quarta-feira, fevereiro 24, 2021

O SÓCIO DO SILÊNCIO / PARCEIRO DO SILÊNCIO (The Silent Partner)



No dia 5 de fevereiro, morreu aos 91 anos Christopher Plummer, ator querido por muitos, vencedor do Oscar por TODA FORMA DE AMOR e bastante lembrado por seu papel no clássico A NOVIÇA REBELDE. E lá fui eu fazer uma listinha dos meus dez favoritos filmes do ator no Facebook, dentre os que eu havia visto (ele tem mais de 200 títulos!). E eis que apareceram alguns filmes indicados por amigos. Entre eles, estava este O SÓCIO DO SILÊNCIO (1978), dirigido por Daryl Duke, diretor que tem mais trabalhos para a televisão em seu currículo.

E de fato O SÓCIO DO SILÊNCIO, lançado em VHS como PARCEIRO DO SILÊNCIO, e disponível atualmente em DVD no box Cinema Policial Vol. 5, da Versátil, é um filmaço. Desses acertos que acontecem com diretores que não chegam a ser autores e não têm um nome famoso, mas que é muito fácil de acontecer. Certamente, se fosse dirigido por um cineasta famoso seria uma obra bem mais lembrada. Mas de uma coisa tenho certeza: quem viu este filme não se esquece.

Eu confesso que já vi a fita nas locadoras algumas vezes, mas a figura daquele Papai Noel com um revólver na capa não me atraiu. Erro meu, claro. Até porque as cenas do personagem de Plummer vestido de Papai Noel e a fim de roubar o banco do shopping, estão entre as mais tensas do cinema de crime dos anos 1970. Também fiquei bastante impressionado com o grau de violência do filme e de como o personagem de Plummer é terrivelmente assustador.

O filme tem um quê de PACTO SINISTRO, do Hitchcock, já que o bandido coloca o bancário como seu "sócio". Com a diferença que o bancário, vivido por Elliot Gould, o verdadeiro protagonista, foi esperto o suficiente para ficar com o dinheiro supostamente roubado durante a confusão envolvendo o assalto, seguido do alarme e da caça ao criminoso. Ou seja, na verdade, temos dois criminosos. Só que um deles é o herói, por assim dizer. O personagem de Gould passa a ser perseguido pelo criminoso profissional - depois também vemos que é um homem extremamente violento e capaz de matar.

Miles, o personagem de Gould, por sua vez, é fascinante no modo frio como arquiteta seus planos e não se mostra apavorado com os ataques do criminoso. Ele é um sujeito que nem sempre é bem-sucedido com as mulheres. Costuma receber fora da colega de trabalho vivida por Susannah York, que prefere manter uma relação com um homem casado, também do banco. As coisas passam a mudar depois do incidente com o Papai Noel assaltante e quando a imprensa passa a ver Miles como uma espécie de herói. A partir desse ponto, a bancária começa a vê-lo com outros olhos. Mais adiante, surge uma outra personagem feminina bem atraente para seduzi-lo, vivida pela bela Céline Lomez. O jogo de gato e rato passa a se tornar cada vez mais interessante, tanto por ganhar força em sensualidade, quanto em tensão e violência.

É interessante pegar algumas curiosidades sobre O SÓCIO DO SILÊNCIO. Uma delas é o roteiro, que ficou a cargo de Curtis Hanson, que faria o oscarizado LOS ANGELES - CIDADE PROIBIDA (1997) e tem outros filmes interessantes como diretor, como o thriller UMA JANELA SUSPEITA (1987). Outra curiosidade é que O SÓCIO DO SILÊNCIO é remake do dinamarquês PENSE EM UM NÚMERO (1969), de Palle Kjærulff-Schmidt. No mais, há um fato que também me chamou a atenção, já que citei Hitchcock: Elliot Gould chegou a levar uma cópia do filme para o mestre do suspense assistir. Hitch deve ter ficado bem feliz.

+ TRÊS FILMES

TRÁGICO DESTINO (Where Danger Lives)

A busca de filmes de curta duração e a foto bonita de Faith Domergue, então namorada e protegida do magnata Howard Hughes, foram os dois principais elementos para que eu escolhesse ver este filme noir pequeno, mas que contava com o carisma de Robert Mitchum (meio no piloto automático e com a vantagem de interpretar um homem com dor de cabeça) e a bem cuidada direção de John Farrow, que conta no elenco com a esposa Maureen O'Sullivan, que nos anos 1930 fez o papel da Jane nos filmes do Tarzan. Na trama de TRÁGICO DESTINO (1950), Mitchum é um médico que se interessa por uma paciente e foge com ela depois de um incidente envolvendo a morte do marido dela. Há vários momentos de tensão e outros até de humor, como no festival onde todo mundo deve estar de barba.

LEGADO EXPLOSIVO (Honest Thief)

E Liam Neeson segue sua jornada de herói de ação de filmes de baixo orçamento, com todo o carisma e talento que lhe é próprio. Claro que nem sempre ele tem a chance de trabalhar com um diretor como Jaume Collet-Serra, mas mesmo com diretores menores e tramas muito simples, é ele que tem feito os filmes de ação mais bacanas em Hollywood atualmente. Neste LEGADO EXPLOSIVO (2020), de Mark Williams, ele até lembra um pouco Charles Bronson na época das continuações de DESEJO DE MATAR, mas com a diferença de ser um bom ladrão, ex-marine, um homem prestes a se entregar para a polícia, a fim de viver uma vida em paz no futuro com a mulher amada. Boa diversão popular com alguns momentos empolgantes.

INCÊNDIOS (Incendies)

Revendo este filmaço de Denis Villeneuve depois de 10 anos, gostei ainda mais. Até porque estava com a mente mais alerta e por conta disso ficou muito mais fácil apreciar este que talvez seja o primeiro grande filme do cineasta. Em tons de investigação misteriosa a mãe morta delega ao casal de filhos gêmeos tarefas de encontrar o pai e o irmão. Adoro o desenrolar da trama de INCÊNDIOS (2010) e de como o diretor costura a narrativa com as linhas do tempo da mãe e dos filhos, de modo que aos poucos vamos percebendo o que ocorreu. A peça original parece pegar emprestado muito da tragédia grega e traz um ar suave ao conseguir juntar o horror com o amor. Sensacional.

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