quarta-feira, maio 24, 2017

CÃES SELVAGENS (Dog Eat Dog)























Curioso o título brasileiro ter usado o adjetivo “selvagem”. Afinal, foi em CORAÇÃO SELVAGEM, de David Lynch, lá em 1990, que Nicolas Cage e Willem Dafoe fizeram sua parceria anterior, pra lá de memorável. Mas Dafoe era então um coadjuvante. Em CÃES SELVAGENS (2016), novo trabalho de Paul Schrader, ele está de igual pra igual com Cage, tão protagonista quanto ele. E enquanto Cage continua no piloto automático, mesmo que com um ótimo papel, Dafoe está brilhante.

Um dos aspectos mais admiráveis de CÃES SELVAGENS é o fato de nenhum dos três personagens, os ex-presidiários vividos por Cage, Dafoe e Christopher Matthew Cook, ser merecedor de nossa piedade. Também pudera, o que Dafoe faz com uma mulher logo no prólogo é algo tão brutal que não dá pra pensar nele em algo menos do que um monstro. O que acontece é que tudo é mostrado com muito humor, ainda que esse humor seja bem pesado.

Mas o que dá impressão é que seria necessário mesmo um cineasta da Nova Hollywood para fazer uma brincadeira tão pesada e sair no lucro. Schrader, brilhante roteirista, tem uma carreira como cineasta marcada por altos e baixos, e até uma aura de maldito. Fazia tempo que um filme do cineasta não pintava no circuito e desde o incidente envolvendo o prelúdio de O EXORCISTA, negado pelos produtores e lançado posteriormente em vídeo com o título de DOMINION – PREQUELA DO EXORCISTA (2005), que Schrader andava meio apagado dos holofotes, por mais que não tenha deixado de fazer e lançar filmes com uma boa regularidade.

Filme que se assiste com um sorriso de orelha a orelha (isso se você não ficar muito chocado com os personagens e as cenas), CÃES SELVAGENS também desperta umas boas gargalhadas, como na cena em que os três amigos resolvem sair, cada um, com uma mulher. E cada um em uma situação diferente. Todos eles, além de muito brutos e violentos, estavam desacostumados com o mundo exterior e acabam não sabendo aproveitar o prazer e a graça que o sexo oposto oferece.

Há quem vá achar tudo uma brincadeira de muito mau gosto, especialmente o duplo homicídio que abre o filme, mas a ideia talvez seja mesmo fazer uma obra em que o grotesco predomina, cujos exageros formais e narrativos andam de mãos dadas com seus personagens grosseiros, violentos e sem nenhuma esperança de conseguir um lugar naquele mundo estranho, depois de passarem tanto tempo atrás das grades. Se lembrarmos que Schrader é o roteirista de TAXI DRIVER (1976), podemos facilmente colocar esses novos personagens junto com o taxista psicopata do filme de Scorsese. Lembremos de sua cena levando a namorada para um cinema pornô. Mas, curiosamente, o roteiro é baseado em uma obra literária. Agora, cá pra nós, o que é aquele final, hein?

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