sábado, setembro 03, 2022

EM BUSCA DO PRAZER (Alla Ricerca del Piacere)



O grande barato de conhecer mais e mais filmes do gênero giallo é que, mesmo quando eles não são ótimos ou obras-primas, boa parte deles conserva uma elegância e um charme tão próprios que chegam a ser irresistíveis. O caso de EM BUSCA DO PRAZER (1972), de Silvio Amadio, é bem particular, pois não é aquele giallo mais tradicional, com um assassino de luvas pretas matando várias pessoas, enquanto alguém, não necessariamente um detetive de polícia, tenta solucionar perigosamente o mistério. Aqui o mistério em torno da suposta morte de uma jovem mulher segue uma linha que muito lembra o cinema clássico hollywoodiano (hitchcockiano, às vezes), mas com uma dose de erotismo que o aproxima tanto das comédias eróticas italianas, que seriam também especialidade de Amadio, quanto do espírito da época daqueles tempos em que a contracultura invadia a arte, a moda e os lares.

Trata-se, muito provavelmente, de um dos mais sensuais gialli já produzidos – se alguém viu QUELLA ÈTA MALIZIOSA (1975), do mesmo diretor e com a presença exuberante de Gloria Guida, sabe mais ou menos o que esperar, levando em consideração que o que temos aqui é uma hsitória de suspense. Há uma exploração admirável dos corpos nus de pelo menos três personagens femininas importantes no filme, em especial Barbara Bouchet e Rosalba Neri – elas duas contribuem com uma cena de sexo lésbico lindíssima nos primeiros vinte minutos da metragem.

Na trama, Bouchet é uma jovem que se candidata a secretária de um romancista depois que sua amiga, secretária anterior desse escritor, é dada como desaparecida. Ter o americano Farley Granger (PACTO SINISTRO, de Alfred Hitchcock) como um dos protagonistas é um ganho e tanto para a produção, assim como também ter a presença da cidade de Veneza embelezando algumas cenas externas. Ele faz o papel do tal escritor, principal suspeito pelo desaparecimento e possível morte da ex-secretária. A personagem de Bouchet vai se aproximando e tentando descobrir o mistério, mas também vira objeto de desejo da esposa do escritor (Rosalba Neri), que adora reunir amigos para criar jogos sexuais em sua casa. 

À medida que a protagonista se aproxima daquele casal, mais ela vai se enredando numa rede de drogas, sexo e violência. Além do mais, uma vez que o escritor descobre que ela suspeita que ele é o assassino, ele passa a ditar num gravador, para que ela ouça, pois é tarefa dela ouvir as fitas e datilografar tudo, a história de uma jovem secretária que chega na casa de um assassino para investigar a morte de sua amiga/amante. Ou seja, de certa maneira, o escritor passa a brincar com a própria situação de suspeição, o que acaba nos fazendo lembrar de outro suspense erótico muito querido, INSTINTO SELVAGEM, de Paul Verhoeven.

Barbara Bouchet é hoje considerada uma das rainhas do giallo, ao lado de Edwige Fenech. Só em 1972, mesmo ano de EM BUSCA DO PRAZER e um dos anos de ouro para o gênero, ela também esteve em O SEGREDO DO BOSQUE DOS SONHOS, de Lucio Fulci, e em A RAINHA VERMELHA MATA 7 VEZES, de Emilio Miraglia, para citar dois títulos de destaque.

EM BUSCA DO PRAZER tem um andamento muito agradável, e talvez isso até prejudique um pouco a criação de uma atmosfera de tensão mais eficiente. Talvez porque a especialidade de Amadio fosse mais o erotismo e a comédia do que o suspense. Mesmo trabalhando um tom de mistério, o filme parece uma grande brincadeira. Isso pode ser encarado como algo tanto positivo quanto negativo, dependendo do que se espera e do que se aceita de um filme. Li em um desses fóruns de compartilhamento de filmes sobre o fato de que EM BUSCA DO PRAZER estaria mais próximo de um Alice no País das Maravilhas do que de um romance da Agatha Christie. Isso faz todo o sentido. E é uma chave para uma melhor valorização do filme.

Visto no box Giallo Vol. 5.

+ DOIS FILMES

GUIA ROMÂNTICO PARA LUGARES PERDIDOS (Guida Romantica a Posti Perduti)

Alguns filmes preenchem nossos corações com um sentimento próximo ou superior à gratidão. Essa é mais ou menos a minha relação com GUIA ROMÂNTICO PARA LUGARES PERDIDOS (2020), de Giorgia Farina, um road movie que parecia ter tudo para dar errado e acaba funcionando muito bem, com seus dois personagens que poderiam ser difíceis de se afeiçoar: uma moça que sofre constantes ataques de pânico (Jasmine Trinca) e um homem alcoólatra (Clive Owen). Os dois se conhecem em um dos estados de embriaguez do personagem de Owen e combinam uma viagem para uma cidade muito peculiar da Inglaterra. Gosto muito de como a amizade dos dois vai se solidificando, com o respeito da condição de cada um, e de como o caminho que levam vai mostrando possíveis faróis. Adoro a cena da dança no final e também os momentos finais de ambos com seus respectivos parceiros românticos. Um pequeno filme sobre amizade, mentiras, viagens, motivação e diferentes maneiras de enxergar a vida, sob um véu muito próprio.

PARADISE - UMA NOVA VIDA (Paradise – Una Nuova Vita)

Não consegui me envolver com esta comédia dramática sobre um homem que se vê longe de sua família após testemunhar um crime de assassinato. Vivendo num lugar isolado e gelado graças ao serviço de proteção à testemunha, ele acaba encontrando o próprio assassino naquele espaço. E os dois estabelecem uma relação até que bem próxima. Primeiro longa de ficção de Davide Del Degan, PARADISE – UMA NOVA VIDA (2019) tem uma beleza plástica que chama a atenção. Há um plano geral de um dos locais que é de encher os olhos. Mas a falta de conexão com a trama ou com os personagens fez com que o filme parecesse muito mais longo do que na verdade é. De todo modo, imagino que ele encontrará seu público.

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