quinta-feira, julho 16, 2020

O HOMEM QUE QUIS MATAR HITLER (Man Hunt)

Depois do sucesso popular e de crítica dos dois trabalhos anteriores com a Fox, Fritz Lang foi chamado para dirigir O HOMEM QUE QUIS MATAR HITLER (1941). O diretor alemão não foi, porém, a primeira opção da produtora. John Ford foi chamado antes, mas não gostou do tema. Melhor assim. Lang, por ser alemão, e por ter fugido do regime nazista, tinha muito mais intimidade com o tema e seu sentimento anti-nazista era notório.

Na época que o filme foi lançado nos cinemas, a Segunda Guerra Mundial já estava a todo vapor, mas os Estados Unidos ainda não haviam entrado. Isso ocorreria apenas em dezembro de 1941, após o ataque à base naval de Pearl Harbor. O filme estreou em junho no país. E conta uma história que se passa momentos antes da guerra iniciar, ainda em 1939.

Baseado no romance Rogue Male, de Geoffrey Household, o filme já se inicia com um homem, um oficial britânico de nome Alan Thorndike (Walter Pidgeon), mirando seu rifle para Adolf Hitler, que já era então um dos homens mais perigosos e odiados do mundo. Ele primeiro experimenta atirar sem munição. Acha divertido. Então, quando coloca munição na arma, é imediatamente impedido por um oficial nazista, que o prende e o leva até seus líderes.

Há uma conversa bastante tensa e ao mesmo tempo divertida entre o inglês e um oficial alemão, que quer que ele assine uma declaração de que estava ali a serviço do Reino Unido. O oficial inglês se recusa a assinar, é torturado e levado para sofrer um acidente e morrer. Mas sobrevive e se torna caça dos homens novamente, num jogo de gato e rato eletrizante e que torna o ato de ver o filme uma experiência deliciosa.

Ponto para Lang, para seu roteirista e também para seu montador, principalmente. Sem falar na direção de fotografia, de Arthur Miller, que no mesmo ano foi o fotógrafo de dois clássicos de John Ford, CAMINHO ÁSPERO e COMO ERA VERDE O MEU VALE. As imagens são um ponto alto do filme, sendo que boa parte da ação se passa à noite. Até mesmo as brumas de Londres são bem aproveitadas nas cenas em que o protagonista volta para seu país, acreditando estar finalmente livre dos ataques dos nazistas.

Apesar do conteúdo e temática do filme, é interessante notar, até pelo título original, Man Hunt, que se trata de uma variação na filmografia do cineasta. Mostrar uma pessoa acuada e perseguida já era algo que se via desde, por exemplo, DEPOIS DA TEMPESTADE (1920), lá no começo de sua carreira na Alemanha. Nos Estados Unidos, vimos heróis perseguidos ou em situação semelhante tanto em FÚRIA (1936) e nos filmes seguintes de temática social, quanto em seus westerns.

Como em tantos outros heróis languianos, Thorndike aprenderá, nesse processo, muito sobre si e também sobre a sociedade que o cerca. Em seu caso, em particular, ele percebe que se vê em uma rede de intrigas em que não pode nem mesmo confiar nas autoridades de seu próprio país, transformando-se em alguém perseguido pela lei, chegando ao ponto de se refugiar em uma caverna.

Quanto à questão do relacionamento afetivo do filme, é tratado por Lang com bem pouca sentimentalidade. Jerry, a garota inglesa que ajuda Thorndike a escondê-lo de se seus inimigos, vivida por Joan Bennett, se sente imediatamente atraída por aquele cavalheiro que está precisando de algum dinheiro para ir à casa de seu irmão, um membro da aristocracia britânica. Ela, como uma moça pobre, acha curioso aquele universo novo, especialmente quando vai com ele até a casa desse irmão. Depois disso, ela não quer mais largar de Thorndike, fica contrariada quando ele diz que vai dormir no sofá e não na cama com ela. Enfim, é uma personagem que equilibra algo de muito frágil e doce e também de muito forte e heroica. Há a famosa cena da ponte, em que vemos o abismo social dos dois, com o guarda a confundindo com uma prostituta. Uma cena bastante dolorosa e uma das mais memoráveis de um filme cheio de cenas memoráveis.

O HOMEM QUE QUIS MATAR HITLER foi o primeiro dos quatro filmes anti-nazistas que Lang realizou em Hollywood. Os próximos seriam OS CARRASCOS TAMBÉM MORREM (1943), QUANDO DESCERAM AS TREVAS (1944) e O GRANDE SEGREDO (1946). Em breve comentarei sobre cada um deles neste espaço.

+ TRÊS FILMES

NORMAN - CONFIE EM MIM (Norman - The Moderate Rise and Tragic Fall of a New York Fixer)

Um estranho no ninho nos cinemas de shopping no ano de 2017, este filme sobre um homem de negócios pegou muita gente de surpresa. Sem falar que é confuso pra caramba. Ainda assim, é muito interessante e tem talvez o melhor papel da carreira de Richard Gere. Direção: Joseph Cedar. Ano: 2016.

MUNDOS OPOSTOS (Enas Allos Kosmos / Worlds Apart)

Das três histórias do filme, gosto muito da segunda. A primeira é ok e a terceira, que é a que tem o J.K. Simmons e amarra as outras, acaba pondo tudo a perder. Mas fiquei com boas lembranças da história do romance entre o grego e a sueca. O filme tem sua importância para mostrar a situação crítica do povo grego pós-crise. Direção: Christoforos Papakaliatis. Ano: 2015.

A LUZ ENTRE OCEANOS (The Light between Oceans)

Talvez o menos inspirado dos filmes de Derek Cianfrance, ainda assim trata-se de uma obra que mexe pra caramba com a gente, principalmente no início, quando mostra o começo da relação dos protagonistas, e mais perto do final, quando mete o pé na jaca de vez no melodrama. No meio de tudo isso, alguma coisa se perde. Mas é um filme irresistivelmente bonito, mesmo assim. Alicia Vikander está mais uma vez apaixonante. Ano: 2016.

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