domingo, novembro 27, 2016

JACK REACHER – SEM RETORNO (Jack Reacher – Never Go Back)























Tom Cruise construiu uma carreira baseada na contínua alimentação de seu ego. Seus personagens, talvez todos ou quase, nunca passam por situações humilhantes ou coisa parecida, tendo sempre que estar belo, forte, ágil e também jovem. Em JACK REACHER – SEM RETORNO (2016), por exemplo, seu personagem tem 40 anos de idade, enquanto o astro já tem 54. Tudo bem que sua aparência é a de uma pessoa de 40 ou até menos, mas se a gente se lembrar de Clint Eastwood, e do quanto ele já fazia piada de sua idade quando tinha apenas 50 anos em BRONCO BILLY, por exemplo, vemos o quanto ambos os astros são diferentes em tratar a própria imagem. E citar caras como Mel Gibson e Sylvester Stallone, então, seria até covardia.

Talvez esse narcisismo e essa vontade de estar sempre no poder tenha sido o motivo de ele ter se afastado de diretores do primeiro escalão, com quem ele trabalhou do início de sua carreira até mais ou menos 2007, quando foi coadjuvante de um filme dirigido por Robert Redford (LEÕES E CORDEIROS). Ter que trabalhar com um orçamento um pouco menor e com diretores do segundo escalão lhe confere mais poder como produtor e menos atrito com cineastas com ideias muito particulares, e que certamente terão que lhe dar ordens.

Esse momento atual, se às vezes tem rendido filmes ótimos, como é o caso de NO LIMITE DO AMANHÃ (2014), de Doug Liman, na maioria das vezes resulta em trabalhos esquecíveis, como muito provavelmente é este segundo filme da franquia Jack Reacher, que, aliás, pode acabar neste segundo filme, por ser talvez o thriller de ação mais genérico que ele já realizou. Ainda assim, Cruise tem a sorte de poder contar com duas mulheres que ajudam a conferir algo a que a memória poderá se apegar: a primeira é Cobie Smoulders, parceira de porrada no jogo de gato e rato da trama, e a segunda é uma adolescente, a bem jovem Danika Yarosh, que contribui com a única cena terna do filme. E como é bem-vinda esta cena, hein.

A trama de JACK REACHER – SEM RETORNO, dirigido por Edward Zwick, começa um tanto apressada e confusa, com o protagonista mostrando que sabe das coisas para um grupo de homens da polícia que o cercam. Reacher, agora um ex-militar, retorna à base que ele serviu na Virginia, para levar uma major local (Smoulders) para jantar. Mas aí ele descobre que ela está presa, acusada de ter vazado informações confidenciais do exército. Daí ele resolve investigar por conta própria e também descobre que há uma garota que talvez seja a sua filha na jogada, além dos tradicionais inimigos que contribuirão para alguns bons e outros maus momentos de porradaria do filme.

Uma das melhores cenas de ação acontece nos telhados de Nova Orleans, lembrando, inclusive, UM CORPO QUE CAI, do Hitchcock, dando até um ar interessantemente anacrônico ao filme. Na maioria das vezes, porém, Cruise é salvo por Smoulders, que rouba as cenas sempre que está presente na ação. Assim como nos filmes de espionagem de Hitchcock, também, há que se dar pouca importância a certos detalhes relativos à trama. Mesmo levando isso em consideração, não deixa de ser no mínimo bem pouco convincente a cena em que Reacher desmascara o grande inimigo, vivido por Robert Knepper. Ou seja, quem acompanhou a série PRISON BREAK tem seus motivos para não levar a sério um filme que conta com um líder da vilania vivido por Knepper, que ficou marcado por seu papel como o bandido mais comparável a um rato dentre os fugitivos, o T-Bag.

Mas é a tal coisa: só o tempo dirá o quanto JACK REACHER – SEM RETORNO ficará marcado na memória da audiência: se como um filme de ação charmoso e irregular, mas com sequências bem legais, ou se como aquele filme estrelado por Cruise que mais parece um thriller genericão feito para a tevê, desses que passam no Supercine.

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