domingo, agosto 21, 2022
X – A MARCA DA MORTE (X)
Quando vi A CASA DO DIABO (2009) fiquei bem interessado em conhecer mais o trabalho de Ti West. Infelizmente, depois que vi HOTEL DA MORTE (2011), este entusiasmo esfriou bastante, mas não a ponto de me deixar desinteressado pelo seu trabalho. O problema mesmo é a falta de tempo e também o fato de eu querer abraçar o mundo do cinema com braços curtos. Como não me fixo em apenas um gênero ou dois, é cada vez mais difícil dar conta do quanto quero ver. Além do mais, mesmo que eu me fixasse apenas no horror, no cinema fantástico, acompanhar tanto o trabalho de diretores novos quanto de clássicos do passado é, por si só, uma tarefa hercúlea. Passada a desculpa inicial, falemos de X – A MARCA DA MORTE (2022), o mais novo trabalho de West, depois de ele ter trabalhado em várias produções para a televisão nos últimos anos – seu longa-metragem anterior foi o western NO VALE DA VIOLÊNCIA (2016).
X – A MARCA DA MORTE é o primeiro filme de West a ser lançado nos cinemas brasileiros. Até então, ele era aquele diretor conhecido apenas por uma fatia pequena de fãs de horror, com alguns filmes lançados em DVD ou em streaming. Às vezes, nem isso, imagino. E assim como A CASA DO DIABO emulava o terror sobrenatural da década de 1970 em seu visual, este novo trabalho emula o slasher sujo e de baixo orçamento que fez a festa da juventude na virada dos anos 1970-80, inclusive com um tipo de textura muito diferente do que geralmente se vê em filmes recentes, o que é corajoso, pois vai fazer alguns espectadores acharem que o fato de a imagem não ser tão nítida pode ser defeito do projetor. Achei charmoso isso.
O filme de West tem dividido opiniões, mas em geral os fãs de slasher têm gostado. Afinal, por mais que X seja uma obra que traga muito conteúdo para reflexão, superficialmente falando, não deixa de ser uma obra divertida sobre dois velhos matando jovens, tendo o espectador como um voyeur que se diverte com a situação familiar apresentada. As cenas de violência e gore são encaradas como algo divertido, para o bem e para o mal, mas há também um bem-sucedido uso do suspense nos momentos que antecedem o perigo, como é o caso da cena do jacaré se aproximando da personagem de Mia Goth (SUSPÍRIA - A DANÇA DO MEDO). Trata-se de um grande momento, inclusive do ponto de vista visual.
X – A MARCA DA MORTE é um filme sobre os abismos existentes entre a juventude em seu auge e a velhice que não se conforma com a decadência física. No meio de tudo isso, o sexo como elemento comum, não deixando de ser um ponto também de desejo e não de negação do casal de velhos que aluga uma casa em seu terreno para que um grupo de seis jovens rode um filme pornô barato para ser lançado no mercado de vídeo, antecipando o sucesso vindouro desse mercado. Tendo os corpos como elementos essenciais, é natural que a sexualidade surja até em pequenos momentos, como quando Mia Goth sai apenas com o macacão (sem sutiã ou calcinha) para nadar no rio, ou quando Jenna Ortega (vista no novo PÂNICO) resolve aderir à energia sexual da locação na cena que talvez seja a mais erótica do filme.
Há também algo que merece ser levado em consideração, que é a questão da punição de todos, começando pelos homens, os primeiros a morrer, sendo que os mais autoconfiantes de sua potência sexual – o produtor e o ator pornô de membro gigante – são levados para a morte em trajes sumários. Quanto às mulheres, destaque para a cena de Mia Goth sendo molestada pela velha assassina, que se deita em sua cama para acariciá-la e “pintá-la” com sangue. Aquilo tem algo de cômico, mas principal de aterrorizante.
O fato de X se afastar do visual limpo faz com que as cenas de gore sejam mais realistas e empolgantes, sem que perca, com isso, traços de humor que costumam ser uma característica do subgênero. Há, inclusive, espaço para um tipo de humor mais ácido, como nas cenas finais com a televisão ligada em um culto evangélico. O que, aliás, é outro aspecto que merece ser levado em consideração em análises sobre o filme. Apesar de a trama se passar em 1979, X é um produto de 2022, quando visões mais progressistas convivem com pensamentos cada vez mais “conservadores”, para usar um termo mais gentil para grupos compostos por uma grande parte de pessoas hipócritas.
Ou seja, a televisão exibindo o culto está na casa dos velhos que condenam os atos libidinosos do jovem, quando na verdade o que sentem é inveja de não possuírem mais aqueles corpos bonitos e desejáveis de outrora. Isso fica bem claro na cena em que a velha (também vivida por Mia Goth) se apresenta ameaçadoramente Brittany Snow, cuja personagem feminina é a mais bem-resolvida de sua própria sexualidade.
Em breve, poderemos ver o prequel, PEARL (2022), também estrelado por Mia Goth, e contando a história da principal vilã de X – A MARCA DA MORTE. Promete.
+ DOIS FILMES
A FERA (Beast)
Ao que parece o diretor islandês Baltasar Kormákur encontrou a sua especialidade: o filme de sobrevivência. Provavelmente seus filmes mais lembrados sejam EVERESTE (2015) e VIDAS À DERIVA (2018), produções em língua inglesa, mas ele pode acrescentar no currículo SOBREVIVENTE (2012), feito em sua terra natal. Em A FERA (2022) ele muda de habitat, saindo de ambientes gelados ou do mar para o calor do deserto africano, sendo que o principal foco de perigo agora é um leão intoxicado pela raiva contra seus caçadores. Vendo assim, os principais inimigos são os tais caçadores e não o leão, mas é do animal que a família do personagem de Idris Elba mais precisa fugir durante a maior parte da metragem do filme. Há várias cenas bem eletrizantes e uma outra, perto do final, que chega a ser inacreditável. Grande momento de Elba como ator de ação em um filme bastante eficiente na condução do suspense.
GÊMEO MALIGNO (The Twin)
É possível que no futuro GÊMEO MALIGNO (2022) seja resgatado como um bom exemplar de filme de seita, embora não seja exatamente isso. O primeiro filme em língua inglesa do finlandês Taneli Mustonen nos apresenta a uma família de três pessoas: um homem, uma mulher (Teresa Palmer) e um menino, que teria sido o gêmeo que sobreviveu a um acidente de automóvel. O começo do filme incomoda por trazer uma trama aparentemente muito genérica, por mais que se perceba algum trabalho bonito de composição na fotografia e na direção de arte. A princípio, os eventos parecem ter sido vistos em vários outros filmes. Até que, em certo momento, a história vai se encaminhando por uma trilha menos óbvia (embora em algum momento faça lembrar O BEBÊ DE ROSEMARY), para depois fazer lembrar uma série de terror recente muita querida (não falo qual é pois pode entregar um spoiler do final). Um filme de mais baixos do que altos.
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