segunda-feira, abril 04, 2005

HERÓI (Ying Xiong)

 

Engraçado como essa revisão de HERÓI (2002), dessa vez em tela grande, diminuiu o filme pra mim. Tinha visto o filme em 2003 e por mais que ele fosse um pouco cansativo de se ver, eu achava que isso se devia principalmente ao fato de estar vendo no computador. Mas me enganei: no cinema, o filme é mesmo um pouco arrastado. O que continuou intacto entre as qualidades do filme foi o espetacular visual.

Também pudera. A equipe responsável pelo filme é especial. Os figurinos são de Emi Wada, de RAN; o responsável pela trilha sonora é Tan Dun, de O TIGRE E O DRAGÃO; e a fotografia é de Chris Doyle, de AMOR À FLOR DA PELE. E ainda tem o elenco estelar formado por Jet Li, Tony Leung, Maggie Cheung e Zhang Ziyi. E na direção, um mestre do drama: Zhang Yimou, estreando no gênero wuxia pian, a exemplo de seus colegas Ang Lee, Wong Kar-Wai e Tsui Hark. Com tudo isso, não tinha como dar errado.

Ainda assim, tem algo no filme que incomoda. Ou, ao contrário, que me deixa indiferente, o que é pior. Não falo nem do tão polêmico louvor ao imperador de Qin, o sujeito que unificou a China à custa de muito sangue. (Ultimamente tem sido até comum falar com respeito de assassinos ou organizadores de massacres, vide ALEXANDRE, de Oliver Stone.) Os chineses gostaram, o governo da China aprovou. HERÓI é a segunda maior bilheteria do país, só perdendo para TITANIC. Mas Yimou já esteve em situação bem diferente no passado, quando seus primeiros filmes - SORGO VERMELHO (1987), AMOR E SEDUÇÃO (1990) e LANTERNAS VERMELHAS (1991) - foram proibidos em seu país.

Uma das coisas que mais me incomodaram no filme foi a falta de violência, de suor, de sangue, de respiração. Os corpos parecem estar num outro plano de existência, quase espiritual. Mas isso pode ser explicado pelo fato de nenhuma das cenas de luta estarem acontecendo realmente. Elas seriam imaginadas por quem estava ouvindo as histórias, no caso o imperador de Qing, ou o próprio Sem Nome, personagem de Jet Li, quando o imperador interrompe sua narrativa para contar a sua teoria sobre o que realmente aconteceu.

Voltando a ALEXANDRE, interessante como Oliver Stone copiou descaradamente (ou seria uma homenagem?) uma cena de HERÓI que mostrava as folhas amarelas se tornando vermelhas. A diferença é que em ALEXANDRE toda a tela fica vermelha. Sobre as tais folhas, soube que elas eram limpadas uma a uma no início de cada tomada. Isso deve ter dado um trabalho dos diabos.

A minha seqüência favorita de HERÓI é a cena em que predomina o vermelho. A estória de paixão e vingança de Tony Leung e Maggie Cheung. Adoro aquele travelling seguindo os personagens dentro da casa. Mas não fiquei empolgado com as lutas (ou balés).

Mas por mais que tentemos entender a história e a complexidade da construção narrativa, esta parece estar em segundo plano. HERÓI é filme mais de forma do que de conteúdo. Parece que Yimou gastou muita energia no aspecto visual do filme. Isso era mais importante pra ele.

Espero que O CLÃ DAS ADAGAS VOADORAS (2004), que estréia nesse próximo fim de semana, seja mais físico e menos espiritual. Suspeito que vou gostar mais. Por enquanto, o grande filme de Zhang Yimou continua sendo pra mim o emocionante TEMPOS DE VIVER (1994).

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