quinta-feira, outubro 19, 2017

ENTRE IRMÃS

Um dos méritos do cinema de Breno Silveira é a sua vontade desavergonhada de emocionar a audiência, não importando o quanto isso resulte em um produto um tanto cafona. No entanto, nem sempre o cineasta consegue um bom equilíbrio, e às vezes pode acontecer de a história ter pouca substância ou de o roteiro não ser tão bem cuidado a ponto de prejudicar, e é o que temos, então, em ENTRE IRMÃS (2017), seu mais recente trabalho, algo que beira o novelão.

O que acaba por contar pontos positivos no filme é justamente o fato de termos um bom diretor e um par de protagonistas ótimas, que garantem momentos de boa dramaturgia. Nanda Costa e Marjorie Estiano, que interpretam as duas moças do sertão que são separadas de forma traumática e trilham caminhos bem distintos, são o que há de mais valioso em ENTRE IRMÃS. Principalmente Marjorie, que tem se revelado cada vez mais uma atriz impressionante. Seu papel recente em uma série da Rede Globo, SOB PRESSÃO, foi admirável, e dizem que ela está extraordinária em AS BOAS MANEIRAS, o novo trabalho da dupla Marco Dutra e Juliana Rojas.

ENTRE IRMÃS, ainda que seja mais irregular do que os trabalhos mais incensados de Silveira, é um bocado produto de sua passagem pelas locações em que trabalhou. Seu filme anterior, GONZAGA – DE PAI PRA FILHO (2012), o apresentou ao sertão nordestino, e sua vontade de contar uma história da época do cangaço em uma produção épica foi o que o levou a adaptar o livro A Costureira e o Cangaceiro, de Frances de Pontes Peebles.

Apesar de o título do livro enfatizar a história de amor entre uma das irmãs e o cangaceiro que a captura de sua família, Silveira preferiu contar as duas histórias em paralelo. No fim das contas, a história da outra irmã, Emília (Marjorie), tem mais força e desperta mais interesse do que a história de Luzia (Nanda), que por optar por uma versão "genérica" da história de Lampião e Maria Bonita, perde um bocado da força, por mais que seja compreensíveis as licenças poéticas, inclusive para ter menos preocupação com datas e eventos políticos.

Outro ponto positivo é o paralelismo entre as duas histórias, bem costuradas em uma edição que ainda tem o mérito de transformar um filme de quase três horas de duração em uma narrativa que parece ter uma hora e meia. Assim, quando vemos o insucesso de Emilia no campo sentimental, ao descobrir que o marido casou com ela por conveniência, vemos também o início de uma maior aproximação de Luzia com o líder dos cangaceiros, o Carcará (Júlio Machado). Há outro momento particularmente bonito, que é quando as duas jovens leem no mesmo jornal notícias sobre a irmã distante: uma na caatinga, vivendo como nômade e fora-da-lei, e a outra na alta sociedade do Recife. A história na capital, inclusive, ainda conta com a presença muito bem-vinda de Letícia Colin, vivendo uma amiga de Emilia.

Assim, por mais que Silveira não tenha conseguido atingir o grau de arrebatamento emocional de 2 FILHOS DE FRANCISCO (2005) e de À BEIRA DO CAMINHO (2012), duas obras que o elevam à categoria de mestre do melodrama, ENTRE IRMÃS tem sim as suas qualidades e merece ser visto com carinho, principalmente para quem não se importa em ver uma narrativa bem clássica e antiquada.

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