domingo, abril 03, 2005

EU NÃO TENHO MEDO (Io Non Ho Paura)

 

Já faz algum tempo que o cinema italiano perdeu o seu brilho. Os anos 90 não fizeram bem para a cinematografia do país da bota. A maior parte dos grandes cineastas italianos já partiram e a nova geração está longe de ter o mesmo brilho, mas isso não significa que o país não mais produza filmes bons. Gabriele Salvatores está nesse grupo de bons cineastas. Seu título mais famoso é MEDITERRÂNEO (1991), ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro. EU NÃO TENHO MEDO (2003) é uma evolução em sua carreira. O filme é mais bonito plasticamente que o seu trabalho mais famoso (não tenho como comparar com os outros filmes, já que não os vi). 

Na trama de EU NÃO TENHO MEDO, um menino de dez anos de idade (o estreante Giuseppe Cristiano) descobre por acaso um outro menino preso dentro de um buraco escondido. Depois do medo inicial, estabelece-se uma amizade entre os dois garotos. E ficamos sabendo o motivo daquele garoto estar ali. Dizer mais que isso é estragar as surpresas do filme, que nem são tantas assim, mas acredito serem importantes para que o espectador se sinta tão surpreso quanto seu protagonista. 

Assim como em RESPIRO, de Emanuele Crialese, e o próprio MEDITERRÂNEO, de Salvatores, a natureza é parte integrante do filme, contribuindo para a sua força. A paisagem, formada basicamente de campos de trigo, está presente desde o início do filme e é fundamental para a trama, que se passa numa região do sul da Itália, no ano de 1978. 

Filmes encabeçados por crianças geralmente têm a vantagem de não aborrecer o espectador. Afinal, todo mundo já foi criança um dia e geralmente é um período muito divertido e de muitas descobertas. Eu me lembro que quando eu era pequeno eu achava que a minha mãe era uma santa, ou no mínimo a pessoa mais sábia, bondosa e infalível do mundo. Com a adolescência é que passamos a perceber os defeitos de nossos pais. E um dos temas mais interessantes do filme é justamente o desencanto da criança ao descobrir que os seus pais também fazem coisas erradas. 

O diretor de fotografia, Italo Petriccione, é o mesmo de MEDITERRÂNEO e já trabalhou em vários filmes de Salvatores. Por falar nos filmes do diretor, tem um filme dele que eu sou especialmente curioso pra conhecer. Chama-se DENTI (2000) e é um filme surrealista sobre um homem obcecado por seus dentes dianteiros, que eram enormes. Pelo que dizem, o filme é bem sangrento e desagradável. Acredito que esse filme é inédito no Brasil.

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