sexta-feira, outubro 28, 2005

A VIDA DE DAVID GALE (The Life of David Gale)



O próprio Alan Parker diz não haver muita coisa em comum em seus filmes. Ele não tem tantas obsessões em sua obra para ser chamado de autor. Mas há algo de comum em filmes como CORAÇÃO SATÂNICO (1987), MISSISSIPI EM CHAMAS (1988) e este A VIDA DE DAVID GALE (2003). Que é a vontade de entender a cultura americana na raiz, longe dos grandes centros como Nova York, Los Angeles ou Miami. Seja na cultura religiosa afro de Nova Orleans, seja no racismo sulista dos anos 60, seja no Texas e seu número recorde em execuções.

A pena de morte é sempre um assunto que me interessa, que me comove e que me deixa indignado. Acho que o filme que mais me fez chorar na vida foi OS ÚLTIMOS PASSOS DE UM HOMEM, de Tim Robbins. Também me emocionei muito com A ÚLTIMA CHANCE, de Bruce Beresford, e À ESPERA DE UM MILAGRE, de Frank Darabond. A VIDA DE DAVID GALE tem um diferencial: não é um filme que se deixa levar pelo sentimentalismo, pelo melodrama. É uma obra mais cerebral, de investigação, onde os personagens se auto-sacrificam em nome de uma causa. A trama parece um pouco improvável e pouco verossímil, mas ainda assim é interessante e surpreendente.

Uma outra razão para eu me interessar pelo filme é a participação de Kate Winslet. Sou doido por essa menina. Pra mim, é uma das grandes atrizes em atividade em Hollywood, além de não ter medo de fazer papéis ousados. Seu papel é um dos mais difíceis do filme, já que ela tem que ouvir muito a narrativa de Kevin Spacey, o condenado à morte, sem ter participado da ação. Já Spacey, nunca me convenceu como ator. O homem ganhou até Oscar, mas, pra mim, ele sempre fez o mesmo papel em todos os filmes. Seu rosto demonstra quase sempre uma certa apatia diante da vida. Já Laura Linney é uma atriz excepcional e que transborda sentimento em todo filme que está.

O que eu gostei da montagem do filme foi que vemos apenas o que Kevin Spacey quis contar. Ele omitiu o que achou conveniente omitir e a personagem de Kate Winslet funciona como um segundo espectador. Diferente, por exemplo, de O JARDINEIRO FIEL, que omite e engana o espectador com o uso do narrador onisciente. Bom, nos fim das contas, somos enganados do mesmo jeito, mas uma coisa é ser engando pelo personagem, outra pelo montador e diretor.

Quanto à questão da pena de morte, não me identifiquei com a proposta do filme. Afinal, acreditar que a pena de morte só é errada porque ela está sujeita a matar pessoas inocentes não combina bem com o que eu penso. Acho que até um estuprador merece piedade e merece continuar vivo até o fim.

Filme visto em DVD. Muitos extras, inclusive comentário em áudio do diretor legendado. Em widescreen 2,35:1.