quinta-feira, janeiro 29, 2004

BUENA VISTA SOCIAL CLUB



Em 1999, Wenders recebeu elogios de crítica e público com esse documentário sobre a velha guarda de músicos cubanos. Lembro que não quis ver no cinema porque era um documentário e porque era um filme sobre um tipo de música que eu não conhecia nem me sentia atraído. Achava que não ia gostar. E depois, fiquei achando tudo muito hype, o disco com a trilha sonora vendeu milhões de cópias no mundo todo e os músicos saíram do anonimato e começaram a fazer shows em tudo quanto era lugar. Mas o filme é bem melhor do que eu esperava.

A estrutura inicial do documentário é até pouco criativa. Entrevista com o músico tal, depois uma música, e assim por diante. Só do meio pro final é que o filme ganha mais inventividade, talvez por se livrar da obrigação de apresentar o músico através da entrevista. Mas isso não chega a ser um problema. É bom para que possamos saber um pouco sobre o passado do músico.

Outra coisa interessante é que Wenders também foca o filme na sociedade cubana. Ele mostra o empenho do Governo de Fidel em apoiar o esporte, por exemplo. Mas o filme também acaba fazendo um contraste: quando os músicos vão conhecer Nova York, sentimos uma grande diferença entre a arquitetura velha e os carros velhos de Cuba e a modernidade da metrópole americana. Mostra também que os cubanos não tem contato com a cultura americana por causa da rixa entre os dois governos. O que eu acho uma pena - os caras não sabiam nem quem era Marylin Monroe. Com o filme, também temos uma noção das crenças religiosas dos cubanos, que lembram um pouco a mistura de religiões daqui do Brasil.

Sobre os músicos, a ponte entre os americanos e os cubanos era Ry Cooder, o cara que compôs a belíssima trilha de PARIS, TEXAS (1984), do Wenders e que também trabalhou com ele em O FIM DA VIOLÊNCIA (1997). Os principais músicos cubanos eram Imbrahim Ferrer e Compay Segundo (que morreu no ano passado). O tipo de música às vezes soa meio cafona para ouvidos acostumados a música pop, como eu, mas dá sim pra ver a beleza da musicalidade deles. Um problema é que quando Cooder tocava com os cubanos, às vezes a guitarra dele não combinava com o estilo e a guitarra ficava só fazendo barulhinho.

A minha cena preferida do filme é uma em que Wenders usa uma steady-cam quando boa parte dos músicos estão próximos de um lago. Lindona aquela cena. Tive vontade de revê-la. Pena que eu assisti o filme meio que em partes, porque parava de vez em quando pra botar uns cd's pra gravar no computador.

O documentário é meio que uma volta por cima no cinema de Wim Wenders, já que os filmes dele andavam bem capengas. Fez tanto sucesso que ele foi chamado para participar do projeto "The Blues", fazendo o documentário THE SOUL OF A MAN, sobre blues. Será que é melhor que o do Eastwood, que eu tive oportunidade de ver na Mostra de São Paulo?

De qualquer maneira, só vou sossegar quando vê-lo fazendo um filme de ficção de primeira de novo. A lembrança do horroroso O HOTEL DE UM MILHÃO DE DÓLARES (2000) continua presente. Ele já tem um drama na agulha chamado LAND OF PLENTY que deve estrear esse ano. Fica a expectativa.

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