quarta-feira, setembro 14, 2005
A MISTERIOSA MORTE DE NATALIE WOOD (The Mystery of Natalie Wood)
Acho curioso o fato de o filme que eu mais gostei de Peter Bogdanovich ter sido justamente um trabalho para a televisão. Bogdanovich há algum tempo anda afastado do cinema. Tirando THE CAT'S MEOW (2001), ainda inédito no Brasil, o diretor tem trabalhado apenas na televisão desde 1995. A MISTERIOSA MORTE DE NATALIE WOOD (2004) é uma mini-série em duas partes sobre a vida de uma das mais carismáticas e belas atrizes de Hollywood. Já faz algum tempo que eu sou apaixonado pela beleza e pela graça de Natalie e ver esse filme aumentou ainda mais a minha admiração por ela, só comparável talvez ao que eu sinto por Grace Kelly.
Um dos trunfos do filme é misturar uma narrativa convencional, contando a vida de Natalie desde a infância até sua morte, com entrevistas de pessoas que conviveram com a atriz e imagens de arquivo e de filmes que ela fez. Há depoimentos de familiares, amigos e atores que trabalharam com ela, sendo que alguns eventos são apenas contados e não dramatizados.
Pra quem, como eu, tem interesse na vida das celebridades de Hollywood, A MISTERIOSA MORTE DE NATALIE WOOD é um prato cheio. O filme começa com a noite da morte de Natalie, encontrada morta no mar, perto de um barco. Depois, voltamos no tempo e ficamos sabendo que quando ela era pequena, sua mãe fez uma consulta a uma cigana e esta lhe disse que ela teria uma filha muito famosa, mas que provavelmente morreria afogada. Por isso, Natalie cresceu com esse medo da água, já que sua mãe a deixara temerosa, acreditando piamente na profecia da cigana. E o mais sinistro de tudo é que ela realmente morreu afogada.
Não era apenas da água que Natalie tinha medo. Ela tinha várias outras fobias. Não gostava de ficar sozinha, por exemplo, e tinha um problema em não saber dizer quem ela era de fato, já que confundia a persona pública com quem ela era na intimidade. Provavelmente por ela ter sido uma atriz de Hollywood desde a infância, tendo trabalhado, inclusive, com gente do porte de Orson Welles, Barbara Stanwyck e o diretor Joseph L. Mankiewicz.
Mas o estouro e a transformação em estrela viria com JUVENTUDE TRANSVIADA (1955). Já tinha ouvido falar que o diretor Nicholas Ray havia seduzido a moça. Nesse filme, isso fica bem evidente, inclusive, ajudando a alimentar a fama do diretor de sedutor de suas próprias atrizes. Há uma cena mostrando Ray seduzindo outra garota depois do término das filmagens do título que uniria as vidas de Natalie Wood e James Dean.
As mortes de James Dean e Marilyn Monroe afetaram profundamente Natalie. Quando da morte de Dean, ela chegou a dizer que gostaria de ter estado no carro com ele, de ter morrido com ele. Já a morte de Marilyn fez com que ela refletisse sobre a crueldade do showbizz. Ela havia encontrado Marilyn numa festa, e esta havia dito que estava triste, pois já tinha 36 anos e estava acabada para Hollywood, que havia se tornado uma piada. Natalie se identificou um pouco com a crise de identidade da atriz.
Antes da morte de Marilyn, em 1962, muita coisa aconteceu com Natalie: o estupro sofrido, o acidente de carro com o doidão Dennis Hopper, o casamento com Robert Wagner, a crise no casamento, ela conhecendo Warren Beatty nas filmagens de O CLAMOR DO SEXO (1961), a indicação ao Oscar por AMOR, SUBLIME AMOR (1961), perdendo para Sophia Loren...
Na sua vida, os momentos de maior emoção lidam com o difícil relacionamento com a mãe e o envolvimento amoroso com Robert Wagner, que foi o homem de sua vida. Wagner é mais conhecido por ter protagonizado a famosa série de televisão CASAL 20. Um dos momentos mais bonitos do filme é quando ele está separado dela e encontra-a grávida de outro homem. Sentimos a dor da saudade nesse momento no olhar dos dois.
A atriz que interpreta Natalie (Justine Waddell), pode não ter a mesma beleza da verdadeira, mas empresta força a uma personagem que, paradoxalmente, tinha medo da vida, mas a vivia plenamente. Natalie Wood era uma pessoa que mesmo jovem tinha consciência da transitoriedade da vida. Vale destacar também a seqüência da morte de Natalie - vocês sabiam que Christopher Walken estava no iate no dia da morte da atriz? Mesmo sabendo que se trata de algo de que ela não vai escapar, ainda assim, sentimos sua aflição ao tentar fugir do destino previamente determinado. Bogdanovich, homem que tem um histórico de dores e tragédias na vida pessoal, não nos poupa, compartilhando com a gente um pouco dessa dor. Como se a dor alheia fosse um pouco a nossa dor também.
Gravado do Hallmark.
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