sábado, março 04, 2006
LEO McCAREY EM DOIS FILMES
Meu primeiro contato com o cinema de Leo McCarey veio da época em que o filme SINTONIA DE AMOR tornou famoso o clássico melodrama TARDE DEMAIS PARA ESQUECER (1957). Lá fui eu alugar a fita para poder conhecê-lo e para poder derramar algumas lágrimas com a triste história. Depois dessa época, nada de ouvir falar de McCarey. Minha ignorância diminuiu com a leitura do essencial "Afinal, Quem Faz os Filmes", de Peter Bogdanovich. A entrevista de McCarey foi dada em circunstâncias não muito felizes, já que ele estava muito doente, no final de 1968. Ele morreria poucos meses depois, em julho de 1969. A entrevista foi dada graças ao esforço de ambos, entrevistador e entrevistado. McCarey, mesmo sem poder falar direito, deu uma entrevista bem legal, contando detalhes de sua experiência na direção, desde os primeiros curtas para a dupla O Gordo e o Magro, antes mesmo do cinema se tornar falado, passando pelos irmãos Marx, pela influência de Charles Chaplin em seu estilo, entre outras coisas que eu ainda vou ver, já que pretendo ler a entrevista à medida que for vendo os (poucos) filmes dele disponíveis em video. Por enquanto, vamos de UMA DAMA DO OUTRO MUNDO (1934), lançado em DVD pela Continental, e o maravilhoso CUPIDO É MOLEQUE TEIMOSO (1937), pela Sony.
UMA DAMA DO OUTRO MUNDO (Belle of the Nineties)
Primeira vez que vejo um filme estrelado pela mitológica Mae West. A mulher foi considerada uma das mais sexy do cinema do início do século, mas pra ser sincero eu não curti muito ela não. É verdade que ela aparenta ter muita segurança de si - ao menos sua personagem é assim -, mas ela, além de não ter um rosto bonito, tem jeito de mulher malandra e vulgar, o que não me atrai nenhum pouco. Mas independente de eu ter ou não gostado dela, UMA DAMA DO OUTRO MUNDO é um bom filme sobre o poder de uma mulher sobre os homens. A história se passa no final do século XIX, quando Mae apresenta espetáculos musicais em casas noturnas e é assediada por vários homens. Engraçado que o fato de eu não ter gostado muito da Mae contribuiu para que eu me divertisse na cena em que ela é assaltada. Quando perguntado sobre o filme, McCarey lembrou que o que mais lhe estimulou foi ter trabalhado com Duke Ellington. Sobre Mae, Mccarey falou: "Quando ela se irritava, ficava cantarolando como uma cascavel antes de dar o bote." Pelo visto, não fui o único a não ir com a cara da atriz.
CUPIDO É MOLEQUE TEIMOSO (The Awful Truth)
Este foi o filme que trouxe Cary Grant para o universo das comédias. Só por isso, temos de ser eternamente gratos a McCarey. Se não fosse pelo diretor, Grant talvez não teria trabalhado com mestres como Howard Hawks, com quem faria nos anos seguintes as deliciosas LEVADA DA BRECA e JEJUM DE AMOR, e com Alfred Hitchcock, quando dosaria suas personas séria e cômica. A moça que faz par romântico com Grant em CUPIDO É MOLEQUE TEIMOSO é Irene Dunne. Ela me pareceu uma Greta Garbo mais simpática, ainda que não seja tão bela. Mesmo assim, ela é encantadora. O filme nos deixa o tempo inteiro torcendo pela reconciliação do casal. Enquanto eles não chegam a um acordo, diversão é o que não falta. Há momentos de dar boas gargalhadas, como naquela cena em que os dois pegam carona com dois policiais. Impressionante como o filme antecipa o tipo de relação apresentado em JEJUM DE AMOR. O final é belo e poético, além de ter uma carga erótica bastante interessante para um filme americano da época. CUPIDO É MOLEQUE TEIMOSO é considerado um dos melhores trabalhos de McCarey e lhe conferiu o Oscar de melhor direção no mesmo ano em que o filme favorito do diretor, CRUZ DOS ANOS (1937), também poderia ter sido indicado. É possível que eu ainda comente por aqui outros filmes de McCarey - é essa a minha intenção. Outros títulos dele disponíveis em vídeo (DVD ou VHS): O DIABO A QUATRO (1933), DUAS VIDAS (1939), OS SINOS DE SANTA MARIA (1945), A FELICIDADE BATE À SUA PORTA (1948), além do já citado TARDE DEMAIS PARA ESQUECER. (Se houver mais algum McCarey lançado em vídeo no Brasil não listado por mim, por favor, me avisem.)
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