terça-feira, junho 09, 2020

DOIS DOCUMENTÁRIOS DE ABEL FERRARA

Encerrando a minha peregrinação pelo cinema de Abel Ferrara com estes dois documentários um tanto escondidos do cineasta. O primeiro nem mesmo no IMDB aparece; o segundo consta como extra de DVD. Como meu ouvido não é muito bom, deixei para outra oportunidade a chance de ver/rever telefilmes como O GLADIADOR (1986) e THE LONER (1988) e os documentários CHELSEA ON THE ROCKS (2008), ALIVE IN FRANCE (2017) e PIAZZA VITTORIO (2017). Como o homem não para, é esperar pelo lançamento de três novos trabalhos dele, THE PROJECTIONIST (2019), TOMMASO (2019) e SIBERIA (2020). Qualquer dia desses, essas produções se tornam acessíveis. De todo modo, foi um prazer poder conhecer melhor, nesta quarentena, a obra de um dos cineastas mais importantes e mais queridos e ao mesmo tempo malditos da contemporaneidade.

SEARCHING FOR PADRE PIO

Documentário feito para a televisão italiana para um programa jornalístico de nome BOATS, SEARCHING FOR PADRE PIO (2015) é uma obra que dialoga com a filmografia de Ferrara não apenas pelo Catolicismo e por sua maior aproximação mais recente com o cinema italiano, mas também pelo fato de que o objeto de estudo, o Padre Pio, é um personagem bastante controverso. Mal comparando, ele faz lembrar o Padre Cícero, que tem uma história envolta em milagres e supostos escândalos políticos. No caso de Padre Pio, que foi canonizado pelo Vaticano, interessa a Ferrara tanto aquilo que mais chama a atenção dos fiéis do padre, que é a fé em seus milagres, o que se diz sobre a estigmata (seria verdade ou uma farsa?), sobre um momento de transfiguração comentado por outro padre, sobre as intermináveis horas que o padre passava ouvindo as centenas de fiéis que vinham se confessar e receber milagres, quanto a negociação com líderes fascistas da época de Mussolini para conseguir dinheiro para montar um grande hospital. O documentário traz imagens de arquivo que apresentam essa movimentação intensa da população da pequena cidade de Pietrelcina para pegar o melhor lugar na missa. Como vi o filme com legendas em inglês e o áudio é em italiano, fiquei um pouco atrapalhado para acompanhar com clareza o filme e certamente deixei passar algumas informações importantes.

TALKING WITH THE VAMPIRES

Trata-se de um documentário que mais interessa a quem viu O VÍCIO (1995), ou pelo menos a quem conhece os entrevistados: Lily Taylor, a protagonista, que se vê como mais sábia ao longo dos mais de 20 anos passados da realização do filme; Christopher Walken, que tem uma visão mais amarga da vida, em especial da velhice, falando de como ele não se aposenta: a indústria é que o aposenta, deixando de convidá-lo para projetos por causa da idade; e o compositor Joe Delia, que trabalhou com Ferrara em vários outros filmes - interessante ele dizer que se inspirou em uma composição de tema mórbido de Bach para piano, e no quanto isso combina para a atmosfera do filme. Curioso como Ferrara curtiu essa coisa de fazer documentários centrados em conversas. Pode parecer preguiçoso de sua parte, mas certamente pode resultar em algo muito enriquecedor. Que o diga o nosso Eduardo Coutinho. TALKING WITH THE VAMPIRES (2018) aparece como extra no box Vampiros no Cinema 3, da Versátil.

+ TRÊS FILMES

MUITO ROMÂNTICO

Difícil embarcar na viagem desse filme, mas também é difícil falar mal sem ter compreendido direito a proposta e o que os diretores/atores queriam dizer. Não embarquei e acabei não curtindo muito. Direção: Melissa Dullius e Gustavo Jahn. Ano: 2016.

O AUGE DO HUMANO (El Auge del Humano)

Acho que a cópia ruim (tenho impressão que não era DCP) tenha contribuído pelo meu problema com esse filme. Mas também não é só isso. Trata-se de um trabalho bem difícil, embora as mudanças de ambiente seja inventivas. Mas passada a raiva é um filme a se pensar com um pouco mais de carinho. Direção: Eduardo Williams. Ano: 2016.

ANIMAL POLÍTICO

Ainda falta eu ruminar (sem trocadilho com a vaquinha protagonista) um pouco o filme, já que é um trabalho existencialista e cheio de simbolismos. Adorei a garota caucasiana. Onde que a gente assina pra ter um longa só com ela? Direção: Tião. Ano: 2016.

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