terça-feira, julho 30, 2019

ASCENSOR PARA O CADAFALSO (Ascenseur pour l'Échafaud)

Entre as coisas que eu mais sinto falta atualmente no Brasil estão as revistas de cinema. Falo das realmente boas e regulares, com matérias bem escritas e entrevistas ótimas com cineastas. Na viagem rápida à Flórida no ano passado pude obter três delas: uma Film Comment, uma Cineaste e uma Cinema Scope. Todas com material que tem me servido como combustível para aumentar minha vontade de ver filmes e também trazer informações boas. Costumo dizer que no dia que ganhar na loteria uma coisa que eu vou fazer, não importando se dá dinheiro ou não, é uma excelente revista de cinema no Brasil. E como eu já conheço muita gente boa na crítica brasileira, então ótimos nomes não faltarão. O problema é que quase nunca eu jogo na loteria.

Enfim, tudo isso para falar de que foi de um texto da Cineaste que surgiu uma vontade imensa de ver, finalmente, ASCENSOR PARA O CADAFALSO (1958), estreia brilhante em longa-metragem de ficção de Louis Malle. Antes ele tinha codirigido O MUNDO SILENCIOSO (1956) com Jacques Costeau, que lhe rendeu a Palma de Ouro em Cannes e um Oscar de melhor documentário, e havia trabalhado como assistente de direção para Robert Bresson na obra-prima UM CONDENADO À MORTE ESCAPOU. Ou seja, já começou a carreira chutando os dois pés na porta.

Por isso é um tanto curioso que seu filme, que chegou antes de OS INCOMPREENDIDOS, de Truffaut, e de ACOSSADO, de Godard; e ainda antes dos dois primeiros do Chabrol, NAS GARRAS DO VÍCIO e OS PRIMOS; é curioso que ele não seja costumeiramente chamado de marco zero da nouvelle vague. Afinal, ASCENSOR estreou meses antes dos filmes de Chabrol. Talvez o fato de ele não ser crítico de cinema da Cahiers du Cinema tenha pesado. De todo modo, o importante é que o filme é uma obra-prima e que Malle soube muito bem usar o que aprendera com Bresson e o quanto queria prestar homenagem a Hitchcock.

O filme começa com trocas de juras de amor por telefone entre o casal Julien Tavernier (Maurice Ronet) e Florence Carala (Jeanne Moreau). Os dois tramam assassinar o marido de Florence em um crime muito bem orquestrado, e poderiam ficar juntos, livres e endinheirados. E tudo estava correndo como o planejado até a hora que, depois de matar o sujeito, e sair do escritório como se nada tivesse acontecido, esquece algo e acaba preso no elevador. A partir daí uma série de outros eventos se sucedem e um outro casal passa a ganhar peso na trama.

E por mais que a trama seja uma delícia, o filme não é tão dependente dela, já que há uma atmosfera noturna excitante, ao som da música de Miles Davis. Inclusive, um filme recente utilizou parte da trilha do filme em uma sequência linda. Refiro-me a EM CHAMAS, de Lee Chang-dong. Pois é essa música lindona que embeleza boa parte do filme, que também sabe muito bem utilizar os silêncios para construção de tensão.

As cenas de Jeanne Moreau passeando pelas lojas de Champs-Élysées foram feitas com a câmera em cima de um carro de bebê. O diretor de fotografia, Henri Decaë, foi parceiro de Jean-Pierre Melville e depois seria o homem por trás das câmeras dos primeiros trabalhos de Chabrol e de Truffaut. Ou seja, há muita coisa interligada entre a turma. Inclusive, Jeanne Moreau.

Sem dúvida, ASCENSOR PARA O CADAFALSO foi um dos filmes que mais me deu prazer neste ano. E pensar que há tantos filmes de primeira grandeza para ver ainda. Já me disseram que TRINTA ANOS ESTA NOITE (1963) também é uma maravilha de Malle. Já está devidamente engatilhado. Aliás, a pessoa que me recomendou disse que Malle é puro Khouri. E eu notei que é verdade, vejam só. Daí o fato de eu ter gostado tanto. Há tanto o que ver e o que aprender ainda.

+ TRÊS FILMES

SÃO PAULO, SOCIEDADE ANÔNIMA

Vendo pela primeira vez este grande clássico do cinema brasileiro, achei estranho notar tanto as semelhanças quanto as grandes diferenças com os filmes de outro diretor famoso por pintar a cidade de São Paulo com amor e ódio. Mais amor, no caso de Khouri. Aqui, São Paulo é uma espécie de cidade que enlouquece. Ou o pobre protagonista vivido por Walmor Chagas é apenas um homem fraco e que não sabe direito ainda o que fazer da vida. Não fica contente com o casamento aparentemente perfeito com a personagem de Eva Wilma, mulher correta, carinhosa e que pensa no sucesso financeiro do casal. Ainda é um filme que eu preciso pensar mais a respeito. Direção: Luiz Sérgio Person. Ano: 1965.

TRÁGICO ÁLIBI (My Name Is Julia Ross)

De Joseph H. Lewis só havia visto duas obras-primas, MORTALMENTE PERIGOSA (1950) e REINADO DO TERROR (1958). Este film noir aqui que lembra um pouco À MEIA LUZ, de George Cukor, na trama, é bem curtinho e dinâmico (65 minutos que passam voando). A história é envolvente e eu só senti mais falta de ficar mais tenso com a situação da protagonista, presa em uma trama macabra. Caso de filme pequeno que se fez com pouco dinheiro e exibido em sessões duplas, mas que acabou ganhando força pela boa recepção dos críticos. Ano: 1944.

O HOMEM DA CAPA PRETA

Engraçado eu nunca ter tido tanto interesse em ver este filme, por mais que tenha visto tantas vezes sua propaganda na Rede Manchete, que o distribuiu em VHS. A cópia masterizada está lindona e é um filme com uma produção muito caprichada, inclusive com o uso do som e da dublagem, um elemento que na época não era muito levado em consideração. E falando do filme em si, é curioso como acabamos chegando a um momento histórico parecido com o do final. A história é circular. Direção: Sergio Rezende. Ano: 1986.

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