terça-feira, setembro 27, 2005
MR. VINGANÇA (Boksuneun Naui Geot / Sympathy for Mr. Vengeance)
Quem está no Rio de Janeiro está tendo a chance de conferir no Festival Internacional de Cinema desse ano alguns exemplares do novo cinema sul-coreano, entre eles os dois filmes que completam, junto com OLDBOY (2003), a chamada trilogia da vingança de Chan-wook Park. Estão na programação do festival os filmes MR. VINGANÇA (2002) e o novo LADY VINGANÇA (2005). Park também está presente no festival em TRÊS EXTREMOS (2004), o filme em episódios que Park dirige em conjunto com o japonês Takashi Miike e o chinês Fruit Chan. É a vez da cinematografia oriental que está cada vez mais encontrando espaço no mercado mundial. Na Contracampo desse mês, os artigos principais são sobre o cinema da Coréia do Sul.
Não estou no Rio, mas tive a chance de ver nesse fim de semana, graças às maravilhas do mundo digital, uma cópia em divx de ótima qualidade de MR. VINGANÇA. O filme tem uma trama melhor e mais intrincada que a de OLDBOY, ainda que não cause o mesmo impacto e o mesmo choque na gente. É até um filme um pouco frio, mas nem por isso menos prazeiroso de se ver, pelo seu apurado senso estético e pelo modo criativo como se costura a trama.
A trama inicial de MR. VINGANÇA envolve um surdo-mudo que tem uma irmã doente e necessitando com urgência de um transplante de rim. Desesperado, ele pega todo o dinheiro que tem e entra em contato com uma família de traficantes de órgãos. Mas a falta de sorte do rapaz é tão grande que os mafiosos lhe roubam o dinheiro e ainda tiram um de seus rins, deixando-lhe nu num local deserto. E isso é só o começo de seus infortúnios: o pobre rapaz depois fica sabendo que sua irmã estava na primeira fila para o transplante de rim. Mas e agora? Ele tinha perdido todo o dinheiro com os criminosos. A solução veio de sua namorada, uma das personagens mais interessantes do filme. A solução seria seqüestrar a filha de um rico empresário e pedir dinheiro suficiente para pagar o transplante. Mas como desgraça pouca é bobagem, as coisas não vão sair como planejado.
Lendo uma entrevista de Chan-wook Park, fiquei sabendo que ele teve o impulso para se tornar cineasta assim que assistiu pela primeira vez UM CORPO QUE CAI, de Hitchcock. Acho muito interessante isso. Dia desses fiquei sabendo que Shyamalan quis fazer cinema depois de ter visto CAÇADORES DA ARCA PERDIDA, do Spielberg.
Outra coisa que ele fala na entrevista me levou a comparar a questão da culpa em seus filmes em relação aos filmes de Hitchcock. Park fala que seus filmes são estórias de pessoas que põem a culpa nos outros porque se recusam a acreditar que são elas as culpadas. É bem o oposto da transferência da culpa nos filmes de Hitchcock, onde pessoas inocentes levam a culpa dos criminosos. A influência dos filmes de Brian De Palma, com o uso criativo dos espelhos aparece também em MR. VINGANÇA, dessa vez, até evitando o uso do campo e contracampo, na cena da conversa do rapaz surdo com sua namorada em frente ao espelho.
Agora é esperar que esses filmes de Chan-wook Park recebam uma distribuição comercial decente no Brasil. De preferência, nos cinemas.