sábado, janeiro 21, 2017

A MORTE DE LUÍS XIV (La Mort de Louis XIV)























Um filme que cheira à morte. Assim pode ser descrito o novo filme de Albert Serra, A MORTE DE LUÍS XIV (2016), que apesar de ser ou parecer um desafio para um público mais amplo, é tão fascinantemente mórbido que nos faz ficar até o doloroso fim, que já sabemos se tratar da morte do rei, que desde o começo da narrativa já aparece extremamente debilitado, reclamando de uma dor na perna.

Quem teve a paciência de ver até o final o primeiro filme de Serra, HONRA DOS CAVALEIROS (2006), certamente vai considerar A MORTE DE LUÍS XIV extremamente acessível. E de fato, o público fica até o final, apesar do andamento narrativo lento e da sensação de claustrofobia – a história se passa quase que inteiramente dentro do quarto de Sua Majestade.

E quem diria que Jean-Pierre Léaud, que será eternamente lembrado por seu papel como o inquieto e enérgico Antoine Doinel dos filmes de Truffaut interpretaria agora um homem velho em estado de lenta agonia. Além do mais, o fato de o rei ter um tratamento privilegiado torna sua decadência física ainda mais incômoda e escancaradamente visível. Ainda assim, vemos um pouco do orgulho do rei, em querer participar de uma missa ou de uma reunião importante, mas depois ele mesmo percebe que não tem condições de fazer alguma coisa a não ser ficar deitado em seu leito.

A MORTE DE LUÍS XIV é também um filme que se constrói com muitos silêncios e muitos sussurros. Léaud, como o rei, pouco fala, até porque não tem forças. Mas aqueles que estão monitorando e tentando salvá-lo da doença conversam o tempo todo sobre as possibilidades de cura, de tentar salvar a perna doente, de pensar na alimentação como possível inimiga da saúde etc.

E a linguagem narrativa de Serra em seu filme é tão impressionantemente realista que é quase como se estivéssemos ali pertinho do rei moribundo, aguardando como urubus o momento de sua partida final. E até recebemos um castigo, ao final, por isso, é bom lembrar. Mas, ao mesmo tempo que é realista na condução da dramaturgia, há todo um cuidado formal com a disposição da câmera, das cores (com destaque para o vermelho) na fotografia, e outros aspectos que valorizam a construção da imagem.

Não custa lembrar que Luís XIV é considerado o maior rei da França. Recebeu a alcunha de "Rei Sol" e reinou longos 72 anos, sendo que foi durante o seu reinado que o país chegou à liderança das potências europeias. Saber esses e outros detalhes é importante para situar a comoção que a morte do rei pode ter causado na época. Mas, mesmo não sabendo nada a respeito da história do rei, o filme de Serra tem uma força impressionante, com sua atmosfera lúgubre.

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