com uma impressão diferente de agora, quando peguei pra ver MARTHA (1972) há poucos meses e O DESESPERO DE VERONICA VOSS (1982) mais recentemente. Ambos os filmes me pareceram difíceis de assistir, excessivamente densos e pesados. Não dá pra negar que eles são trabalhos feitos por quem realmente entende de cinema, mas senti falta da leveza do cinema americano enquanto via esses dois filmes. Principalmente se compararmos com os melodramas clássicos hollywoodianos, como os de Douglas Sirk e Leo McCarey. Nos filmes de Fassbinder há menos chances de o espectador cair no choro. Quase improvável.

Em O DESESPERO DE VERONICA VOSS, estamos na Alemanha de 1955. Um jornalista esportivo conhece Veronica Voss - Rosel Zech, que faz a personagem-título, é bem parecida com Marlene Dietrich, com aquele aspecto austero -, uma atriz que, dizem, teve um caso com Goebbels na época do auge do nazismo. Hoje ela está decadente e sofre de dependência de morfina. O jornalista, ao mesmo tempo que quer fazer uma matéria exclusiva sobre a atriz, começa a se relacionar afetivamente com ela. Veronica tem os seus segredos e sofre de dores constantes, só aliviadas com o auxílio da droga. Talvez Fassbinder, já próximo de morrer de overdose, se sentisse próximo das pessoas dependentes químicas. O cineasta tinha uma rotina diária de consumo de álcool, pílulas para dormir e cocaína. Não podia durar muito mesmo.

Assim como MARTHA, O DESESPERO DE VERONICA VOSS lida com personagens vítimas. Ao que parece, esse é um tema recorrente na obra de Fassbinder. Suas personagens tentam em vão livrar-se de seu inferno pessoal, seja ele na figura de um homem perverso, seja na dependência química e na vilaneza de uma médica. O que destaca O DESESPERO... de boa parte dos filmes de Fassbinder é o capricho na fotografia em preto e branco, a cargo de Xaver Schwarzenberger, colaborador habitual do diretor. Foi a primeira experiência do fotógrafo com o preto e branco e a intenção de Fassbinder era fazer um filme de alto contraste de preto e branco e uma quase ausência da tonalidade cinza. Ele não queria que seu filme ficasse parecido com os filmes americanos, mas que seguisse o exemplo de ROMA, CIDADE ABERTA, de Roberto Rosselini, entre outros filmes europeus que usavam tal contraste. As cenas em que as luzes brilham exageradamente ficam marcadas na memória. Com esse filme, Fassbinder também homenageou CREPÚSCULO DOS DEUSES, de Billy Wilder.

O filme foi inspirado na vida da atriz Sybille Schmitz (1909-1955), que esteve em O VAMPIRO, de Carl Th. Dreyer. O DESESPERO DE VERONICA VOSS é o terceiro filme da trilogia da Alemanha, iniciada com O CASAMENTO DE MARIA BRAUM e LOLA. No DVD da Versátil há uma entrevista com a atriz principal e com a editora. O filme ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza de 1982.

P.S.: Ontem vi o piloto de DEXTER, série que estreou há poucas semanas no canal Showtime. Impressionante como a televisão está ousada. Jamais imaginaria que aparecesse uma série em que o "herói" da trama é um serial killer! Devo acompanhar essa série, estrelada pelo ótimo Michael C. Hall, de A SETE PALMOS. Parece que a série só tem doze episódios por temporada.

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