segunda-feira, janeiro 25, 2021
LILIAM, A SUJA
Tem sido muito interessante acompanhar alguns filmes de horror brasileiros - ou filmes que tangenciam o gênero. LILIAM, A SUJA (1981), de Antonio Meliande, foi um dos que mais me deu prazer de ver. Até porque a cópia disponível está bem melhor do que a de muitos filmes só encontrados em cópias lastimáveis ripados de uma cópia já ruim de VHS ou da televisão. Isso quando é possível. Cinema brasileiro é para os fortes. E este LILIAM, A SUJA, até por ter sido dirigido por um especialista em direção de fotografia (um dos melhores, diga-se de passagem), tem um cuidado maior com a imagem.
O próprio título do filme (em carácteres parecidos com os de THE ROCKY HORROR PICTURE SHOW) já antecipa o banho de sangue que surgirá ao longo da trajetória da anti-heroína vivida por Lia Furlin, atriz de poucos filmes no currículo e muito poucos em que é protagonista. Liliam carrega um trauma gerado pelas lembranças da violência que sua mãe sofreu de seu falecido pai. Ela trabalha de secretária e é assediada com frequência pelo chefe (Luiz Carlos Braga) e com frequência transa com ele em pleno escritório, em horário comercial.
O filme não mostra um gatilho ou uma vontade de decisão de Liliam em fazer carreira de predadora de homens na noite paulistana. Por isso, quando a vemos com sua primeira vítima, um sujeito que a vê num bar sozinha e pede para se sentar junto a ela, chega a ser quase uma surpresa o que acontece logo em seguida, quando os dois vão a um motel. Liliam, uma vez que mata a vítima, depois do sexo, deixa marcado seu nome e uma flor.
Em paralelo à história da protagonista, que também mantém um interessante diálogo como a mãe idosa, vamos acompanhando um grupo de bandidos pés-de-chinelo que chegam a se mostrar bastante malvados, a ponto de matar um sujeito e estuprar sua namorada virgem. A cena é até bastante gráfica. Começo dos anos 1980, essa liberdade formal e um afrouxamento por parte da censura transparecia nas obras do período. Hoje certamente essa cena não seria feita do jeito que foi.
De todo modo, detalhar esta cena com tal crueldade ajuda a fazer com que o desejo de vingança de Liliam contra os homens encontre uma razão de ser ainda mais compreensível, muito antes de a narrativa detalhar seus traumas de infância, inclusive. Mas há algo também curioso no modo como a personagem parece encontrar prazer no sexo e também nas preliminares, ao ver a expressão de desejo de suas vitimais.
Dentro do que os fãs e especialistas gostam de filmes exploitation, LILIAM, A SUJA é tão bom quanto qualquer outro exemplar de destaque produzido fora do Brasil. Da mesma forma, a inclusão dentro da categoria filme de horror também se justifica pelas cenas de pesadelo que o filme traz, que adicionam algo de sobrenatural à trama de crime. Eis um filme que quanto mais eu lembro, mais ele cresce em minha memória afetiva.
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