domingo, agosto 24, 2003

THE SMITHS - THE COMPLETE PICTURE


Nesses dias de tristeza, falta de grana e de amor, me sinto como se estivesse voltando no tempo há 10 anos, quando a vida não fazia muito sentido. Pelo menos, pra mim, que me achava um excluído pela sociedade por causa de meus próprios temores. Naquele tempo, comecei a cursar inglês e comecei a tirar o atraso em relação às bandas de rock de décadas passadas, que eu não pude conhecer durante os anos 80. Foi nessa época que eu conheci Beatles e conheci também Smiths, banda que foi muito importante pra mim por causa da identificação imediata que tive. As letras falavam de dificuldade de adaptação ao mundo, de timidez, de solidão. Aquilo ali era perfeito pra mim. Não era querer me lamuriar, me afundar mais ainda na minha tristeza. Era querer ficar feliz (ou relativamente feliz) em saber que alguém do outro lado do Atlântico também sente o que você sente. Era como se eu tivesse vendo um filme do Woody Allen, em certo sentido.

O que a Legião Urbana de Renato Russo fazia aqui no Brasil, os Smiths faziam na Inglaterra. Assim como Renato Russo dizia "quero ouvir uma canção de amor, que fale da minha situação" (Em "O mundo anda tão complicado"), Morrissey dizia "Hang the dj, because the music that they constantly play says nothing to me about my life" (em "Panic"). No fundo o que existia naquele momento era uma necessidade de extravazar suas angústias através de canções românticas no melhor estilo byroniano. Comento sobre isso por ocasião de uma fita gravada pelo amigo Ernando (já há algum tempo) do dvd THE COMPLETE PICTURE, contendo videoclipes da mais inspirada banda de Manchester. Os videos presentes no dvd/fita vêm com close captions em inglês pra gente acompanhar, cantando junto. Eis as faixas:

"This Charming Man" - Morrissey canta rodeado de flores por todo lado. (Até lembra o clipe da Legião para "Perfeição", só que menos mórbido.) A canção fala de falta de dinheiro e de sentir-se um marginal. Adoro o ritmo dela. Uma das mais dançantes da banda.

"What Difference Does it make" - A banda toca num lugar cheio de luzes, como uma discoteca dos anos 80. Morrissey de óculos e o famoso topete. A canção fala de preconceito, de sacrifícios que uma pessoa apaixonada faz e do amor que resiste apesar de tudo.

"Panic" - A imagem está puxada, fazendo um widescreen forçado. Gosto das cores do vídeo. Há a cor da guitarra que destoa da cor geral, coisa que o Oasis também fez num clipe. A mensagem da canção eu até já comentei lá em cima.

"Heaven Knows I´m Miserable Now" - Esse video está muito parecido como o de "What Difference...". A letra fala da tristeza que vem depois do porre, da fuga da realidade que não adiantou muito e temas do tipo. Não é das minhas favoritas.

"Ask" - talvez a melhor canção sobre timidez já feita. É um video que já tem um roteiro, um cuidado visual maior e não apenas a banda tocando. Um dos mais belos da coletânea. Dirigido pelo cineasta Derek Jarman.

"The Boy with the Thorn in His Side" - Morrissey cantando com a palavra "bad" escrita no pescoço. Bem mais efeminado do que o costume. Hehehe. De novo, é o mesmo visual de "What Difference.." e de "Heaven Knows...".

"How Soon Is Now? - a canção mais climática dos Smiths. Novamente, o tema é a timidez. A frase "I am human and I need to be loved" é clássica. Talvez o melhor dos videos da coletânea. Tem uma excelente edição, cores caprichadas, uma garota bonita, imagens das fábricas da Inglaterra naquele clima "foggy". Excelente.

"Shoplifers of the World Unite" - antes do Jane´s Addiction convidar as pessoas para roubar super-mercados, os Smiths já fizeram isso. Dá até pra lembrar da Winona Rider. Um hino politicamente incorreto. O clipe é só a banda tocando.

"Girlfriend in a Coma" - excelente canção pop e um dos melhores trabalhos de Johnny Marr. Foi escrita para o álbum "Strangeways, Here we Come", que destaca mais Marr do que Morrissey, tal a sofisticação musical do guitarrista na época. O clipe mostra Morrissey cantando e ao fundo uma fotografia em preto e branco de uma garota.

"Sheila Take a Bow" - outro clipe mostrando apenas a banda tocando. Dessa vez em tons azulados. Na canção, Morrissey dá conselhos pra uma garota pessimista.

"Stop me if you think you´ve heard this one before" - Outro vídeo caprichado. Morrissey mostra que é fã de Elvis Presley, passeia com a camiseta da capa de "The Queen is Dead" junto com a banda. Detalhe: todos no clipe usam óculos - tanto a banda quanto os meninos que aparecem. Belíssimo o finalzinho: "nothing´s changed/ I still love you/ Only slightly less than I used to/ My love".

"The Queen is Dead" - a faixa título do disco mais festejado da banda recebeu um vídeo dos bons. Mistura temas de natureza universal, como a solidão, com outros temas bem ingleses. Tanto que começa com uma canção tradicional inglesa.

"There is a light that never goes out" - uma das minhas canções favoritas. Costumava cantarolar constantemente na época da faculdade. O vídeo é bonito, em tom sépia. Adoro o ultra-romantismo da letra que fala do privilégio de morrer num acidente de carro com a pessoa amada.

"Panic" - outro vídeo dessa canção. Dessa vez não mostra a banda tocando. Há uma fotografia em preto e branco, câmera tremida, Londres pichada, fogo, um homem beijando uma caveira. Bem interessante. Derek Jarman na direção.

Tenho impressão que ainda tinha um curta-metragem dirigido por Derek Jarman, mas o cara não gravou. Mas não tenho do que reclamar. Agora o que eu queria mesmo era ver o dvd de videoclipes do Morrissey, que até agora só saiu lá fora, mas andei checando e está muito mais recheada. Chama-se Oye Estebán.

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