quarta-feira, fevereiro 15, 2017
A QUALQUER CUSTO (Hell or High Water)
Um dos maiores méritos do bom cinema americano é saber ao mesmo tempo elevar e respeitar a sua cultura (e sua geografia), e também saber problematizá-la, mostrar os seus podres, seu lado mais questionável. A QUALQUER CUSTO (2016), de David Mackenzie, traz um pouco desses dois elementos, ao mostrar, dentro de uma bela paisagem de um lugar e de pessoas que remetem aos westerns, uma melancolia imensa.
Acompanhamos o drama de dois irmãos que tentam levantar um dinheiro, roubando determinada rede de bancos do estado. Filmes sobre roubos de bancos já tem uma longa história de sucesso no cinema americano, além de trazerem muita adrenalina para o espectador. Além do mais, muitas vezes nos colocamos no lugar dos bandidos, por mais desonroso que seja o ato.
Muitos bons cineastas, ao optarem por se aproximarem de figuras marginais, e de procurarem entender suas motivações, acabam nos arrastando junto. A QUALQUER CUSTO se divide um pouco, pois tenta nos fazer solidários tanto dos ladrões, vividos por Chris Pine e Ben Foster, quanto da dupla de velhos policiais, vividos por Jeff Bridges e Gil Birmingham, um ator que é, assim como seu personagem, ancestral dos índios comanches.
O fato de haver uma dupla formada por um caubói e um índio não deixa de ser curiosa, e o filme brinca muito com isso, ainda que de maneira amarga, ao final. Várias vezes somos lembrados ao longo da narrativa que aquele território ali foi de propriedade de um povo que perdeu tudo para os brancos. A presença do policial índio íntegro reforça o aspecto de que estamos vendo uma espécie de western, ainda que a quatro rodas.
Embora Jeff Bridges roube a cena como o velho policial texano, o foco da ação acaba recaindo para a dupla de irmãos assaltantes, que tomam o cuidado para roubarem pouco dos bancos, a fim de não pegarem cédulas que possam ser rastreadas. Mas, como em todo filme sério sobre roubo de banco, já sabemos que algo acaba em tragédia. Resta saber o quê, embora seja muito mais interessante ver o que o filme oferece nas entrelinhas de sua trama.
Como um filme sobre a depressão americana, em uma época recente em que o Texas passa por uma séria recessão, A QUALQUER PREÇO entra no clima e adota um tom de tristeza do início ao fim, por mais que não se deva esquecer da garçonete velhinha mais grossa do que o Seu Lunga, ou de cenas divertidas, como a do encontro com um comanche em um cassino, ou a de uma briga em um estacionamento. Para acentuar o clima, a trilha de Nick Cave e Warren Ellis funciona com perfeição.
A QUALQUER PREÇO recebeu quatro indicações ao Oscar: filme, ator coadjuvante (Jeff Bridges), roteiro (Taylor Sheridan) e edição.
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