domingo, março 04, 2018

THE POST - A GUERRA SECRETA (The Post)

Steven Spielberg tem um especial interesse pela História dos Estados Unidos desde criança. De acordo com o que ele mesmo diz no documentário SPIELBERG, de Susan Lacy, seus primeiros curtas experimentais foram sobre a Segunda Guerra Mundial, especialmente sobre situações envolvendo os aviões. Não por acaso, sua primeira experimentação profissional com a guerra foi em uma comédia, 1941 - UMA GUERRA MUITO LOUCA (1979). Só anos depois ele se atreveu a fazer um filme "sério" sobre a guerra, O IMPÉRIO DO SOL (1987), o primeiro de vários.

THE POST - A GUERRA SECRETA (2017) não é sobre a guerra, não a guerra que ele tanto prefere citar em suas obras, talvez por ser a guerra mais honrada dos americanos, mas, como o próprio título brasileiro diz, sobre uma guerra secreta, uma guerra acontecendo nos bastidores, em um momento em que os Estados Unidos estavam sob a mão de um presidente vilão. Não à toa, este filme chega em um momento em que o país está sendo governado por Donald Trump, um motivo e tanto para que Hollywood volte a ser tão politizada quanto foi nos anos 1970.

E chegamos em 1971, ano em que se passa a história de THE POST, quando repórteres do jornal The Washington Post, em especial Ben Bradlee (Tom Hanks), tentam a todo custo conseguir um furo e acabam descobrindo algo muito podre no governo de Richard Nixon. Na verdade, o tal furo foi conseguido de mãos beijadas por uma anônima, que distribuiu documentos secretos que incriminavam o Governo, que mentiu muito sobre a Guerra do Vietnã.

A semelhança de THE POST com o oscarizado SPOTLIGHT - SEGREDOS REVELADOS, de Tom McCarthy, é talvez só o caráter investigativo e uma visão mais gloriosa do jornalismo, embora, surpreendentemente, Spielberg consiga criar uma figura cínica do personagem de Hanks, e uma posição relativamente heroica da publisher Kay Graham, vivida por Meryl Streep. Não deixa de ser um alívio, levando em consideração que ele poderia ir pelo caminho fácil do bem contra o mal, pintando seus heróis com imagens essencialmente puras.

Outra vantagem de THE POST em relação ao filme que levou o Oscar é que Spielberg é muito mais cineasta, e isso transparece lindamente nas cenas em que sua câmera passeia pelos ambientes físicos do jornal, como nas reuniões, e nos vários planos-sequência. Há muito verbalismo sim, mas a palavra aqui é importante. E é interessante perceber que o cineasta não nos introduz tão facilmente ao enredo. É preciso prestar atenção para ir se acostumando e entendendo o ambiente e a situação, para depois se ver engolfado no suspense crescente da trama.

Além de contar com Streep e Hanks, há um elenco de apoio excepcional em THE POST: Sarah Paulson, Bob Odenkirk, Tracy Letts (que, aliás, está em LADY BIRD também), Bruce Greenwood, Alison Brie, Bradley Whitford, Jesse Plemons. Um elenco grandioso que, compreensivelmente, é mal utilizado, em prol da trama. Um cineasta do porte de Spielberg pode se dar a esse luxo e aqui entrega seu melhor trabalho desde MUNIQUE (2005). Vale destacar também a 17ª parceria com o excelente diretor de fotografia Janusz Kaminski, que tem trabalhado com Spielberg desde A LISTA DE SCHINDLER (1993).

THE POST - A GUERRA SECRETA recebeu apenas duas indicações ao Oscar: filme e atriz (Meryl Streep).

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