terça-feira, novembro 01, 2005

CRASH - NO LIMITE (Crash)

 

Nada como se preparar da maneira mais adequada para ver um filme. Como CRASH - NO LIMITE (2004) era um filme sobre batida de carro (entre outras coisas), eu fiz o favor de bater a porta do meu carro no portão lá de casa, quando saí pra ir ver o filme - o idiota aqui tinha deixado a porra da porta aberta. O que acabou rendendo uns arranhõezinhos que vão me custar um dinheirão na oficina, além de um portão amassado. De todo modo, esse pequeno acidente serviu pra eu tomar um pouco o gostinho de uma batida. Esse filme de Paul Haggis pode não ter tanta batida de carro quanto o CRASH (1996) do Cronenberg, mas até que tem bastante. A colisão do título, na verdade, teria um sentido mais amplo. 

Sobre o que eu achei do filme, fico no meio termo. Nem o encaro como uma obra puramente preconceituosa cujo tiro saiu pela culatra, nem como um dos melhores do ano, como parte da crítica deixou a entender. Trata-se de um filme bastante agradável de se ver, cheio de pequenas histórias que se cruzam e com uma música que remete à trilha de Aimee Mann para MAGNÓLIA. A comparação com PT Anderson é inevitável. Assim como com o Robert Altman de SHORT CUTS. 

Talvez o problema do filme seja a dificuldade que ele tem em aprofundar e desenvolver melhor os personagens. Acredito que quem mais se beneficiou no filme foi Matt Dillon, como o tira que adora humilhar os negros, mas que também pode ser um exemplo de humanidade e profissionalismo (na melhor seqüência do filme, envolvendo Thandie Newton). O filme trabalha com as contradições o tempo todo. Há, por exemplo, o tira bem intencionado (Ryan Phillippe) que acaba comentendo um ato bárbaro. Numa das primeiras seqüências, vemos dois amigos negros comentando sobre o preconceito que eles sofrem, que são mal tratados quando vão a restaurantes e que são confundidos com bandidos quando andam nas ruas. Mas, logo em seguida, eles ironicamente executam um assalto à mão armada. A cena funcionaria bem numa comédia politicamente incorreta. 

Paul Haggis, roteirista de MENINA DE OURO (2004), mostra uma Los Angeles em ebulição, prestes a explodir por conta das diferenças entre brancos, negros, latinos e pessoas vindo do Oriente Médio (no caso, os persas, que são confundidos com árabes). Em alguns momentos o filme parece que vai naufragar geral, como na cena do persa dando um tiro na garotinha latina, mas por sorte os resultados acabam sendo surpreendentemente bons. O fato de a maior estrela do filme, Sandra Bullock, ter um papel pequeno e pouco importante dá um ar chique à obra. 

As acusações de racismo que a crítica fala do filme não deixa de ser uma ironia, já que um dos produtores de CRASH é o ator Don Cheadle. Há várias seqüências que me deixaram sem entender direito o que o diretor quis dizer, mas não deixa de ser algo bastante interessante para refletir. O que dizer do rapaz negro que diz gostar de música country? E porque alguns dos personagens negros precisam ser tão humilhados, tão vítimas - o próprio Don Cheadle ou o produtor de televisão, vivido por Terrence Howard? Dá impressão que Spike Lee teria feito bem diferente, bem mais bombástico. Mas esse não é um filme do Spike Lee. E é bom aceitá-lo como ele é.

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