SÃO JERÔNIMO
Tarefa difícil comentar um filme como SÃO JERÔNIMO (1999), de Júlio Bressane, o cineasta mais erudito do cinema brasileiro. Nesse filme, com pouquíssimos recursos, Bressane conta a história de São Jerônimo, o homem que traduziu as escrituras sagradas das línguas originais (hebraico, aramaico e grego) para o latim, a pedido do Papa Gregório. Bressane usa como a caatinga nordestina como o deserto onde Jerônimo se penitenciava. Inclusive, o filme fecha ao som de "O Último Pau-de-Arara".
O filme não é fácil. Tem uma narrativa lenta e poucos closes - e quando há, os ângulos de câmera são bem esquisitos. Destaque para uma cena no final, quando a câmera faz as vezes de uma pedra, machucando Jerônimo.
Algo que me incomodou, ao mesmo tempo que me impressionou, foram os trapos que os personagens vestiam. Apenas roupas de mendigos, sem sandálias nos pés. E a metodologia de trabalho de Jerônimo é totalmente desaconselhável: fazer as traduções no deserto, sem comida e sem água. Os diálogos não são bem diálogos, são dizeres, falas que Bressane julga importante, e ditas de maneira artificial e estranha.
Melhor eu não me estender pra não correr o risco de falar bobagem, devido à pouca intimidade com o tema. Ver esse tipo de filme é como ver um filme do Godard: a gente sempre termina o filme sabendo o quanto a gente é ignorante e precisa ler mais, aprender mais, saber mais. A gente exercita a nossa humildade.
Dois ótimos textos sobre o filme aqui. E vamos aguardar que FILME DE AMOR, o novo filme de Bressane, chegue aos cinemas da cidade.
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