segunda-feira, novembro 22, 2004

FRITZ LANG EM DOIS FILMES

 

Antes tarde do que nunca. Só agora estou descobrindo os filmes de Fritz Lang. Depois de ter me decepcionado com METRÓPOLIS (1927), pude conferir dois Langs excepcionais. M - O VAMPIRO DE DÜSSELDORF (1931), em especial, me deixou maravilhado. O outro título que vi, OS CORRUPTOS (1953), é da fase americana, lar da maior parte de sua filmografia. Lang fugiu da Alemanha logo após ter sido convidado para dirigir a nova indústria cinematográfica do Terceiro Reich. Ao que parece, Hitler era fã de seu trabalho, especialmente de METRÓPOLIS. Depois de passar um tempo na França, onde rodou LILIOM (1934), Lang partiu para Hollywood, onde foi bem recebido, apesar da dificuldade de ter que lidar com os produtores da época, que davam pouca liberdade criativa aos diretores. Mas isso não impediu Lang de deixar sua marca em todos os filmes que fez. De acordo com Peter Bogdanovich, no livro Afinal Quem Faz os Filmes, "as verdadeiras preocupações de Lang eram os feridos e ultrajados - aqueles que foram retorcidos pela vida, aleijados física ou emocionalmente pelos eventos de sua existência." Essa característica é vista claramente nesses dois belíssimos exemplares de sua filmografia.

M - O VAMPIRO DE DÜSSELDORF (M / M - Eine Stadt sucht einen Mörder)

M é o filme preferido do próprio diretor. Também pudera. Com um trabalho desses, qualquer um se sentiria orgulhoso. Antes de ser lançado, o título provisório do filme era "M - Um Assassino entre Nós" e logo os nazistas acharam que Lang estava se referindo a Hitler. Depois que souberam que o filme era sobre um assassino de crianças, eles se acalmaram mais. Quanto ao título brasileiro, a palavra "vampiro" no título não se justifica e da mesma forma que pode atrair alguns espectadores desavisados, pode afastar outros. M foi o primeiro filme falado dirigido por Lang. Como era uma característica dos primeiros filmes falados, havia muita conversa e pouca utilização de trilha sonora. Reclamava-se que o cinema tinha se transformado num teatro filmado, perdendo muito da criatividade em se contar uma história basicamente com imagens. Não é o caso de M: as cenas de conversa são muitas mas fundamentais para o desenvolvimento da narrativa; e depois de quarenta minutos de filme, os diálogos diminuem consideravelmente, sobrando espaço para algumas das cenas silenciosas mais impressionantes que eu já vi. A cena em que Peter Lorre (o assassino de crianças, em performance espetacular) se vê acuado por seus perseguidores numa rua quase deserta é pura magia e trouxe um sentimento dúbio: ao mesmo tempo que eu torcia para que pegassem o assassino, sentia pena dele. A cena do "júri popular", então, mexe com as emoções de tal forma que chega a ser intoxicante.

Nesse filme, "os aleijados física e emocionalmente pelos eventos da existência" tanto podem ser as mães das meninas assassinadas, quanto o próprio assassino, vítima do seu próprio instinto doentio. Lang havia entrevistado assassinos de verdade para compor o personagem de Peter Lorre. O horror maior é que o filme nunca mostra ou explica de que maneira as crianças eram encontradas, ficando a critério do espectador imaginar os maiores horrores possíveis. Um dos filmes mais importantes da história do cinema. Obra-prima. Visto em divx, enviado pelo Fábio.

Em 1951, Joseph Losey dirigiu um remake de M, repetindo algumas seqüências do original, tomada por tomada. Fiquei curioso para conhecer essa versão de Losey. Na entrevista de Lang a Bogdanovich, ele falou que nunca tinha visto o filme. Ao que parece, ele e Losey não se entendiam muito bem. Lang, zombando do fracasso comercial da nova versão, comentou que o filme deve ter passado apenas em asilos de cegos, já que ninguém o viu.

OS CORRUPTOS (The Big Heat)

Se em M, as mães sofriam com o desaparecimento e a morte de suas crianças, em OS CORRUPTOS, o personagem de Glenn Ford sofre com o assassinato de sua esposa. A cena da morte da esposa é chocante e acontece justamente num momento de paz e alegria no lar. Assim como em M, a morte não é mostrada. Só vemos o estrago depois. O filme, com aquele clima intrigante dos filmes noir da época, tem trama intrincada, vários personagens, corrupção entre policiais, café quente na cara. Destaque para a participação de Lee Marvin como um dos mafiosos. OS CORRUPTOS talvez tenha sido um dos filmes mais violentos de sua época (já começa com uma cena de suicídio). É um ótimo filme, mas se comparado a M fica bem atrás. Visto em DVD há cerca de um mês, o que justifica um pouco o meu breve comentário, já que me esqueci de muita coisa do filme.

Outros filmes de Lang disponiveis em DVD (nem sempre com garantia de boa qualidade):

Da fase muda:
A MORTE CANSADA (Continental)
DR. MABUSE - PARTE 1 - O JOGADOR (Continental)
DR. MABUSE - PARTE 2 - O INFERNO DO CRIME (Continental)

Da fase falada:
LILIOM (Magnus Opus)
O RETORNO DE FRANK JAMES (Classic Line)
O TIGRE DE BENGALA (Continental)
O SEPULCRO INDIANO (Continental)

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