domingo, agosto 19, 2018

DISTÚRBIO (Unsane)

Apesar da irregularidade e de parecer não haver tantos pontos claros em comum para uma análise de sua autoralidade, seja do ponto de vista temático, seja do formal, a carreira de Steven Soderbergh é uma das mais interessantes dentre os cineastas surgidos do cenário indie nos últimos 30 anos. Trata-se de um diretor que se mostrou interessado nos mais diversos assuntos, sendo suas obsessões bastante fragmentadas.

Surgir com uma história sobre um homem com dificuldades de se relacionar sexualmente com as mulhres (SEXO, MENTIRAS E VIDEOTAPE, 1989), para depois brincar com uma história envolvendo um célebre escritor tcheco (KAFKA, 1991) e depois partir para um drama mais convencional (O INVENTOR DE ILUSÕES, 1993) e embarcar depois de um tempo dentro de um cinema mais comercial, por assim dizer, fazer esse trânsito com frequência e ainda seguir sendo um caso interessante não é para qualquer um.

DISTÚRBIO (2018) é o segundo filme para cinema de Soderbergh depois de uma anunciada aposentadoria que não se concretizou. O anterior foi a divertida comédia LOGAN LUCKY – ROUBO EM FAMÍLIA (2017), que volta ao tema do roubo inteligente, celebrado em ONZE HOMENS E UM SEGREDO (2001). Em DISTÚRBIO o diretor volta a outro tema que lhe interessa: a questão da sanidade mental, abordada em um registro mais dramático em TERAPIA DE RISCO (2013). No novo trabalho, temos um suspense bem eficiente.

Na trama, Claire Foy é Sawyer Valentini, uma jovem mulher que sofre de uma fobia que só aos poucos vai sendo descortinada. Ela mora em uma cidade distante de sua família, a fim de fugir de um homem obcecado. Certo dia, após uma consulta com uma psicóloga, ela acaba assinando papéis em que concorda em ficar detida em um sanatório por um determinado período de tempo. Ao chegar lá, afirma que um dos funcionários é o tal homem que a persegue. Demora um pouco para sabermos se o que ela diz é fruto de sua imaginação ou algo real. Até então, a personagem segue em uma espiral de medo e perturbação que é acentuada por imagens às vezes desfocadas, às vezes em enquadramentos pouco usuais, filmadas em uma câmera de um iPhone 7 Plus.

+ TRÊS FILMES

TERROR CEGO (See No Evil)


Preciso conhecer mais o trabalho de Fleischer. Este TERROR CEGO é brilhante. A pobre da Mia Farrow faz um trabalho excepcional, inclusive físico, no papel de uma mulher cega e sozinha fugindo de um assassino. Já vi filme parecido, mas este talvez seja o melhor. Direção: Richard Fleischer. Ano: 1971.

HANNAH

Achei muito bom como um exercício de seguir uma personagem prestes a desabar. Mas o filme não me pegou, não me senti tocado pela personagem. Talvez por não haver uma maior clareza sobre o que de fato estava acontecendo entre ela e o filho e o que aconteceu com o marido. É muita responsabilidade nos ombros da Charlotte Rampling. Direção: Andrea Pallaoro. Ano: 2017.

RÉQUIEM PARA A SRA. J. (Rekvijem za Gospodju J)

Um interessante retrato da Sérvia, que ainda é uma nação em ruínas, pela visão de uma senhora com depressão e que planeja a própria morte. Pena que eu não me envolvi seu drama e achei mais interessante do ponto de vista formal apenas. Dá pra imaginar o Brasil com mais um ano de governo Temer vendo o filme. Direção: Bojan Vuletic. Ano: 2015.

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