quarta-feira, julho 05, 2017

O TURISTA ACIDENTAL (The Accidental Tourist)

Considero 1989 o ano do início da minha cinefilia, quando comecei a ir ao cinema toda semana. Foi no início deste ano que comecei a comprar a então ótima revista SET – lembro da primeira que comprei, com o Clint Eastwood na capa, em uma matéria sobre o último filme da série Dirty Harry. E foi nessa época também que surgiram os candidatos ao Oscar, que pra mim foram marcantes até hoje, já que é a única edição que eu lembro de todo os candidatos à categoria principal. Junto com O TURISTA ACIDENTAL (1988), de Lawrence Kasdan, concorriam LIGAÇÕES PERIGOSAS, de Stephen Frears, MISSISSIPI EM CHAMAS, de Alan Parker, UMA SECRETÁRIA DE FUTURO, de Mike Nichols, e o grande vencedor da estatueta, RAIN MAN, de Barry Levinson.

O TURISTA ACIDENTAL era o único que eu não tinha visto por completo, mas tinha uma boa recordação dos trechos que vi numa madrugada na televisão. Vai saber o motivo de eu não ter tentado vê-lo integralmente até a noite de ontem. Mas, antes tarde do que nunca. E foi muito gostoso entrar nessa máquina do tempo e voltar a esse momento tão especial para mim e também ter a chance de ver mais um belo filme de Kasdan, um dos cineastas mais interessantes dos anos 1980, e também um grande roteirista, que é como ele costuma ser lembrado hoje.

O TURISTA ACIDENTAL é mais um acerto de um cara que começou chutando a porta na direção, com o neonoir quente CORPOS ARDENTES (1981), que também contava com o casal William Hurt e Kathleen Turner. Em O TURISTA ACIDENTAL, porém, a participação de Kathleen é bem menor do que se imagina, levando em consideração o nome dela aparecer em segundo lugar nos créditos, antes de Geena Davis, que aparece bem mais e que levou o Oscar de atriz coadjuvante. Aliás, foi um desses casos de atriz coadjuvante que não engrenou em Hollywood, por mais que neste filme sua personagem seja mesmo adorável em sua estranheza.

Temos aqui uma narrativa que fala de um casal que sofre há mais de um ano a perda do filho. O homem é um escritor de livros de viagem (Hurt). Logo no começo, ele sofre com a surpresa da esposa (Turner), que quer o divórcio, pois não consegue mais ver sentido na relação dos dois depois do ocorrido e depois que a depressão tomou conta dela. Ele fica sem chão, embora o personagem de Hurt já seja um tanto sem entusiasmo desde o começo da narrativa. Aliás, esse tipo de personagem costuma combinar com o ator.

O interessante de O TURISTA ACIDENTAL é que o filme não se atém a esse aspecto do fundo do poço dos personagens. Trata-se mais de uma história de reerguimento da vida de um homem, principalmente depois que ele conhece outra mulher (Davis), que é completamente o oposto dele, no que se refere a uma abordagem. Ela, com muito bom humor e bastante transparente; Ele, por sua vez, é o agente complicador da relação. Relação que fica mais bonita ainda quando entra em cena o filhinho dela.

Outra coisa bacana de assistir a esses filmes dos anos 1980 e 90 é ver alguns atores mais jovens. Aqui temos Bill Pullman, dez anos antes de estrelar a obra-prima A ESTRADA PERDIDA, de David Lynch. Em O TURISTA ACIDENTAL ele é o jovem editor que se apaixona pela irmã do personagem de Hurt. Vê-se, mais uma vez, que o filme brinca com essa coisa de unir tipos diferentes, saídos de realidades distintas, fazendo par com pessoas estranhas ou geralmente não muito benquistas por uma sociedade que vê mais a superfície. E o filme de Kasdan trata isso com tanta delicadeza que chega a encher o coração ver aquele final, tão sutil, mas ao mesmo tempo tão carregado de sentimento.

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