sexta-feira, março 17, 2006

ATIREM NO PIANISTA (Tirez sur le Pianiste)

 

Deu pra notar que essa semana foi dedicada ao cinema francês. Encerro a semana, então, com ATIREM NO PIANISTA (1960), segundo longa-metragem de François Truffaut. E já começo dizendo que o filme não é dos meus favoritos. Não gosto quando Truffaut adentra o cinema de gênero. Ele mesmo chegou a confessar que não é muito apreciador dos filmes de gângster. Desse modo, ATIREM NO PIANISTA acabou se transformando num filme meio esquizofrênico. Em alguns momentos, Truffaut parece fazer uma paródia, mas logo o tom meio cômico é substituído pela melancolia e pelos temas mais caros ao cinema do diretor: o amor, as mulheres, o passado, a música, a família. É como se Truffaut tentasse fugir de seu sentimentalismo e não conseguisse. 

Não deixa de ser um filme interessante. A fotografia em preto e branco e em scope é um dos pontos altos do filme. Mas é a persona de Charles Aznavour que torna o filme especial. No livro "O Prazer dos Olhos - Escritos sobre Cinema", Truffaut diz que se apaixonou por Aznavour depois de ter visto o filme LA TÊTE CONTRE LES MURS (1959), de Georges Franju. O que atraiu Truffaut foi "a fragilidade, a vulnerabilidade e aquela silhueta ao mesmo tempo humilde e graciosa que lembra são Francisco de Assis". O diretor apreciava os homens frágeis e não gostava dos tipos durões. Dito isso, provavelmente Truffaut não gostasse de astros como James Cagney e Edward G. Robinson. Talvez por isso ele tenha realizado um filme de gângster sem cara de filme de gângster. 

O que mais me chamou a atenção em ATIREM NO PIANISTA foi a rapidez da edição, lembrando um pouco JULES E JIM (1962), um de seus filmes seguintes e uma obra bem mais inspirada. Aliás, inspirado é uma palavra que combina com Truffaut. Ele não é um cineasta-gênio como Robert Bresson. Ele é um homem apaixonado pelo cinema, pelas mulheres e pelos livros que quando está inspirado e faz filmes sobre aquilo que ele mais tem intimidade, ele acerta. A edição de ATIREM NO PIANISTA parece conter cenas que se atropelam umas às outras. Como naquele flashback que revela o passado do pianista. Se a gente não prestar atenção, não percebe que é um flashback. Ou só percebe no final. 

ATIREM NO PIANISTA pertence à categoria dos filmes menores de Truffaut, como O ÚLTIMO METRÔ (1980) e DE REPENTE NUM DOMINGO (1983).

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