sábado, março 25, 2017

FRAGMENTADO (Split)























Muito bom poder estar vivo para testemunhar a volta por cima de M. Night Shyamalan no que se refere a sua popularidade, readquirida desde 2015 quando ele voltou de maneira mais discreta aos filmes de horror com A VISITA, uma produção de baixíssimo orçamento, mas que faturou muito bem e apareceu em várias listas de melhores do ano. FRAGMENTADO (2016) é claramente uma obra mais ambiciosa. Embora tenha custado apenas 9 milhões de dólares, trata-se de um filme que faz referência, já a partir do título, a uma obra dos tempos da alta popularidade do cineasta indiano, CORPO FECHADO (2000).

Antes de falar da trama propriamente dita, é bom deixar claro que a partir daqui não será possível fugir dos spoilers. Uma vez dado o recado, falemos com calma do filme. A história seria mais uma dessas sobre pessoas que são sequestradas e colocadas em um espaço fechado por um assassino serial. A diferença é que em FRAGMENTADO o psicopata é um sujeito com múltiplas personalidades. 24, sendo que a 24ª é uma espécie de monstro muitíssimo perigoso.

Em um papel arriscado e andando na corda-bamba no território perigoso do ridículo, James McAvoy encarna muito bem esse homem que muda de personalidade como quem muda de roupa. Aliás, a mudança da roupa é também crucial para que vejamos suas passagens de um personagem para outro, seja uma mulher, seja um garoto de nove anos.

Assim como em CORPO FECHADO, também somos apresentados a um protagonista e a um antagonista. No caso, se considerarmos Kevin (McAvoy) o protagonista, Casey (Anya Taylor-Joy, de A BRUXA), uma das três jovens raptadas, seria a antagonista. Ou vice-versa. O que importa é que temos acesso, através de flashbacks, ao seu passado na infância, e descobrimos que ela era uma garota que era abusada por um tio. Aos poucos, vamos percebendo que o repertório de vida traumática da garota será o que a tornará forte para enfrentar aquele psicopata, ao contrário de suas colegas da escola, que têm uma vida normal e são alheias aos perigos do mundo.

Shyamalan até já havia tratado a questão de viver em uma espécie de bolha na sociedade de maneira muito mais inventiva na obra-prima A VILA (2004), mas isso só o torna ainda mais capacitado para lidar com um filme como FRAGMENTADO. Desta vez sem medo de ser autorreferente, o cineasta injeta um pouco de humor de vez em quando, até para se resguardar um pouco se a obra se tornasse uma comédia involuntária, mas é a tensão que é o grande elemento presente. O suspense é comprado com muito prazer pelo público nesse formato até antiquado de narrativa. Sua capacidade de conduzir a audiência com interesse até o fim está mais uma vez presente, ainda que talvez haja algum problema de ritmo lá pela segunda metade do filme.

De todo modo, trata-se de uma das obras de horror mais importantes dos últimos anos, e ter a presença de Anya Taylor-Joy funciona como uma espécie de talismã para FRAGMENTADO, já que ela esteve presente no melhor filme do gênero do ano passado. Sem falar no quanto a atriz/sua personagem empresta força à história, com seu olhar expressivo. O que talvez incomode um pouco é o modo como a conclusão da trama se dá, por mais que ligue bem os pontos e seja coerente com o que tínhamos visto até então.

Os fãs de Shyamalan certamente vão ficar bastante animados com a curta cena final. Dependendo da sessão pode arrancar aplausos. É Shyamalan lembrando mais uma vez quem fez o melhor filme de super-herói do novo milênio e usando um recurso que os filmes da Marvel e da DC têm usado. E com a vantagem de estarmos diante de um autêntico filme de autor, feito por alguém que domina a técnica cinematográfica e filma com uma elegância de dar gosto.

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